O paranaense Flávio Peralta é hoje uma das principais referências nacionais em assuntos ligados à segurança do trabalho e à inclusão também. Chegando próximo à marca de 500 palestras ministradas nas mais diversas empresas, Flávio compartilhou a sua história com milhares de trabalhadores e promoveu reflexões não só sobre segurança do trabalho, mas sobre perseverança e resiliência.
Em 21 de agosto de 1997, Peralta foi chamado para fazer a troca de um transformador em uma chácara, nos arredores de Londrina, interior do Paraná. Assim que subiu na escada ele recebeu a descarga elétrica que saiu por seu pé direito e o fez desmaiar.
O Flávio recebeu uma descarga elétrica de 13.800 volts, em uma situação que poderia ter sido evitada, e como consequência do acidente, ele foi obrigado a amputar os braços. O próprio Peralta conta em detalhes no seu blog o processo de intervenção médica e de recuperação pelo qual ele passou. Foram 15 cirurgias, ao longo de meses de internação, passando por vivências de dor física insuportáveis.
Mesmo após a amputação, os braços de Flávio não estavam em condições de receber uma prótese, então grande parte dos processos cirúrgicos realizados teve o propósito de criar essa possibilidade. Ao ler o seu depoimento direto e verdadeiro, é impossível não se sentir mexido e impressionado. Dentre as operações realizadas, Peralta ficou com o seu braço anexado ao seu abdômen durante 30 dias, como recurso utilizado para que o braço ganhasse seis centímetros de pele. Não existe receita para suportar isso.
A saída do hospital não foi o fim do capítulo de recuperação. A rotina de palestras veio muito tempo depois, apenas em 2006. Entre 1997 e 2001, Flávio Peralta precisou viver o seu período de silêncio e reclusão, “assistindo televisão”, de acordo com Peralta. Durante esses quatro anos a sua renda veio por meio da aposentadoria por invalidez, até que em 2001 ele começou a compartilhar a sua história por meio do blog Amputados Vencedores.
Em 2001, Flávio casou-se com Jane, uma mulher que também teve uma vivência de acidente e recuperação. Em 1981, Jane sofreu um acidente de moto, em Umuarama, também no Paraná, e teve a sua perna direita gravemente ferida. Hoje Jane usa um aparelho ortopédico permanentemente.
O ano de 2006 foi a estréia das palestras do Flávio, que recebeu o seu primeiro convite de uma multinacional de Curitiba. Ao longo das 480 palestras ministradas, ele passou a dividir o trabalho com a esposa, que por vezes o acompanha nas falas, ou ministra a sua própria palestra, voltada à prevenção de acidentes de percurso.
O último feito de Flávio foi a publicação do livro Amputados vencedores – Porque a vida continua, em 2010.
De volta ao mito da superação
A história do Flávio e da Jane Peralta me fez lembrar de coisas que eu já comentei aqui no blog, no texto Os super-heróis dos deficientes. Nesse texto eu falei um pouco sobre um olhar bastante presente no senso comum da deficiência, que reforça a ideia de que os deficientes são um exemplo de superação. Falo também sobre a sensação que a público tem quando assiste a uma palestra sobre superação.
Eu defendo nesse texto o posicionamento de que as conquistas individuais da pessoa com deficiência nunca são mérito dela sozinha. A força de vontade, que todo mundo vê, vem do apoio de pessoas que convivem com esse deficiente. Em todos os momentos em que a inclusão acontece, a pessoa com deficiência é apenas um dos envolvidos. A sociedade toda faz parte dessa vitória.
A tal sensação depois de uma palestra é a de “Poxa, e eu aqui reclamando da minha vida. Eu poderia fazer mais e não faço”. Esse reconhecimento é muito importante, mas é apenas o início de uma mudança de postura efetivamente. Que tal se você além de perceber que poderia fazer mais, fizesse mais?
O Flávio e a Jane fazem esse convite de uma maneira notável. Eles usam a experiência que tiveram para incentivar que a sociedade assuma em conjunto a responsabilidade de prevenir acidentes como os que aconteceram com eles. Além disso, mantêm um espaço de discussão e apoio que conta com o patrocínio de uma das maiores empresas de próteses, órteses e cadeira de rodas do mundo.
Por fim, o site Amputados Vencedores divulga ainda outras histórias e outros blogs, que multiplicam esse debate e encorajam que outros deficientes quebrem o silencio e compartilhem suas ideias.
Valorize a eficiência da pessoa com deficiência. Reconheça-a como agente de mudança.
Para saber mais sobre a história de Flávio e Jane Peralta, acesse o site Amputados Vencedores. Clique aqui.
Para ler o texto Os super-heróis dos deficientes, clique aqui.
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