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Urbanismo

Cinema vivo: o patrimônio imaterial na cidade em movimento

A transformação de edifícios em espaços culturais, exemplificada pelo Cine Passeio em Curitiba, abre caminho para a requalificação das áreas centrais por meio da arte. (Foto: Daniel Castellano/SMCS)

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Com o avanço das tecnologias digitais e o surgimento de diversas plataformas de streaming, o consumo de conteúdo audiovisual passou por transformações significativas. Segundo o The Guardian, o número de usuários desses serviços tem crescido de maneira expressiva, superando o público dos cinemas tradicionais, o que levanta questionamentos sobre o futuro das salas de cinema físicas e qual será o seu papel na era do entretenimento digital.

As salas de cinema físicas desempenham um papel fundamental no contexto urbano, exercendo um impacto significativo no comércio local e contribuindo para o desenvolvimento econômico. Além de oferecer entretenimento, esses espaços atraem um público diversificado em busca de experiências completas, o que, por sua vez, impulsiona o comércio nas áreas circundantes. A preservação dessas salas de cinema vai além de uma questão cultural, sendo crucial para a vitalidade urbana e o bem-estar da comunidade como um todo.

Nas últimas décadas, houve uma notável mudança na localização das salas de cinema no tecido urbano, com a transição dos tradicionais espaços outrora ocupados ao longo das vias públicas para espaços comerciais, como shopping centers e galerias. Essa migração impacta de forma direta as dinâmicas das regiões centrais das cidades, agora pautadas pela preferência por espaços privados que, apartados da rua, não se comunicam com a mesma dinâmica com o entorno construído. A revitalização de edifícios com sua transformação em espaços culturais, como é o caso do Cine Passeio, em Curitiba, remete à possibilidade da requalificação de áreas centrais através da arte. São iniciativas que buscam criar novas sinergias em regiões que estão passando por processos de paulatino esvaziamento, nos centros das cidades.

Diante desse contexto, a mobilização social para preservar o patrimônio edificado e imaterial através da revitalização dos espaços de exibição ganha um significado ainda mais relevante. Essa mobilização representa um movimento de resistência, pautado pela valorização da autenticidade e da conexão humana com espaços coletivos que efetivamente possibilitem o encontro com a diversidade.

O conceito de herança transcende os objetos construídos, abrangendo diversos ritos e práticas relacionados aos edifícios e sua utilização. Nesse sentido, não se limita apenas à arquitetura e à história desses prédios, mas também se reflete nas memórias afetivas e nas experiências compartilhadas pelos seus frequentadores ao longo do tempo. Os cinemas de rua desempenharam um papel fundamental ao testemunhar momentos significativos na vida das pessoas, deixando uma marca indelével na memória coletiva e na arquitetura da cidade.

As dinâmicas da fruição da Sétima Arte são elementos intrínsecos do patrimônio cultural de uma comunidade, contribuindo para a continuidade de suas tradições e valorizando a identidade e a história locais. A cidade é uma herança deixada pelos seus habitantes para as futuras gerações, uma memória e riqueza coletiva. Ao valorizarmos esses espaços, estamos fortalecendo nossa conexão com o passado, nutrindo o presente e construindo um futuro que celebra e honra nossas raízes culturais.

* Arthur Cordeiro é urbanista na Jaime Lerner Arquitetos Associados, master em Advanced Architectural Design pela Universidade de Lund, na Suécia, e mestrando em Cinema na Unespar

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