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Curitiba, a Copenhagen do Sul (ou, sobre como a máquina oficial de propaganda lhe trata como um trouxa)

Brunno Covello/SMCS
Ciclofaixa da Marechal: problemas desde o início e promessas não cumpridas

“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”
George Orwell.

Pela segunda vez em menos de 10 dias, a Prefeitura de Curitiba pôs sua máquina oficial de propaganda para trabalhar, na esperança de construir a imagem de uma gestão amiga da bicicleta que não encontra sustentação na realidade ou nos fatos.

Depois de fazer inúmeras promessas para próxima gestão — ignorando que ainda há uma eleição a ser feita — e requentar a notícia de ciclovia na Visconde de Guarapuava, a Prefeitura “anunciou” nesta semana que a malha cicloviária de Curitiba chegará (vejam só!) a 400 quilômetros — no futuro, é claro, já que desde 2004 a gestão Richa-Ducci não teve tempo de fazer muita coisa neste sentido.

Notícia velha que ganha roupagem nova justamente na abertura oficial do calendário eleitoral. A “novidade” é tão defasada que já perdeu seu prazo de validade há mais de dez meses, uma vez que o mesmo anúncio foi feito em agosto de 2011.

Reprodução/Ippuc
Mapa da rede cicloviária de Curitiba: plano prevê 400 quilômetros.

“Estimular o uso da bicicleta não só como lazer ou prática esportiva, mas como meio alternativo de transporte é uma das prioridades da Prefeitura de Curitiba dentro do Programa Mobilidade e Acessibilidade. Os projetos já estão definidos e novos ramais são construídos na cidade”, afirma o presidente do Ippuc, Cléver Almeida, no informe publicitário publicado pelo site da Prefeitura.

Para quem não sabe, Cléver Almeida é aquele sujeito que, em uma reunião com os ciclistas sobre os problemas técnicos na ciclofaixa de lazer, no gabinete da Prefeitura, questionou, com um misto de arrogância e perplexidade: “Então quer dizer que cada quilômetro de ciclovia que for construído nesta cidade teremos que consultar antes os ciclistas?”. A democracia e participação popular na tomada de decisão dos rumos da cidade lhes pareceram demasiadamente estranhas! Naquela ocasião, a máquina de propaganda oficial também fora acionada.

Fatos e dados

Todo o discurso é construído em cima do chamado Plano Diretor Cicloviário, apresentado pelo Ippuc. O referido documento, entretanto, é considerado incompleto pelo relatório final da Câmara Temática de Mobilidade (CTMob), do Conselho da Cidade de Curitiba (Concitiba). De acordo com o documento, o plano apresentado pelo Ippuc, “está desenvolvido em fase preliminar”, já que não possui prazos nem metas de infraestrutura.

A crítica mais dura do documento é um diagnótico perfeito da atual política de mobilidade do município: “[A bicicleta] não pode ser apenas lazer. Tem que ser opção de transporte. E como
tal, integrar os terminais”, aponta o documento final da CTMob.

Promessas e mais promessas

Marco André Lima/ Gazeta do Povo
Ciclistas vão percorrer trecho da ciclofaixa em implantação para avaliar deficiências no projeto.

A prefeitura que diz ser amiga da bicicleta aliena para o futuro o que já poderia ter sido feito. A atual gestão descumpriu na integralidade o Plano Plurianual 2010-2013 no que se refere aos investimentos na recuperação da rede cicloviária municipal.

Havia dinheiro, mas faltou vontade política para encarar a bicleta como modal de transporte, ao contrário do que diz a propaganda.

Investir apenas 2% do orçamento significa que a Prefeitura deu apenas migalhas aos ciclistas nos últimos três anos e meio. Para se ter uma ideia, entre janeiro de 2010 e maio deste ano a Prefeitura de Curitiba gastou com cafezinho para o gabinete do prefeito 350% a mais que os valores investidos nas ciclovias da cidade.

A “joia cicloviária da coroa” da atual gestão, a ciclofaixa da Marechal Floriano, é uma sucessão de equívocos — a pista, em alguns trechos, tem apenas 63 centímetros de largura. E, muito embora tenha reconhecido o erro, a Prefeitura não cumpriu com os compromissos assumidos com os ciclistas para readequação do trecho. Além disso, sem fiscalização efetiva, o trecho se tornou um estacionamento de luxo, com “tapete vermelho” para motoristas folgados.

Outra promessa não cumprida foi a readequação de oito pontos da ciclovia que liga o Rebouças ao Centro Cívico, mesmo após uma vistoria técnica conjunta, realizada de bicicleta por ciclistas e representantes da Prefeitura.

Ainda no rol de compromissos não honrados, a Prefeitura não fez a ampliação do Circuito Ciclístico de Lazer para 15 quilômetros ainda no primeiro semestre de 2012, conforme estava previsto desde o início do lançamento do projeto, no fim do ano passado.

No jornalismo, há um jargão que diz “engolir com farinha”, e significa aceitar e reproduzir a versão oficialesca dos fatos sem questionar ou fazer as perguntas que devem ser feitas — papel essencial dos jornalistas. É cair no jogo e dar ao leitor “propaganda” como se fosse “informação”.

Farinha pouca é bobagem! A propaganda eleitoral vem aí. Vai faltar é vaselina…

Pedido de informações

Nesta terça-feira (10), estive no Palácio 29 de Março, sede da Prefeitura de Curitiba, na qualidade de cidadão, para protocolar um pedido de informações com base na Lei Geral de Acesso a Informações Públicas (nº 12.527/2011).

São questionamentos sobre investimentos em ciclovias, execução orçamentária, compra de bicicletas pelo município, ciclopatrulhas da Guarda Municipal e da Setran, manutenção da sinalização cicloviária e política da Setran em relação a não aplicação dos artigos do CTB que protegem os ciclistas.

O Poder Público tem 20 dias, prorrogáveis por mais 10 dias, para prestar os esclarecimentos na totalidade, com a devida documentação comprobatória. Na oportunidade, as respostas serão publicadas pelo blog.

(Clique aqui para ler na íntegra o Pedido de Informações protocolado na GSM da Prefeitura de Curitiba)

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