O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou uma pesquisa atrelada ao Censo 2010 que revela números preocupantes em relação à inclusão da pessoa com deficiência intelectual na escola. Mais de 80% dos 2,2 milhões de entrevistados autodeclarados deficientes intelectuais têm o ensino fundamental incompleto ou nenhuma instrução – em números absolutos, são 1,79 milhões de pessoas.
O estudo do IBGE revela ainda que 61,1% da população com 15 anos ou mais e que tem pelo menos uma deficiência não tem nenhuma instrução ou não completou o ensino fundamental. Este número cai para 38,2% entre os que declaram não ter nenhuma dificuldade.
Na pesquisa, foram consideradas as deficiências visual, motora, auditiva e intelectual, sendo as três primeiras divididas por grau de severidade. “A ‘mental’ já é considerada uma deficiência severa”, explica Andrea Borges, coordenadora do Comitê do Censo Demográfico do IBGE.
A inclusão da pessoa com deficiência na escola é sem dúvidas um grande desafio que envolve pais, alunos e todos os profissionais de educação envolvidos no contexto do aluno. Por causa da legislação que obriga as escolas a aceitarem qualquer aluno no ato da matrícula uma série de professores enfrenta questões completamente novas em sala de aula, para atender às demandas específicas de um aluno com deficiência e ao mesmo tempo dividir a atenção com o restante da classe.
Os números e até as definições do IBGE causam reflexão. Ao definir a deficiência intelectual automaticamente como uma limitação severa, estamos categorizando de maneira definitiva as possibilidades cognitivas de quem apresenta esse quadro.
Sabemos que há variações de um caso ao outro e não é possível colocar todas as deficiências intelectuais no mesmo grupo. Talvez esse seja o principal obstáculo para a inclusão educacional plena. Cada caso é um caso.
Há quem defenda que o resultado da pesquisa do IBGE tem como uma das causas a falta de escolas especiais, voltadas exclusivamente para esse público. Por outro lado, há quem defenda que a inclusão educacional poderia ter um empurrão com base na ação de professores, alunos e pais, todos em conjunto. Se optarmos por incluir alunos com deficiência em salas regulares, podemos encontrar as barreiras relacionadas à atitude dos educadores em relação à sala multi-contextual e até os outros alunos podem minar a iniciativa. Ou ainda, o aluno pode de fato não acompanhar o ritmo de aprendizagem do resto da turma.
Uma das educadoras que foi ouvida pela imprensa quando esse resultado foi divulgado comentou que a inclusão em salas regulares pode funcionar até uma determinada série, porque os colegas podem se tornar mais preconceituosos depois de ficarem mais velhos.
Se optarmos pelo uso exclusivo das salas especiais, estamos correndo o risco de não aproveitar plenamente o potencial cognitivo e social do aluno. Além disso, privamos os outros alunos da convivência com uma pessoa com deficiência, que tem vantagens singulares na formação de personalidades e no trabalho de preconceitos individuais.
Uma amiga minha, que é mãe de um rapaz com deficiência intelectual, comentou comigo um ponto muito interessante. Ela fez uma reflexão diferente, porque levou em conta o limite de independência global do próprio filho. O garoto estudou em sala regular até um certo ponto e a partir de agora eles estão em busca de uma escola especial. “Daqui pra frente eu sei que ele não acompanha, então vou trabalhar o cognitivo dele de outra maneira. O ensino convencional completo não serve para o meu filho”, ela me disse.
Na minha história a escola teve papel fundamental e a forma como a minha inclusão educacional aconteceu foi sólida e me dá referências até hoje. Eu estudei durante todo o Ensino Fundamental e Médio no mesmo colégio e dividi a sala de aula com as mesmas pessoas por mais de uma década. Isso fez com que eu formasse amigos para toda a vida e quem esteve mais próximo a mim assimilou as minhas limitações e possibilidades de maneira muito natural.
Hoje cada um dos meus amigos está em um ramo diferente. Quatro deles optaram por carreiras na saúde e três desses quatro trabalham atualmente com a inclusão de pessoas com deficiência.
Encontrei recentemente um depoimento publicado em um blog que achei interessante. Uma outra Andrea (Não a entrevistada) é mãe do Théo, um garoto autista, e é autora do blog Lagarta Vira Pupa. O blog dela é bem bacana, com diversas passagens das vivências dela com o menino Théo e um dos posts mais recentes fala sobre a inclusão educacional. A Andrea enumerou “10 coisas que seu filho ‘normal’ vai aprender da convivência com crianças especiais” e eu tomei a liberdade de compartilhar, reproduzindo o texto dela:
1. “Vai aprender a aceitar melhor qualquer tipo de diferença e vai se tornar uma pessoa menos preconceituosa;
2. Vai aprender a se colocar no lugar do outro por conviver com um coleguinha que tem dificuldades que ele não possui;
3. Vai aprender que comunicação vai muito além do falar : é feita de gestos, olhares e até de silêncios;
4. Vai aprender que pessoas com necessidades especiais não são vítimas: são heróis, porque tornam as outras pessoas melhores;
5. Vai aprender que a vida vale à pena apesar das dificuldades;
6. Vai aprender que estamos aqui para ajudar uns ao outros;
7. Vai aprender a ser flexível: não existe só um jeito de brincar, de desenhar, de ser;
8. Vai aprender a lidar melhor com suas próprias limitações…e a querer superá-las;
9. Vai aprender a dar valor às coisas pequenas;
10. Vai aprender que ele não tem que saber o que fazer o tempo todo, mas que ele pode sempre aprender.”
Conheça o blog Lagarta Vira Pupa. Clique aqui.
Qual é a sua vivência na inclusão educacional? Você é aluno? Pai, ou mãe? Professor? Compartilhe a sua história comentando o texto.