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A desinformação é um problema para a democracia, e isso não é segredo para ninguém. O que ainda é objeto de discussão refere-se à maneira de lidar com ela ou combatê-la. Essa pauta causa muito desentendimento nas redes sociais, pois há um conflito na maneira como se entende o melhor caminho para tratá-la em um mundo cheio de tecnologias.
No primeiro momento, a supressão da informação parece ser a medida mais fácil e rápida. O pensamento é simples: se é mentira, não contribui para o debate público, e, na verdade, pode até prejudicar, logo, é permitida sua exclusão.
No entanto, o que essa lógica acaba ignorando são as nuances, por vezes complexas, presentes em nossas relações. O primeiro ponto é: isso de fato é mentira? Ou seja, aquilo que está sendo proliferado é uma afirmação falsa a respeito de um fato, ou é somente uma opinião?
A polêmica do Pix é um grande exemplo: o fato era que o Pix seria mais fiscalizado; a mentira era que o Pix seria taxado naquele momento. Mas além disso havia muitas opiniões que eram críticas à medida e, algumas, duvidavam se algum dia o Pix não seria taxado. Essa última, embora fosse opinião, acabou sendo enquadrada como fake news por alguns grupos.
O problema é que, no momento em que vivemos hoje, as opiniões críticas podem ser facilmente “confundidas” como fake news. Esse é o perigo de regular os conteúdos das redes sociais através de critérios amplos: opiniões divergentes podem ser excluídas do debate público e podem afetar a liberdade de expressão.
Um dos caminhos para mitigar esse viés é fomentar um conjunto de valores como tolerância e diálogo
As fake news sempre existiram. Algumas pesquisas apontam que, na média, uma notícia que não seja verdade pode ter mais apelo e isso tem um motivo chamado viés de confirmação. Isto é, conforme pesquisadores, nos tornamos mais susceptíveis a acreditar em notícias que colaboram com a nossa visão de mundo.
Esse viés piora ainda mais em uma sociedade polarizada como a nossa, uma vez que muitas vezes o grupo que possui opiniões e/ou valores diferentes são automaticamente vistos como inimigos, então, informações que colaborem com a visão desse grupo podem ser facilmente aceitas.
Diante disso, qual a solução? A desinformação é um problema complexo que demanda soluções complexas. Assim, um dos caminhos para mitigar esse viés é fomentar um conjunto de valores como a abertura ao novo, tolerância e diálogo, entre outros. O ensino de uma educação para a democracia ainda é escasso no Brasil, sem mencionar os baixos níveis da educação formal, como em matemática e língua portuguesa, que também afetam habilidades importantes como interpretação de texto e lógica.
No entanto, é somente através dessa educação completa, que é capaz de unir tantos fatores socioemocionais quanto formais, que podemos formar indivíduos capazes de ouvir, falar suas opiniões e refletir de maneira crítica sobre as informações que consomem.
De fato, o processo de fortalecimento dessa educação não é rápido, especialmente tendo em vista a maneira como a informação é consumida nos dias de hoje. No entanto, suprimir as informações do debate público tampouco é a melhor maneira de lidar com os desafios da desinformação. Informações falsas devem ser combatidas com mais informação. De forma simultânea, a educação, que tenha como base valores socioemocionais e democráticos, deve ser implementada.