Salve, meus amigos. Fim de férias para o Intervalo. 2015 está só começando e nos veremos muito por aqui. Como o ritmo ainda é de pré-temporada, começo resgatando um texto de quase um ano atrás, do finado Bola no Corpo, mas bem propício para este período de agitação no mercado. Coritiba e Atlético estão de olho no mercado sul-americano (o Paraná, embora não tenha pipocado nenhum nome no noticiário, provavelmente também). Uma ótima saída para trazer bons jogadores que estão fora do radar, por um preço mais camarada e com a possibilidade de acrescentar ingredientes em falta no pé de obra nacional. Mas será que seu time está tomando os devidos cuidados para não importar um bonde? Levantei seis questões cruciais para você o seu dirigente se fazer – e você fazer ao dirigente do seu clube – antes de o clube trazer alguém de um dos países vizinhos.
1 – Eu posso dar o tempo necessário de adaptação ao jogador?
Quem já morou fora da própria cidade sabe que é necessário um tempo para se adaptar à nova casa. Costumes, caminhos, vizinhos, ritmo de vida, tudo muda, sem falar na distância de parentes e amigos. Imagine tudo isso potencializado por uma função em que seu trabalho é avaliado publicamente, em sua maioria por gente que diz: “Ele ganha bem. Quero ver se adaptar a acordar 6 da manhã e pegar três ônibus pra passar oito horas por dia apertando parafuso”. Vários clubes não têm essa paciência ou precisam de uma solução imediata que nem todo o jogador é capaz de dar sem se encaixar totalmente na rotina do novo país. Um ótimo exemplo é Conca. Seu primeiro ano no Brasil, com a camisa do Vasco, foi ruim. Na temporada seguinte, já pelo Fluminense, rapidamente ganhou espaço no time e virou ídolo da torcida.
2 – Se esse cara é tão bom, por que não está na Europa?
Se o mercado sul-americano é bom para quem paga em Real, imagine para quem paga em Euro. Ainda mais para jogadores (especialmente argentinos, uruguaios e chilenos) que costumam se adaptar mais facilmente que os brasileiros ao ritmo de vida e jogo do europeu. É mais fácil – ou menos difícil – um clube brasileiro chegar antes a um bom garoto dos países vizinhos, simplesmente porque ele pode ainda não ter entrado no radar dos europeus. Quanto mais velho o jogador fica, maior a chance de trazer um bonde. Neste caso, é preciso critério e profundidade na observação (leia o próximo tópico) para separar os bondes de jogadores que podem até não ser bons o bastante para a Europa, mas são capazes de resolver os problemas de um clube brasileiro.
3 – Meu departamento de futebol observou esse cara direito?
O Corinthians observou Defederico por DVD e contratou um mico argentino. O Atlético foi a Montevidéu buscar Martinuccio e, por indicações, chegou a Morro García. Iberbía tem o mesmo empresário que Bottinelli. São muitos os casos de clubes brasileiros que contrataram um bonde que fala espanhol por não fazer direito a garimpagem. O negócio é ralar na observação e investir. Há serviços sofisticados de scouting eletrônico, que permitem assistir a horas de partidas na íntegra do mesmo jogador. Um trabalho que precisa ser complementado por informações de fontes confiáveis (o que exclui empresários, invariavelmente pensando em vender seu peixe) e uma boa olhada de perto. Ainda assim, pode dar errado. Mas o risco é menor.
4 – Não estou contratando esse cara só porque ele tem raça?
Outro erro comum é rodar o Mercosul (Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai) atrás de jogadores raçudos. Essa tara aumenta quando o time vai jogar a Libertadores e se baseia na premissa de que o torneio sul-americano é viril e varonil demais para os artísticos jogadores brasileiros. Raça é sempre bem-vinda. Não só dentro como fora de campo. Argentinos e uruguaios costumam ainda ser mais politizados e aglutinadores que os brasileiros, o que pode se tornar um pepino para os cartolas. Mas eleger a raça como prioridade, não acessório, aproxima seu clube de contratar um Escudero ou um JJ Morales.
5 – Não estou contratando esse cara só porque ele fala espanhol?
Outro pecado comum e ultrapassado cometido por quem vai jogar Libertadores. A selvageria que dominava a Libertadores até meados dos anos 80 criou a ideia de que havia um complô continental para evitar que times brasileiros conquistassem o torneio. E alguém bolou a brilhante solução de que ter “um deles” no time ajudaria a manter um contato com a arbitragem, quase um processo civilizatório às avessas. Um exagero, levando em consideração que o Flamengo de Zico venceu uma Libertadores sem estrangeiros, exatamente como o São Paulo de Telê (duas vezes) ou o Galo de 2013. O idioma mais eficiente dos gramados continua sendo o bom futebol.
6 – Não tenho um jogador melhor na base?
Quem levantou essa questão foi o Cleocir Santos, auxiliar técnico do Cruzeiro, em entrevista à rádio 98 FM, no fim de 2013. Muitas vezes no desespero de buscar jogadores no mercado sul-americano, os clubes brasileiros acabam esquecendo de olhar para o próprio quintal. O resultado é um gasto desnecessário em um estrangeiro que não dá resultado e acaba barrando o evolução de um garoto já adaptado ao clube e cujo custo foi diluído no departamento de formação.
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