O nada tranquilo ambiente político do Coritiba levou mais uma sacudida esta semana, com o vazamento de um áudio de WhatsApp do vice-presidente André Macias. Em pouco menos de um minuto, ele fala de como a diretoria atual recebeu o clube, faz um diagnóstico do time e pede paciência. Seguem os melhores momentos. Comento no pé.
“Pegamos o clube com 220 milhões de dívida, três meses de salário atrasado, o Alex desde agosto sem receber e 13º”
“O time está uma merda, uma lástima, salário em dia e a cada dia chega uma surpresa nova de uma execução. Tá uma bosta e terceirizamos o time para o Pedroso”
“Vamos arrumar a casa, mas não tem como fazer milagre. Tem que ter paciência, calma”
“Quem está pagando o pato somos nós. Eu sou torcedor que nem você… Eu acumulo uma vice-presidência. Você acha que é fácil? É, ninguém tá feliz”
Primeiro ponto a dizer é: impossível negar uma letra do que foi dito por Macias. A condição financeira em que o clube estava na virada do ano é conhecida de todos. O desempenho do time fala por si só. O ex-vice-presidente Ernesto Pedroso recebeu carta branca para montar o time nessas condições de recursos escassos. A casa precisa ser arrumada. E quem paga o pato, efetivamente, é quem está na diretoria. Um retrato fiel do Coritiba atual, que talvez incomode exatamente por isso: ser um diagnóstico sincero, sem discurso combinado com assessor, do 1º vice-presidente do clube.
Ok, mas alguns pontos precisam ser ponderados. O G-5 eleito estava no Conselho Deliberativo ano passado, então tinha a dimensão exata do pepino que deveria descascar caso vencesse a eleição.
A “Coxa Maior” foi formada a partir da junção de três grupos distintos de oposição a Vilson Ribeiro de Andrade. Para se juntar, os grupos fatiaram a administração do clube. O futebol foi entregue a Pedroso conscientemente pelos demais integrantes do G-5. Então tanto Macias como seus colegas tinham consciência do que estavam fazendo e deveriam contar com a possibilidade de dar errado – como deu. Aliás, é preciso ser justo: Macias não parece estar se esquivando ao falar do processo de montagem do time, apenas constatando como as coisas aconteceram, fazendo um mea-culpa.
Aí, passamos ao juízo de valor sobre o time. Macias fala como torcedor e hoje são poucos coxas-brancas que discordam do que ele disse. Mas, obviamente, não dá para dissociar as figuras do torcedor e do vice-presidente. Então, por um lado, cria um mal-estar entre um vice-presidente e o elenco. Por outro, é um vice-presidente que não mexe com o futebol nem entra no vestiário. O efeito, na prática, é quase nulo.
Chegamos ao pedido de paciência ao interlocutor – mas que se estende à torcida. É um pedido condizente com o momento do clube, mas que deveria ser feito com clareza lá atrás, na campanha, e repetido com todas as letras na posse – o que acabaria custando alguns votos. Foi tomado o caminho oposto. Houve uma reunião de campanha em que o grupo falou que não poderia prometer título em 2015 – o que, para todos os efeitos, englobaria até estadual. Depois o grupo apressou-se em corrigir que não poderia prometer nenhum título nacional. Um reparo desnecessário diante da repercussão negativa, querendo vender ao torcedor um tamanho que hoje o Coritiba não é capaz de ter.
Como diagnóstico em forma de desabafo, o áudio é precioso. Mas é indispensável que tanto Macias como seus pares tenham consciência de que o primeiro ataque aos problemas do clube feito pela atual gestão foi malsucedido – e todos eles têm culpa disso. E de que por mais que o buraco seja fundo, o Coritiba precisa começar a escalá-lo rapidamente. Se for apenas um apontar de dedo para os erros dos outros, o torcedor pode ter uma certeza: o sofrimento está só começando.