Antes mesmo de ser inaugurada, a primeira ciclofaixa permanente de Curitiba, que está sendo implantada na Avenida Marechal Floriano, já revela uma sucessão de erros técnicos potencialmente capazes de colocar em risco a segurança e a vida dos seus futuros usuários.
Com apenas 75 centímetros de largura na faixa de rolamento, a ciclofaixa não guarda a distância mínima de segurança entre os ciclistas e os veículos automotores. Desta forma, o projeto força o motorista a descumprir o artigo 201 do Código de Trânsito Brasileiro, que define como infração média (punida com multa) passar ou ultrapassar uma bicicleta em distância inferior a 1,5 metro.
O projeto da ciclofaixa, que ligará o viaduto da Linha Verde até o terminal do Carmo, foi apresentado em julho de 2008 pelo então prefeito Beto Richa (PSDB). Pelo cronograma original, a obra já deveria ter sido entregue em novembro passado.
Na ocasião, o esboço detalhado da obra previa vias em ambos os sentidos da avenida, ao lado da canaleta do ônibus expresso, com 1,5 metro de largura em cada lado.
Porém, a execução da obra — que teve início na última semana entre a passarela do Hauer e o terminal do Carmo, no sentido centro-bairro –, tem apenas metade da largura prevista, contrariando o manual do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) que recomenda que as ciclovias tenham, no mínimo, 1,5 metro de área útil.
Cabe ao Ministério Público do Paraná (MP-PR) questionar: porque o projeto original não foi executado?
Se a Prefeitura de Curitiba recebeu um financiamento de R$ 1,66 milhão para construir oito quilômetros lineares de uma ciclofaixa com 1,5 metro de largura (12 mil metros quadrados) e está entregando apenas 6 mil metros quadrados, matematicamente, 50% dos recursos não serão gastos.
Essa “economia” de R$ 830 mil (US$ 450) será usada para construir mais 8 quilômetros de ciclofaixa de 75 centímetros em outro lugar da cidade? Ou a verba será usada para refazer a obra mal feita e adequá-la às especificações técnicas e legais que garantam um mínimo de segurança dos ciclistas?
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“Erramos”
Fontes ligadas à área de planejamento da Prefeitura de Curitiba se dizem “surpresas” com a ciclofaixa de apenas 75 centímetros e avaliam que, “muito provavelmente houve um erro” na execução da obra. Essa responsabilidade seria do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).
O assessor especial da Prefeitura e futuro secretário municipal do Trânsito de Curitiba, Marcelo Araújo, que esteve na ciclofaixa para avaliá-la, também reconhece que a largura é “inadequada”. Ele avalia que a via especial para as bicicletas deveria manter a largura do estacionamento que havia ali e foi transferido para o lado direito da pista — entre 1,5 metro e 2 metros.
Avaliação
No último fim de semana, pedalei no trecho da ciclofaixa da Marechal Floriano que já está pronto. Para quem está acostumado a circular junto aos carros, pedalar em uma via exclusiva para bicicletas deveria dar uma sensação de segurança e certa tranquilidade. Mas não foi isso que ocorreu.
Pedalar com os ônibus ligeirinhos passando ao seu lado, a menos de 1 metro de distância, no limite da velocidade máxima permitida (ou mesmo acima) é algo realmente perturbador, apesar dos tachões (tartarugas) que dividem a ciclofaixa da via dos veículos.
Além disso, por ser muito estreita, a ciclofaixa não permite ultrapassar outro ciclista que trafega em velocidade mais lenta. Para isso, é preciso fazer a ultrapassagem pela direita, invadindo a via de circulação dos veículos – justamente a faixa de rolamento de maior velocidade –, correndo ainda o risco de perder o equilíbrio e cair ao atropelar um dos tachões, já que a manobra exige que se olhe para trás.
Também presenciei alguns pedestres caminhando e outros praticando corrida na ciclofaixa (que fique bem claro, essa não é a de lazer muito menos ciclovia compartilhada!).
Mas, o mais preocupante é perceber que, com tantos erros técnicos, não é de se surpreender que muitos ciclistas continuarão em usando a canaleta do ônibus expresso, por se sentirem mais seguros.
Isso dará margem para que o executivo local alegue “pouco uso” e “ociosidade” da ciclofaixa para justificar a falta de investimento em novas vias ou mesmo na recuperação das já existentes, que estão precisando de atenção.
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