Ficou para depois da eleição a votação da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (LRFE). O projeto entra em plenário na Câmara no meio da semana que vem.
Os clubes já se articularam para que a lei avance no Congresso seja qual for o resultado da eleição de domingo. Se der Dilma, a aposta é no compromisso já assumido pela presidente de por a lei em vigor ainda este ano. Mesmo que fique para 2015, a reeleição de Vicente Cândido (PT-SP) e a entrada do ex-presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, como deputado federal dão segurança de que o projeto passará na Câmara.
Em caso de vitória de Aécio Neves, a aposta é no poder de articulação do deputado federal Otavio Leite (PSDB-RJ). Relator da LRFE, ele foi reeleito como um dos dez mais votados do Rio de Janeiro e tem sido atuante na candidatura tucana. Ele até participou, essa semana, de um debate na PUC-Rio como representante de Aécio.
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O Bom Senso FC publicou uma carta aberta aos candidatos Dilma Rousseff e Aécio Neves. Usando a derrota por 7 a 1 para Alemanha como mote, cobraram dos dois um compromisso público pela democratização da gestão da CBF. Os dois planos de governo são extremamente vagos quanto à administração do futebol brasileiro. O plano de governo de Dilma ainda faz uma breve menção à gestão do futebol. O plano de governo de Aécio, nem isso.
Abaixo, a íntegra da carta do coletivo de jogadores.
CARTA ABERTA AOS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
No ano em que o país recebeu a 20ª Copa do Mundo do Futebol, os 7 gols da Alemanha pintaram o retrato das décadas de autoengano que vive o nosso futebol. Na nossa própria casa, o visitante veio nos escancarar a enorme fragilidade daquele que, apesar de tudo, ainda é um dos nossos maiores patrimônios culturais.
Temos um ativo econômico, esportivo e cultural que, mesmo mal aproveitado, é altamente consumido. Aquilo que é sonho para tantas modalidades esportivas, é realidade para o futebol: temos tempo de exposição na TV e no rádio, patrocinadores nacionais e estrangeiros e, sobretudo, milhões de apaixonados que consomem diariamente esse produto. No entanto, paradoxalmente, essa alta demanda não resulta em desenvolvimento para as várias dimensões do futebol brasileiro.
Sabe-se que há muito tempo o futebol virou negócio, mas, no Brasil, um negócio bastante peculiar e cheio de contradições mal resolvidas. Vivemos aqui o amadorismo de carteira assinada. Embora o negócio movimente cerca de R$ 11 bilhões por ano, não se sabe para onde vai boa parte dos recursos. O que se sabe é que a gestão amadora não tem sido capaz de financiar o desenvolvimento desse esporte no país.
As contradições não param por aí. Mesmo em um cenário de aumento significativo de receitas, os principais clubes brasileiros foram capazes de aumentar em quase 100% suas dívidas nos últimos 5 anos, sendo que, apenas ao governo, eles devem cerca de R$ 4 bilhões.
Outro sinal desta situação esdrúxula e inaceitável — mas nem sempre evidente — é o futebol ter se tornado um problema social no país. Isso mesmo!
Em nenhuma outra categoria profissional, aproximadamente 80% de sua força de trabalho fica desempregada ou subempregada sistematicamente por 6 ou 7 meses ao longo do ano, sem que nenhuma atitude das autoridades públicas seja tomada. É inadmissível que isso ocorra em um país que se orgulha de ser a 7ª economia do mundo.
O que se observa hoje é consequência do acúmulo de descasos. Não podemos investir mais de R$ 50 bilhões do dinheiro público em Copa do Mundo e Olimpíadas para, em seguida, não nos comprometermos com um plano de política pública para o esporte. Ativa ou passivamente, o desenvolvimento do futebol passa pelas mãos do Poder Público. E a legislação esportiva tem grande influência sobre o atual estágio desse esporte.
A autonomia conferida às entidades que administram o esporte tem se mostrado contraproducente, criando um panorama engessado, dentro do qual a mera suspeita de renovação soa como desvario. Hoje, o futebol brasileiro é refém de um conjunto de estruturas arcaicas sem qualquer comprometimento com transparência, eficiência e participação democrática. São entidades que trabalham exclusivamente em favor da manutenção de seu poder. Não podemos aceitar estruturas fechadas, autoritárias e sem nenhuma legitimidade à frente do Esporte Brasileiro no século XXI.
A despeito da estranha tranquilidade dos responsáveis, a vergonhosa derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo é sim o resultado de anos de negligência com esse esporte. Deixando aqui registrado que, apesar do grande alvoroço diante da derrota histórica, até o presente momento nenhum responsável se incomodou ao ponto de apresentar uma solução, considerando o episódio uma mera fatalidade.
Por isso que nós do Bom Senso Futebol Clube, movimento que reúne mais de mil atletas profissionais em luta por um futebol melhor e que já conta com o apoio de inúmeros setores da sociedade, pedimos, através desta carta aberta, o compromisso explícito dos senhores, atuais candidatos à Presidência da República, com as bandeiras de reforma e democratização das entidades que administram o futebol brasileiro.