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Ilona Becskeházy

Ilona Becskeházy

Os gafanhotos e o esforço para derrubar a reforma do ensino médio de 2017

Militantes de esquerda exigem revogação do Novo Ensino Médio na Avenida Paulista. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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“Eles cobrirão a superfície desta terra em tal quantidade que não se conseguirá ver o chão. Devorarão o que escapou do granizo e ainda todas as árvores que crescem nos vossos campos. Invadirão os teus palácios e as casas dos teus servidores e as casas de todos os egípcios. Será uma calamidade tão grande que os teus pais e os teus avós nunca viram igual, desde que chegaram a esta terra até aos nossos dias.” (Êxodo 10, 5-6 )

Estamos ao final de três meses da tomada de poder pelos gafanhotos que, desta vez, ao contrário do que anunciavam os profetas da democracia, ocuparão com virulência e revanchismo todos os espaços de autoridade e exercício de agência, para que nunca mais haja troca nos comandos relevantes do país, além de dominar de vez corações e mentes com o mesmo propósito.

Vasta é a fome e a sede pelo poder, pelas vantagens pessoais e pelo domínio ideológico, porque não se pode cair na besteira de “repetir os erros do passado”, como já sabemos. Nenhum campo ficará de fora da sanha e educação é o campo de batalha imprescindível, porque conquistar esse território é garantir um futuro sem contestações e disputas custosas pela hegemonia estatal controlada por poucos e leais amigos.

Com base nessa lógica, os gafanhotos do poder não querem permitir que a reforma do ensino médio continue, mesmo já sendo uma lei (13415/2017) votada por ampla maioria em dezembro de 2016 (263 votos favoráveis e 106 contrários) a partir da Medida Provisória 746/16.

Como meus caríssimos e bem informados leitores já sabem, as políticas educacionais brasileiras são quase que certeiramente mal desenhadas e implementadas de modo ainda pior. Existem, sim, raras exceções, principalmente ao se levar em conta apenas um desses vieses: a referida Lei do Novo Ensino Médio é um exemplo de reforma bem desenhada e que alinha nossa política com a de países desenvolvidos. Só que, como quase tudo na educação, é pessimamente institucionalizada e incompetentemente transposta para escolas e salas de aula. É essa suposta fragilidade que está sendo explorada pelo furor gafanhotal nas últimas semanas (já tem outras na fila e vou relatar tudo para as senhoras e senhores aqui).

E por que a extrema esquerda não gosta da reforma?  Ganha um doce (o pessoal da Gazeta entrega) quem disser que é porque perdem poder. Um pouquinho só, mas quando se é extremo, nem um pouquinho se entrega ao inimigo, o qual, neste caso, somos nós: a sociedade brasileira e os alunos da última etapa da educação básica. Resumidamente, a reforma pressupõe três grandes motores de mudança:

1) o aumento da carga horária para o ensino médio das atuais 800 horas por ano para 1400, em um período paulatino de implementação que, em 2022, já deveria estar em 1000 horas por ano. Como a etapa, em geral, é composta por três anos, teremos um total de 4200 horas de exposição dos alunos a conteúdos e experiências de aprendizado (isso não incomoda a esquerda porque resulta em mais gente contratada pagando contribuição sindical – professores são muito mais sindicalizados que a média e pagam mais a contribuição ora optativa – mas aguardem novas manobras gafanhóticas nesse assunto); 

2) dilui a importância das disciplinas de Humanas no currículo porque, no artigo 3º, a lei diz que a) apenas 1800 horas – das 4200 totais, ou seja, até 43% do total podem ser cobertas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC, que contém todas as disciplinas, incluindo Humanas), além disso, b) durante os três anos da etapa, só é mandatório ensinar Língua Portuguesa, Matemática e Língua Inglesa, o restante do tempo – fora o que é obrigatoriamente ocupado pela BNCC – é usado para ensinar os tais “itinerários formativos” que englobam as mesmas áreas do conhecimento que a BNCC, mas que não precisam ser distribuídos da mesma forma. Ou seja, por exemplo, podemos ter escolas que aumentam mais o tempo na Matemática e Física que nas Humanas. Adivinhem que tipo de conhecimento o mercado de trabalho valoriza mais? Adivinhem que áreas serão mais demandadas? Acho que já deu para entender, mas tem mais! 

3) Aumenta também a ênfase em formação técnica e profissional (Halleluyah!), permitindo que os alunos usem sistemas de crédito para contar para aquisição de seu diploma, que professores possam ter formação alternativa, se provarem “notório saber” em área técnica e que as escolas e redes podem fazer convênios para aquisição de conteúdo à distância de entidades de fora do sistema educacional. Perceberam? Uma bomba atômica de liberdade de escolha diretamente nos interesses sindicais! E ainda tem uma cerejinha que é o reconhecimento do magistério em nível médio, para que os alunos que quiserem possam sair formados para dar aulas, o que é uma excelente maneira de preparar professores para educação infantil e elementar.

E por que a extrema esquerda não gosta da reforma?  Ganha um doce quem disser que é porque perdem poder. Um pouquinho só, mas quando se é extremo, nem um pouquinho se entrega ao inimigo, o qual, neste caso, somos nós: a sociedade brasileira e os alunos da última etapa da educação básica

Façam as contas aí: vai deixar de cair contribuição na conta do sindicato e vai diminuir substancialmente a ocupação dos alunos em aulas onde mais ocorre a lavagem cerebral para formar militantes na ideologia sindical, as matérias de Humanas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia). É só isso. A briga toda é apenas por esse espaço de coleta de recursos e influência ideológica.

Então, fiquem de olho nos argumentos falaciosos. Um deles é de que os alunos vão aprender menos e vão estar menos preparados para ir para a faculdade (e se eles quiserem parar no técnico, ou fazer o técnico antes da universidade? Melhor deixar eles mesmos escolherem, não?). Também tem uma frase de efeito para os alunos que não aceitarem ser dirigidos, mas serem dirigentes: “faz área de Humanas você vira dirigente (sindical, com sorte) rapidinho”.

Vi vários debates no YouTube e há um conto recorrente: a história do brigadeiro, que é de rolar de rir. Os alunos estariam deixando de aprender Física, Biologia e Filosofia para aprenderem a fazer brigadeiro gourmet! É o seguinte: as redes, que já eram péssimas, inclusive com falta de professores nas áreas de Exatas (porque os sindicatos não deixam pagar de acordo com a lei da oferta e da procura) dificilmente se estruturaram para atender às necessidades dos alunos, quer de matérias de Exatas, que leva a melhor remuneração no mercado de trabalho, quer de disciplinas profissionalizantes. O certo seria fazer um matching de demanda do mercado de trabalho com as escolas e proporcionar essas experiências de acordo, pois os alunos se manteriam mais engajados. Mas se as redes já eram incompetentes até para ensinar a ler, escrever e aritmética elementar, imaginem concatenar esse montão de novas variáveis!

Além disso, óbvio, está cheio de picaretas vendendo “projeto de vida” e uns cursos de baixa qualidade, tipo os que eles ofertavam para o FIES (no qual a esquerda não batia porque era do Haddad), ao invés de ensinar uma profissão ou habilidades que levem os alunos a uma vida mais produtiva no pós-escola.

No entanto, basta ler os livros didáticos brasileiros, assistir a umas aulas e ler trabalhos dos alunos para se perceber que o problema não é a reforma, mas a pífia capacidade instalada educacional que nós já tínhamos. Já era tudo muito ruim e de baixo nível antes, agora, pelo menos, há liberdade de escolher e, quando o aluno der sorte de cair na mão de um secretário de educação ou diretor de escola sério, terá à sua disposição um leque (a depender de seu contexto) de escolha bem mais interessante, pragmático e útil do que tinha antes.

Leitores, marquem seus deputados e enviem este artigo para eles! Deputados, a bola está em seu campo, favor não jogar o bebê junto com a água do banho. A reforma é boa, deixem-na como está e cobrem de seus governadores que busquem os melhores cursos profissionalizantes e opções relevantes para construir o Novo Ensino Médio para os alunos de seu estado! Pais, não caiam nessa e fiquem de olho no que a escola de seu filho oferece. Alunos, vocês não são trouxas: brigadeiro gourmet se aprende no Insta, de graça, procure saber o que o mercado de trabalho mais valoriza e cobre da sua escola. Não importa se você quer ir para a universidade, fazer curso técnico ou trabalhar, você tem direito a aprender o necessário para essas opções em sua escola e há muito mais do que as áreas de Humanas, que já estão mais do que saturadas de alunos entediados e formados desempregados.

Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

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