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Considerações de um redator de bordões políticos (I)

Paulo (nome fictício) é assessor de comunicação de uma das coligações partidárias que disputam a eleição em Curitiba. Desde o início da eleição, produziu textos de dez, quinze e vinte segundos para dezenas de candidatos a vereador. Para alguns deles, foram dois ou mais textos, utilizados nas apresentações de rádio e tevê. Em outras palavras: muitas das esquisitices, bem como das boas sacadas que percebemos na programação eleitoral gratuita, são de sua lavra.

Ao entrevistá-lo, pode-se perceber a complexidade e o grau de stress associados à missão. Para produzir os textos – a identidade verbal dos candidatos na mídia eletrônica – ele precisou conversar rapidamente com cada postulante (quinze minutos, em média) e, na medida do possível, extrair a essência de seu ideário e torná-lo crível para o eleitor. Muitas vezes, além dos próprios candidatos, encarou mães, namoradas, maridos, advogados, amigos e marqueteiros, todos portadores de sacadas “geniais” e “infalíveis” para a performance midiática. O pai de um candidato, lembra, chegou à entrevista com o discurso 100% fechado (“meu filho quer ser vereador por isso e aquilo. E vai fazer assim e assado…e ponto final”), sem deixar espaço para que o próprio candidato (a essa altura do campeonato, sentado em um canto e amuadíssimo) dissesse alguma coisa.

Mais do que lidar com idiossincrasias pessoais, projeções de parentes e outras demandas, Paulo também se viu obrigado a gerenciar as escassas possibilidades do próprio discurso político em nossa realidade. Em quinze segundos é complicado ser um Demóstenes ou um Lênin, muito mais diante de um público que não se coloca, digamos assim, dentre os mais politizados do mundo. Além disso, diante das seguidas entrevistas – e de idéias muitas vezes semelhantes esboçadas pelos postulantes – a criatividade encontra um limite. “É simplesmente impossível produzir textos originais para todo mundo”, confessa. “Por mais que a gente risque palavras ou expressões que já foram usadas, sempre acaba usando de novo. Não tem como lembrar, nem como evitar. Os textos acabam ficando repetitivos.”

Nos corredores do estúdio de gravação, ele percebeu outro aspecto que o eleitorado desconhece, das relações travadas entre candidatos experientes e novatos. Segundo Paulo, vez por outra era possível escutar os “velhinhos” aconselhando os “novatos” a trocar o discurso bairrista por algo mais universal, mais “curitibano”, com o intuito puro e simples de apossamento da base eleitoral. Triste. Diante da experiência, o assessor chegou a algumas conclusões e a algumas dicas interessantes para candidatos e eleitores – elas serão apresentadas na coluna de amanhã.

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