Na semana passada eu conversei com alguns amigos sobre a diferença entre nascer com uma deficiência e adquiri-la em algum ponto da sua história.
O meu caso é a primeira situação, me colocando então como uma pessoa com deficiência que não tem outro referencial de vida. Em momento nenhum da minha vida eu troquei um passo sem apoios, ou levantei da minha cadeira de rodas e sai correndo. Mas e o outro lado? Como lidar com uma nova realidade que invade a sua vida sem pedir licença e que pode ser uma condição permanente? É uma boa pergunta que não tem resposta exata.
Sem dúvidas etapas diferentes precisarão ser encaradas, começando pela internação, ou convivência com a realidade hospitalar. Depois de sobreviver a um episódio de acidente de trânsito, violência urbana, ou após o diagnóstico médico de uma adversidade na sua saúde que afetou as suas habilidades sensoriais, naturalmente amigos, familiares e a própria pessoa passarão por um momento de negação. A cura precisa chegar e a situação se reverter.
Depois de trabalhar a negação (cada um a sua maneira) é momento do reaprender. Pode ser reaprender algumas atividades pontuais, ou readaptar toda uma vida à nova condição. Nesse momento uma segunda onda de mobilização começa a tomar corpo. É hora de ampliar o circulo de pessoas que são afetadas, indo além da comunidade médica e familiares próximos. Profissionais das mais diferentes áreas da reabilitação, empresários, professores, vizinhos e amigos mais distantes. Esse é o momento em que todo mundo passa a perceber que aquele camarada nunca mais será o mesmo. Nem eles, se resolverem participar da inclusão conjunta.
Com a limitação bem incorporada, é momento então de encarar como o mundo ao redor da pessoa vai receber (ou não) essa nova condição. Voltar a estudar, retomar o mercado de trabalho, reatar relações com pessoas, voltar a desenhar projetos de vida: nada disso é simples, nem fácil.
Muitas pessoas com deficiência encontram energia e propósito se engajando em projetos ligados diretamente à inclusão. Existe um número expressivo de pessoas que passam a fazer parte de organizações, entram para movimentos políticos, passam a compartilhar a sua experiência de vida com outras pessoas, ou são convidadas para palestrar. Eu vibro com histórias assim, porque são respostas à limitação e ajudam a eliminar um preconceito frio, ignorante e persistente.
Depois de 30 anos convivendo com a minha deficiência, passei a olhar cada vez mais não para os limites que ela coloca diante de mim, mas para as possibilidades que eu tenho, exclusivamente porque ela existe. Pode parecer uma coisa sem lógica, mas para mim faz total sentido.
Como aproveitar uma situação que aparentemente só te tira coisas? Tira habilidades, tira movimentos, tira autonomia, tira rapidez, tira agilidade, tira características que te enquadram ao padrão de beleza e tira possibilidades para a sua vida.
Entenda que se você tem uma deficiência, você pode falar sobre um tema com uma propriedade tão grande, que dificilmente alguém não vai querer te ouvir. Você pode falar de você mesmo. Fale sobre como passou a ver o mundo e fale sobre como o mundo passou a te ver também.
No mês de setembro do ano passado, eu e um grupo de amigos resolvemos criar uma iniciativa que falaria sobre inclusão da pessoa com deficiência por meio de histórias em quadrinhos. Criamos os Super Normais, como uma ação divertida e despretensiosa. Compartilho essa jornada com Mirella Prosdócimo, Manoel Negraes e Rafael Camargo. Juntos somos empreendedores e bons amigos.
Conheça outras tirinhas:
Apostamos na viralidade das redes sociais e publicamos nosso material exclusivamente no Facebook. A resposta foi surpreendente. Ao longo dos seis primeiros meses de publicações, conquistamos mais de 1.100 seguidores, com uma média de 6 mil leitores alcançados semanalmente, tendo 92% do público que curte os nosso conteúdos compartilhando as tirinhas.
Depois de sentirmos a resposta do público, começamos a consolidar o motivo de criação dos Supers.
Ao usar o suporte das histórias em quadrinhos para debater o assunto, os Super Normais visam democratizar essa discussão, levando as questões ligadas à inclusão para qualquer ambiente de debate.
Além disso, a iniciativa traz uma abordagem mais holística em relação ao tema central, comunicando por meio dos seus conteúdos, que ao debater a inclusão da pessoa com deficiência, fala-se ao mesmo tempo de preconceito, respeito às diferenças, resiliência e muda-se culturas em relação aos padrões estéticos, à saúde preventiva, à relação entre pacientes e médicos, entre outros.
A nossa repercussão chamou a atenção da mídia, garantindo matérias nos principais veículos de comunicação do pais e ainda nos rendeu um convite para participar da Semana do Empreendedorismo do Sebrae.
Hoje estamos transformando os Super Normais em uma iniciativa de negócio, encarando nossas limitações e a forma que lidamos com ela como um diferencial de mercado de peso.
Para mim, os Super Normais é o um caminho que me leva ao entendimento e materialização do meu propósito de vida. Nasci prematuro de seis meses, então minha vida está atrelada a essa condição desde o primeiro dia. Motivo tem.
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