A reunião que encorpou a criação da Liga Sul-Minas, hoje, em Curitiba, já pode ser considerada histórica. Primeiro porque reforça a caminhada dos clubes para assumir o controle do próprio nariz, trocando os estaduais por uma competição mais forte tecnicamente e financeiramente rentável. Segundo porque finca um estaca na alma das federações envolvidas, que teriam nas mãos, na melhor das hipóteses, um estadual menor com os principais clubes desinteressados.
Como já era previsível – e escrevi a respeito em algum momento -, a criação da liga ganhou corpo quando os dois principais players deram o ok: a televisão, que é quem paga, e a CBF, que é quem precisa reconhecer o torneio para encaixá-lo no seu calendário e validar os contratos dos jogadores perante a Fifa.
Mesmo os clubes que ainda não aderiram vão acabar se juntando a quem está no barco. Refiro-me diretamente a Grêmio e Internacional, os dois gigantes da “região” ausentes da reunião. Quando a bola começar a rolar, é provável que eles e não a dupla Fla-Flu estejam dentro de campo.
A presença de Flamengo e Fluminense na reunião parece muito mais uma forma de pressão sobre a Federação Carioca, com quem a dupla vive às turras. Ainda assim, se seguirem até o fim, embora descaracterize qualquer identidade regional do torneio, os cariocas tornarão a liga mais forte tecnicamente e atrativa comercialmente. E sem uma região para empacotar no nome, o torneio ganha uma enorme possibilidade de nascer com naming rights e ser dar opção para nomes fantasia.
Quem, obviamente, não está achando nenhuma graça são as federações. Como escrevi no início, na melhor das hipóteses as federações envolvidas ficam com estaduais esvaziados para administrar. Na prática, é a assinatura de uma sentença de morte. Legalmente, as ligas podem constituir tribunais desportivos próprios e assumir o registro de jogadores.
Como haverá acesso via estaduais ao torneio, mesmo que de alguns participantes, um passo natural é a liga assumir estes estaduais, transformá-los em uma espécie de divisões de acesso regionais. Sobraria um papel ainda mais secundário para as federações. Se tornariam entidades totalmente dispensáveis, com futebol profissional sob o comando da liga e as competições amadoras podendo se organizar sob o mesmo formato.
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