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Em meio a políticos, cartolas e naming rights, só Mané Garrincha tem nome de boleiro

Mané Garrincha visto a partir da Torre de TV, um dos cartões postais de Brasília. (Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo) (Foto: )
Mané Garrincha visto a partir da Torre de TV, um dos cartões postais de Brasília. (Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo)

Mané Garrincha visto a partir da Torre de TV, um dos cartões postais de Brasília. (Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo)

Em uma Copa onde os nomes de estádios mesclam a moderna caça por naming rights e o velho hábito brasileiro de homenagear políticos e cartolas, o palco do terceiro jogo da seleção na Copa surge como um foco de resistência. Brasília é a única cidade a abrigar uma arena que carrega o nome de um jogador: Mané Garrincha. Entre as demais sedes, reinam o velho hábito nacional de dar o nome de estádios públicos a políticos e a homenagem de clubes a abnegados que ajudaram a por a casa da agremiação em pé.

Veja a história do nome de cada estádio do Mundial.

 

Os biônicos

Magalhães Pinto (Mineirão)

Governador de Minas Gerais entre 1961 e 1966, foi um dos principais apoiadores da deposição do presidente João Goulart, no Golpe de 64. Foi ministro de Relações Exteriores do governo Costa e Silva (1967 a 1969), quando apoiou a instauração do AI-5, marco do período de maior repressão durante a ditadura. Foi senador por oito anos (1971 a 1979) e presidente do Congresso por outros três (1975 a 77).

 

Plácido Castelo (Castelão)

Tinha extensa carreira política no Ceará quando o regime militar o agraciou com a prefeitura de Fortaleza e o governo do estado, entre 1966 e 71. Foi nesse período que ordenou a construção do Castelão, inaugurado com seu nome dois anos depois de ele deixar o cargo de governador.

 

José Fragelli (Arena Pantanal)

Demolido para dar lugar à moderna Arena Pantanal, o velho Verdão homenageava o seu idealizador. José Fragelli governou o estado do Mato Grosso entre 1971 e 1975. O estádio começou a ser construído sob seu mandato, com apoio do então presidente da CBD, João Havelange. O custo de 1,2 milhão de cruzeiros, adquiridos com a penhora ao Senado Federal de 2 milhões de hectares no norte do estado. A inauguração só aconteceu em 1976, com Fragelli já fora do governo. Entre 1985 e 87, após a ditadura, Fragelli presidiu o Senado e chegou a assumir interinamente a presidência da República durante viagens de José Sarney ao exterior.

 

Os políticos

Octávio Mangabeira (Fonte Nova)

Ministro do governo Washington Luís e membro da Academia Brasileira de Letras a partir de 1930, foi o primeiro governador da Bahia após a Era Vargas, entre 1947 e 51. No último ano do seu mandato a Fonte Nova foi inaugurada – e batizada em sua homenagem.

 

Vivaldo Lima (Arena da Amazônia)

Fundador do Nacional e do Fast, dois tradicionais clubes de Manaus, era deputado federal quando morreu, em 1949. Em 1970, após uma construção que durou 12 anos, foi inaugurado do Estádio Vivaldo Lima, em homenagem à sua contribuição para o esporte local. O estádio foi fechado e demolido em 2010 para dar lugar à Arena da Amazônia.

 

O entusiasta

Mario Filho (Maracanã)

Irmão de Nelson Rodrigues e diretor do Jornal dos Sports, o jornalista Mario Filho foi o grande defensor da construção de um estádio municipal no Rio de Janeiro para a Copa do Mundo de 1950 no bairro do Maracanã. Travou duros embates com o vereador Carlos Lacerda, que queria o estádio em Jacarepaguá. Morreu em 1966 e, meses depois, o estádio erguido no lugar onde ele queria ganhou seu nome.

 

Os construtores

Joaquim Américo Guimarães (Arena da Baixada)

Fundador do Internacional, precursor do Atlético, em 1912, trabalhou duramente para construir o primeiro estádio de futebol do Paraná. Conseguiu dois anos depois, quando alugou por dez anos uma chácara da família Hauer, no Água Verde, e fez ali um campo e uma arquibancada. Morreu em 1917, sete anos antes da fusão entre Internacional e América que deu origem ao Atlético. Em 1933, o clube conseguiu a posse definitiva do terreno e, no ano seguinte, batizou o estádio com o nome do precursor.

 

José Pinheiro Borda (Beira-Rio)

Português, desembarcou no Brasil em 1929 e logo aproximou-se do Internacional. Em 1957, como presidente do Conselho Deliberativo colorado, assumiu a Comissão de Obras do novo estádio do clube. Morreu em 1965, quatro anos antes de o Beira-Rio ser inaugurado com o seu nome.

 

Os neutros

Arena Corinthians

Nunca um estádio sem nome causou tanta polêmica por causa do seu nome. Itaquerão já caiu na boca do povo. A Fifa registrou Arena São Paulo nos ingressos. E o Corinthians insiste em Arena Corinthians. Tudo para facilitar a substituição pelo nome de uma empresa. O clube espera fechar o naming rights da sua casa após a Copa.

 

Arena Pernambuco

Não durou seis meses com o nome neutro. No fim do ano passado, o Grupo Petrópolis adquiriu o naming rights do estádio de São João da Mata. A Itaipava, porém, teve de sair de cena durante a Copa. Para a Fifa, é só Arena Pernambuco.

 

O boleiro

Mané Garrincha

Visão interna do Mané Garrincha, o estádio que a Fifa quis rebatizar dentro do asséptico padrão das novas arenas. (Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo)

Visão interna do Mané Garrincha, o estádio que a Fifa quis rebatizar dentro do asséptico padrão das novas arenas. (Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo)

Construído nos anos 70, o estádio brasiliense não nasceu já com o nome do bicampeão mundial. Entre a inauguração em 1974 e meados da década seguinte, o local se chamava Hélio Prates da Silveira, alusão ao governador do Distrito Federal, dono da praça de esportes, na época. Acabou rebatizado após a morte do ex-jogador.

 

Por pouco o Mané Garrincha não foi mais um estádio “neutro” do torneio. Antes da Copa das Confederações, foram espalhadas por Brasília placas com o nome Estádio Nacional de Brasília. A alteração revoltou a população local e fez com que o governo do Distrito Federal pedisse à Fifa, formalmente, que fosse usada a nomenclatura oficial, com a homenagem ao ex-jogador.

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