A renúncia de Ernesto Pedroso oferece dois ângulos nítidos para análise.
O primeiro é do esfacelamento do G-5 eleito em dezembro. Ricardo Guerra já havia saído em maio. Gilberto Griebeler, que na prática nunca esteve no Conselho Administrativo, formaliza sua saída junto com a de Pedroso, seu parceiro político no clube e amigo fora do futebol. Restam o presidente Rogério Bacellar e um dos vices, André Macias.
O segundo é a demonstração de força do Conselho Deliberativo alviverde. O abaixo-assinado pela saída de Pedroso surgiu dentro da ala de situação, eleita junto com ele. Mas teve adesão entre oposicionistas. Para não ser “enxovalhado” (palavras usadas por ele), Pedroso renunciou.
“Esse Conselho Deliberativo do Coritiba é o mais rigoroso da história do clube. Não brinca em serviço, não aguenta assistir de camarote”, afirmou ao Intervalo Pierpaolo Petruzziello, presidente do Deliberativo e uma das figuras centrais do grupo político que Pedroso acusa (sem citar nomes) como responsável pela pressão para derrubá-lo.
Petruzziello nega qualquer pedido do grupo pela saída de Pedroso – de quem diz gostar muito e com quem tem bom relacionamento. Mas admite que diante dos maus resultados, alguém acabaria pagando, e que criam-se as condições para um grupo hegemônico ocupar as cadeiras do G-5.
O Pedroso renunciou ao saber de um abaixo-assinado dentro do Conselho Deliberativo pela saída dele. Você sabia dessa mobilização?
Fiquei sabendo do abaixo-assinado, que estava na secretaria do clube, mas não recebi nada oficialmente. Soube que havia uma mobilização tanto da oposição e, principalmente, da situação pela saída dele.
O Pedroso aponta o grupo político do qual você faz parte como responsável pela saída dele e do Guerra.
Ele cita nomes?
Não. Mas a chapa foi eleita com três grupos. O Guerra saiu. O Pedroso saiu e diz que o grupo responsável pelas duas saída foi o mesmo.
Não. De forma nenhuma. Quando você assume uma candidatura, você assume um compromisso. O Guerra saiu e nem me avisou. Nós não somos amigos e ele não me disse por que estava saindo. O Pedroso, não. Ele é meu amigo, uma pessoa a quem respeito muito, amanhã vou ligar pra ele para saber o que aconteceu. O que acontece é que o Conselho estava insatisfeito com os resultados e se mexeu, é um grupo que tem voz ativa – e isso acaba atingindo um ou outro. Futebol é resultado e alguém tem de pagar. Atribuir a um grupo é pesado. Todos nós fizemos oposição ao Vilson.
Houve algum pedido do seu grupo pela saída do Pedroso?
Não vi ninguém pedir a cabeça do Pedroso internamente. Vi na crise as pessoas buscarem alternativas, mas nenhuma delas passava por pedir a cabeça do Pedroso.
Houve um pedido para que o futebol não ficasse centralizado no Pedroso?
Isso houve. E a partir daí montou-se uma comissão com o Pedroso, o Pierre (Boulos, vice-presidente que substituiu Ricardo Guerra) e o Arthur (Klas, conselheiro).
Qual o tamanho do prejuízo de o G-5 eleito mal durar um semestre?
Toda vez que sai uma notícia negativa sobre o Coritiba o prejuízo é grande. Há um prejuízo porque agora vai se falar da renúncia do Pedroso. O Coritiba precisa parar de sangrar. O formato de G-5 é ultrapassado. Não vai terminar nunca [o mandato]. É preciso ter a noção que o clube é maior que o Guerra, que eu, que o Pedroso. Uma coisa é muito clara. Esse Conselho Deliberativo é o mais rigoroso e atuante da história do clube. Não brinca em serviço, não aguenta assistir de camarote.
Sem os grupos do Guerra e do Pedroso, a tendência é ter um grupo hegemônico dentro do G-5?
Vamos ter um grupo mais homogêneo, mas não necessariamente que siga as mesmas ideias. A preocupação de todos é fazer com que o projeto da campanha seja cumprido. O importante é pensar no Coritiba daqui a dez anos, no futuro que vamos construir.
Não há um choque entre falar que futebol é resultado e que é preciso pensar o Coritiba daqui a dez anos?
Há um choque. É preciso explicar ao torcedor o que está acontecendo de verdade no clube, o torcedor saber a situação e a dificuldade do Coritiba. Este é um ano difícil.