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Na entrevista coletiva conjunta com o Coritiba, na sexta-feira (29), Mario Celso Petraglia demonstrou prazer especial por uma das oito prisões de cartolas da Fifa. “Esse senhor da Conmebol que hoje está preso nos tirou a possibilidade de vencer a Libertadores”, afirmou.

 

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“Esse senhor” é o uruguaio Eugenio Figueiredo, presidente da Federação do seu país e vice da Conmebol em 2005, ano em que o Atlético decidiu a Libertadores contra o São Paulo. Figueiredo foi o dirigente que – apesar de o Atlético demonstrar a segurança do seu estádio – bateu o pé para que a Conmebol fizesse cumprir o item do regulamento de exigia a final do torneio em estádios para no mínimo 40 mil torcedores. O Atlético ainda tentou atingir a capacidade exigida com arquibancadas tubulares, mas a Conmebol confirmou o jogo para o Beira-Rio antes mesmo da conclusão da instalação temporária. Nos anos seguintes, seja na Sul-Americana ou na Libertadores, a entidade abriu exceções ao regulamento.

 

Figueiredo é um dos dirigentes mais implicados na rede de corrupção desfeita pelo FBI. A começar pelo fato de ele não ser apenas um estrangeiro que usou os Estados Unidos para negócios ilegais. Ele é cidadão americano e mesmo o processo de aquisição dessa cidadania deve aumentar o tempo da sua pena.

 

Figueiredo prestou uma série de informações falsas e omitiu outras para tornar-se cidadão americano, processo desenrolado entre 2005 e 2006. Primeiro, ele disse que sua única atividade no país era a de trabalhar em uma loja de materiais de construção. Omitiu a filiação à Conmebol e a à Federação Uruguaia – é obrigatório relatar ao governo americano se o concorrente à cidadania fez parte de alguma associação dentro ou fora dos Estados Unidos nos cinco anos anteriores.

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O mais grave: apresentou uma atestado médico falso alegando demência. Assim, escapou da prova de língua inglesa e de conhecimentos cívicos.

 

A alegada “deficiência mental” para encurtar o caminho até o green card dava lugar a uma engenhosidade criminosa quando o assunto era dinheiro. Entre 2009 e 2014, Figueiredo apresentou informações falsas na sua declaração de renda. Ele puxava para baixo a quantidade de dinheiro que trazia para os Estados Unidos e não informava o dinheiro que tinha em contas bancárias no exterior. Nos dois casos, acabava sonegando impostos.

 

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A ação ilegal de Figueiredo ligada ao futebol também foi marcante. Presidente da Conmebol entre 2013 e 2014, o uruguaio fechou o maior esquema de propina já identificado nas contas da entidade: o contrato com a Datisa pelos direitos comerciais das Copas América de 2015, 2016, 2019 e 2023). O acordo todo contemplou US$ 110 milhões em pagamentos ilegais, sendo US$ 20 milhões de luvas e US$ 20 milhões por cada uma das Copas América.

 

Os US$ 10 milhões que fecham a conta foram pagos ao presidente da Concacaf pela Copa América Centenário, ano que vem, nos Estados Unidos. Figueiredo empenhou-se pessoalmente para a criação do torneio comemorativo. “Estamos orgulhosos de desenvolver um papel de liderança do centenário de um torneio que nasceu para unir a América… Agora a Concacaf e os EUA vão sediar o mais antigo torneio de seleções do mundo”, celebrou Figueiredo durante discurso, em 2013. Essas palavras constam do relatório do Departamento de Justiça dos Estados Unidos sobre o caso. O bolo de US$ 110 milhões negociado pelo uruguaio corresponde a cerca de 70% de toda propina encontrada na investigação.

 

Segundo as investigações, o gordo contrato de propina com a Datisa rendeu a Figueiredo US$ 6 milhões – metade pelas luvas e metade pela Copa América deste ano, no Chile. Na documentação disponibilizada pelo governo americano não fica claro se os US$ 9 milhões seguintes iriam para o bolso de Figueiredo ou do ocupante do cargo de presidente da Conmebol – desde março deste ano, o também uruguaio Juan Ángel Napout.

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No relatório emitido pelo Departamento de Justiça já constam sanções a que Figueiredo está sujeito além da prisão. Ele perderá qualquer veículo, bem ou propriedade adquirido com dinheiro ilegal. Também será monitorado se, ao longo do caso, qualquer uma dessas propriedades teve sua declaração de posse omitida, foi transferida, vendida ou desvalorizada como forma de enganar a Justiça.

 

Ou seja, Eugenio Figueiredo está enrascado. Algo para qualquer um que goste de futebol comemorar. Mas pelo histórico, os atleticanos foram lembrados por seu presidente que têm uma razão a mais para ficar satisfeitos com a prisão.