A Primavera chegou a Curitiba. E chegou de bicicleta. Um protesto convocado às pressas pelas redes sociais, em apenas quatro dias, atingiu a massa crítica e mobilizou mais de 300 ciclistas, que foram às ruas manifestar insatisfação com a política da prefeitura, que ainda vê a bicicleta como instrumento de lazer – e não meio de transporte.
Guardadas as devidas proporções, estiveram presentes na Bicicletada desse domingo (23) os mesmos princípios que movem os movimentos como o Occupy Wall Street e as primaveras revolucionárias do mundo árabe. Ocupação — neste caso das ruas e do espaço público — e, porque não, um desejo revolucionário de quebra da ordem atual para uma cidade mais humana e sustentável?
De forma pacífica e civilizada, os ciclistas ignoraram a demarcação do Circuito Ciclofaixa de Lazer –instalado do lado esquerdo da via de rolamento, contrariando o que está previsto nos artigos nº 29 e 58 do Código de Trânsito Brasileiro — e circularam pela via da direita, pedindo a instalação de ciclofaixas todos os dias da semana.
Cabe aqui perguntar: que outro movimento social é capaz de mobilizar centenas de pessoas, em um domingo de manhã, por uma causa comum? A bicicleta mostrou sua força. Outra demonstração desse desejo de mudança foi dada na Marcha das Mil Bicicletas, que no Dia Mundial Sem Carro (22/09) levou 1,2 mil ciclistas para as ruas de Curitiba, enquanto a prefeitura solenemente ignorou a data.
Ontem, o circuito foi simbolicamente inaugurado pelos próprios ciclistas, que, depois de percorrerem o trajeto de 4 quilômetros , se dirigiram à casa do prefeito Luciano Ducci (PSB). Lá, os manifestantes gritaram palavras de ordem, exigindo políticas públicas voltadas ao uso da bicicleta não apenas como lazer.
Já faz um bom tempo que o movimento dos ciclistas deixou de ser causa exclusiva de neo-hippies e ecochatos. Hoje as Bicicletadas envolvem advogados, engenheiros, médicos, professores, artistas, jornalistas, estudantes, trabalhadores e aposentados. Enfim, cidadãos; todos eles com um título de eleitor que será usado no dia 7 de outubro de 2012.
Falando em lazer
Na tarde de ontem, a prefeitura divulgou em seu site oficial a seguinte manchete: “Curitibanos aprovam Ciclofaixa de Lazer”; e claro, como era de se esperar, omitiu a existência de protestos. Mas, ok, eles estão certos. Confesso: eu também gostei. Tanto que quero voltar a pedalar por lá no domingo que vem.
Mas, opa, pera lá, como assim não posso? Agora só no dia 27 de novembro???
Isso é piada. Das 15 cidades brasileiras que implantaram programa semelhante, todas o fizeram com periodicidade semanal. Apenas Curitiba resolveu criar políticas (de lazer, que seja) em doses homeopáticas.
No mais, nenhum ciclista de Curitiba, que goza razoavelmente das faculdades mentais, duvida da boa fé da iniciativa do circuito ciclístico voltado ao lazer. Mas o projeto feito em Curitiba está equivocado em sua essência. A ciclofaixa não educa e ainda coloca em risco ciclistas e motoristas nos outros 29 dias do mês.
Ainda assim, ficou evidente o efeito positivo do estímulo ao uso das bicicletas na vida de uma cidade. Quem foi ao centro da cidade pôde ver famílias com crianças nas cadeirinhas ou em suas bicicletas de rodinhas. Casais, namorados, jovens, idosos, mulheres e adultos.
A frequência média de uso ficou em torno de 200 ciclistas por hora pela manhã, com picos de até 400 usuários, segundo agentes da Diretran. É a cidade e o espaço público a serviço dos cidadãos.
A ciclofaixa de lazer tem seu mérito. Tanto que chega a ser injusto oferecer essa oportunidade aos cidadãos apenas uma vez por mês.
Outro fator positivo foi a orientação dos agentes da Diretran. Todos corteses e educados, instruindo o fluxo de trânsito como deve ser: preferência do ciclista sobre o carro e do pedestre sobre a bicicleta. Ali estava o poder público, personificado, dizendo “bom dia”, “por favor”, sorrindo e desejando “boa pedalada”.
A necessidade de pensar a bicicleta como veículo, e não apenas como lazer é urgente. A manifestação de ontem é prova disso. Ciclofaixa? Sim. Todo dia e para transporte. E, se for para lazer, que seja do lado certo e todo o fim de semana.
O resto não passa de tentativas de tapar o sol com a peneira.
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