• Carregando...
A bicicleta no debate eleitoral de Curitiba (uma análise parcial)
| Foto:
Montagem: arte de James sobre urna eletrônica
Bicicleta já é parte dos discursos e planos dos pré-candidatos à prefeitura de Curitiba.

A bicicleta está ajudando a pautar as discussões sobre o futuro da nossa cidade. A mobilidade urbana foi o tema do primeiro bloco no debate entre os candidatos à prefeitura de Curitiba, realizando na noite desta quinta-feira (2) pela TV Bandeirantes e, ao lado da questão do polêmico metrô curitibano, a bike foi o tema central da primeira fase do debate.

Com exceção do nanico Carlos Moraes (PRTB), que apresentou como solução a “contrução de mais viadutos”, todos os outros candidatos citaram de forma direta a questão da bicicleta e da ciclomobilidade na capital paranaense.

O primeiro a tocar no tema foi Ratinho Jr. (PSC), que se esquivou de prometer metas na construção de ciclovias na cidade, mas disse é necessário criar um sistema em rede, integrado ao transporte público. Ele propôs a criação de bicicletários e oficinas para manutenção de bicicletas dentro dos terminais de ônibus da cidade.

Ao debater o tema, o candidato Bruno Meirinho (PSol), falou em construir uma cidade “sem catracas”, em democratizar o transporte público e em agregar os diversos modais. Ele defendeu a construção de ciclofaixas, lembrou que é usuário frequente da bicicleta como meio de transporte e mencionou a assinatura da Carta de Compromisso com os Ciclistas proposta pela CicloIguaçu.

O peemedebista Rafael Greca, que já governou a capital entre 1993 e 1996, disse que quer investir na construção de 150 quilômetros de infraestrutura cicloviária em cada ano de seu mandato, totalizando 600 quilômetros ao longo de 4 anos. Disse também que vai se empenhar para “dar gás para turma que pedala e não polui”. Embora não tenha mencionado, Greca também assinou a carta de compromisso da CicloIguaçu.

O candidato do PDT, Gustavo Fruet, também citou os ciclistas da capital e disse que vai adotar políticas para favorecer o uso da bicicleta como modal de transporte. Fruet também citou a assinatura da Carta de Compromisso da CicloIguaçu e se comprometeu com a implantação de 150 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas.

Fruet também afirmou que pretende criar uma secretaria de mobilidade não-motorizada, dotada de recursos próprios — um dos pontos propostos pelo documento dos ciclistas, do qual também é signatário.

O atual prefeito e candidato à reeleição, Luciano Ducci (PSB) abriu sua fala afirmando que “felizmente” Curitiba tem maior frota de veículos per capita do país. Segundo ele, isso é benéfico para a cidade e reflete a pujança econômica do município.

O prefeito Luciano se defendeu das críticas a falta de uma política cicloviária afirmando que “as pessoas não conhecem as ciclovias da cidade” e garantiu que seu governo está implantando ciclovias “na cidade toda”.

Análise parcial

Reprodução
Empreiteira que atende à própria prefeitura estaciona irregularmente sobre a ciclofaixa da Marechal Floriano

Atenção leitores, ciclistas, cicloativistas, comentaristas anônimos, militância paga e trolls de plantão: não me venham cobrar imparcialidade.

Jornalismo imparcial é mito (entenda os motivos, pela visão do colega Ricardo Noblat). Meu partido é a bicicleta. Minha militância é pelo direito de ir e vir de bike com segurança e minha bandeira é a ciclomobilidade.

Como cicloativista, acredito no uso da bicicleta como ferramenta para construção de cidades mais humanas. Defendo isso pedalando, fiscalizando, cobrando e propondo o debate público através deste espaço.

Minha maior meta como jornalista/blogueiro é que haja infraestrutura, segurança e respeito aos ciclistas a ponto de tornar o trabalho deste blog irrelevante e desnecessário. Mas, enquanto esse dia não chega, continuo combatendo o bom combate e lutando por uma cidade mais amiga das bicicletas. Tudo isso dentro dos limites éticos do jornalismo e dos valores democráticos.

Dito isso, exponho meu ponto de vista: enquanto todos os outros candidatos são avaliados pelo que dizem que vão fazer, o prefeito Luciano Ducci é o único que pode ser julgado pelo que já fez ou deixou de fazer.

André Feiges
Atropelando o CTB (Art. 29, XII § 2º e Art. 28, § único), ciclofaixa inverte a lógica do trânsito para favorecer os carros

E a atual gestão, que começou em 2005 com Beto Richa (PSDB) e Luciano Ducci, descumpriu seu próprio programa de governo na área da ciclomobilidade e ignorou uma carta de compromissos com os ciclistas, assinada durante a campanha de 2008.

O documento previa, por exemplo, a destinação de recursos financeiros cada vez maiores no orçamento municipal para recuperação e ampliação da rede cicloviária municipal. Entretanto, no período da atual administração, o que se viu foi uma redução de quase 70% nos valores orçamentários destinados à infraestrutura cicloviária entre 2009 e 2012 e cortes de até 98,8% na verba, autorizados pelo prefeito.

Durante o debate eleitoral, o candidato Luciano e o prefeito Ducci foram desonestos ao tratarem do tema da bicicleta, dizendo que as pessoas não conhecem as ciclovias da cidade.

Só conhece as ciclovias da cidade quem por elas pedala. E, não há registro jornalístico, fotográfico, relatos anônonimos ou mesmo lendas urbanas que deem conta de que o prefeito Ducci e/ou o candidato Luciano foram vistos pedalando pelas ciclovias da capital.

E justamente os ciclistas, que pedalam e conhecem os problemas reais das ciclovias da cidade, em geral, são ignorados durante a fase de implantação desses projetos. A própria prefeitura já reconheceu que errou ao não ouvir os ciclistas. Usou sua cota de humana na primeira vez, mas continuou insistindo no mesmo erro…

No debate, o candidato Luciano e/ou prefeito Ducci também afirmaram que há ciclovias sendo construídas “pela cidade toda”. Eles se referiam aos 30 quilômetros em projeto desde 2005 — dos quais, apenas 8 quilômetros foram entregues até o momento.

Esses 8 quilômetros são justamente a ciclofaixa da Marechal Floriano, aquela, que tem apenas 75 centímetros de largura em alguns trechos. Deveriam ser 16 km, conforme anunciado em 2007 — ligando o viaduto da Linha Verde ao
Terminal do Boqueirão. Mas só metade da obra foi executada.

André Feiges/CicloIguaçu
Curva em ângulo reto na ciclofaixa da Marechal

Aquela mesma ciclofaixa, que a prefeitura reconheceu que fez da forma errada, prometeu que iria implantar as adaptações e melhorias indicadas pelos ciclistas, mas continuou do mesmo jeito.

O prefeito e o candidato se referiam aos 8 quilômetros daquela ciclofaixa que ignora o Código de Trânsito Brasileiro e inverte a lógica de prioridades, obrigando os ciclistas a pararem para que veículos possam ir e vir nos estacionamentos de concessionárias, shoppings, supermercados e lanchonetes atropelando a lei.

É aquela ciclofaixa, que virou estacionamento de luxo diante da omissão e da falta de fiscalização efetiva da Secretaria de Trânsito (Setran). Aquela uma, que desafia a física e obriga os ciclistas a fazerem uma curva em ângulo de 90 graus.

A mesma ciclofaixa, na Marechal Floriano, que foi novamente vistoriada pelos ciclistas e técnicos da prefeitura, pela 6ª vez, para identificar os erros e corrigir os problemas estruturais — que já foram apontados, vistoriados e relatados desde o início do projeto.

Alexandre Costa Nascimento/Ir e Vir de Bike
Ligeirinho invade trecho da ciclofaixa da Marechal colocando em risco integridade dos ciclistas: “Tenho horário para cumprir”, justifica o motorista.

Aquele trecho, que vez ou outra é invadido pelos ônibus Ligeirinhos, colocando em risco a segurança de seus usuários. Aquela mesma, sabe qual???

Comentário infeliz

O prefeito Ducci e o candidato Luciano demonstraram ter uma visão míope e um pensamento subdesenvolvido em relação ao tema da mobilidade ao avaliar como algo “feliz e positivo” o aumento exponencial da frota de Curitiba.

Ao priorizar o carro, Luciano Ducci está na contramão da história e atropelando a Lei Orgância de Curitiba e a Lei Nacional de Mobilidade Urbana, que priorizam o transporte público e os modais não motorizados sobre o transporte individual motorizado. Em miúdos: pela lei, os ônibus e as bicicletas merecem mais atenção e investimentos que os carros.

Ter um carro é um direito do cidadão. Cobrar o ônus de seu uso é um dever do poder público. O carro é o símbolo maior do desperdício: um bem que consome uma tonelada de aço e litros de combustíveis fósseis para transportar, em média, os 70 quilos de seu único passageiro.

Além disso, deixa como passivo os gases tóxicos que saem de seu escapamento — representando 80% da poluição atmosférica –, as mais de 40 mil mortes ao ano no país, os problemas de congestionamento e o ralo de dinheiro público em obras viárias duvidosas e, não raro, superfaturadas.

Como bem disse o ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, “a cidade avançada não é aquela em que os pobres andam de carro, mas aquela em que os ricos usam transporte público”.

O prefeito Ducci e o candidato Luciano precisam pedalar mais se quiserem convencer o eleitorado que conhece de verdade as ciclovias da cidade…

Vote no Ir e Vir de Bike!

O Ir e Vir de Bike concorre ao Prêmio Top Blog 2012 na categoria Variedades/Blogs Profissionais.

Para votar, clique no selo abaixo. É possível votar até 3 vezes, usando seu e-mail e os prefis do Facebook e Twitter.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]