O título é uma provocação.
Será que todos os cadeirantes vão precisar exatamente das mesmas adaptações para serem incluídos? É possível que todos os cegos preferem ter ajuda exatamente com as mesmas coisas? Se uma pessoa é surda, significa que ela é muda? Todo o surdo lê lábios? Todo deficiente intelectual precisa estudar em escola especial?
A inclusão é muito complexa, porque cada deficiente tem demandas únicas, que não se aplicam necessariamente a outro deficiente. Eu e um paraplégico (alguém que não tem os movimentos dos membros inferiores) somos aparentemente muito parecidos. Nós dois somos deficientes, deficientes físicos e cadeirantes. Olhando um do lado do outro, você verá duas pessoas sentadas em uma cadeira de rodas e que têm basicamente o mesmo problema: não andam.
Por mais similar que seja, são mundos completamente diferentes. A maneira como um paraplégico se adaptou para trocar de roupa é diferente da minha, da mesma forma como ele pode precisar de adaptações no banheiro que eu não preciso. Ele pode ter uma força abdominal que eu não tenho, então faz movimentos de tronco que eu não faço. De uma pessoa para a outra você já encontra uma série de diferenças.
O fato da pessoa ser surda não significa que ela é muda. Ela pode ter problemas de audição, mas as cordas vocais funcionam normalmente. Vai depender muito também do grau de surdez, porque nem todo o surdo perdeu toda a sua capacidade de ouvir. Ele pode desenvolver a habilidade da leitura labial e com a ajuda de uma fonoaudióloga trabalhar a sua fala.
A mesma coisa vale para a cegueira. Nem todo o cego é completamente cego, há quem tem baixa visão. A necessidade de apoio também vai mudar muito. Podemos encontrar pessoas que sentem-se desconfortáveis em atravessar a rua sozinhas, então gostam de ter alguém que as acompanhe naquele momento. Ou que atravessam a rua numa boa e que queiram algumas dicas simples quando circulam por uma casa nova, em que não conhecem a disposição dos móveis.
As deficiências intelectuais estão longe de serem todas iguais. Cada uma tem características únicas e cada pessoa vai ter limitações diferentes da outra. Um aluno assim não necessariamente precisa estar em uma escola especial. Depende do acompanhamento que ele tem em relação aos conteúdos e se há, ou não uma defasagem em relação aos outros colegas.
E nós tivemos um caso de bastante sucesso recentemente. Kallil Assis, um rapaz com síndrome de down, conquistou uma vaga no curso de Geografia, na Universidade Federal de Goiás. Muito legal, não?
Se existem tantas características diferentes entre os deficientes, há algum momento em que todos eles ficam iguais? Quando as mesmas questões valem para todos? Existe algum grupo que pode apontar essas necessidades comuns a qualquer um?
Sim. O dos pais. Comento sobre isso amanhã.
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