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De um grupo de amigos que se reunia uma vez por semana em um escritório em São Francisco, na Califórnia, para tomar cerveja e discutir coisas da vida e do mundo, nasceu uma ideia que está transformando a maneira de se encarar o espaço público nas cidades.

Com o movimento Critical Mass (Massa Crítica), o grupo idealizado pelo norte-americano Chris Carlsson passou a usar a bicicleta como ferramenta de atuação política para transformar a realidade. “O movimento nasceu de forma espontânea, mas encontrou ressonância na sociedade”, explica o cicloativista.

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A Massa Crítica é misto de protesto e celebração à bicicleta que busca promover o uso desse meio de transporte e provocar uma reflexão sobre o compartilhamento do espaço público. Atualmente, o movimento tem edições em mais de 300 cidades ao redor do planeta.

Carsson esteve no Brasil na última semana para participar do 1º Fórum Mundial da Bicicleta, em Porto Alegre, realizado entre os dias 23 e 26 de fevereiro. Confira a entrevista dele ao blog Ir e Vir de Bike, da Gazeta do Povo:

Qual a capacidade transformadora da bicicleta?

O mais importante é que a que a bicicleta transforma a consciência das pessoas. Quem pedala tem uma experiência diferente na sua relação com a cidade, na relação com a natureza e com os outros seres humanos, que também são parte da natureza. Quem se move de bicicleta pela cidade vê a geografia de forma diferente, sente o cheiro da cidade, pode ouvi-la e ter contato com as outras pessoas. Quando se está dentro de um carro, não se tem essas experiências. A chave é a transformação da consciência, da sua saúde e da sua interação com a sociedade. A bicicleta deixa os seres humanos mais humanos.

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Como surgiu o movimento da Massa Crítica?

Em 1992, tínhamos um grupo de amigos que se encontrava no meu escritório para tomar cerveja, fumar marijuana e trocar ideias sobre política. Em comum tínhamos o fato de que todos usavam a bicicleta como meio de transporte e iam pedalando para os encontros. Começamos a nos perguntar: o que podemos fazer para mudar as coisas? De repente surgiu a ideia de formar grupos e promover encontros nas principais avenidas da cidade. Simples assim.

Esse grupo tinha objetivos políticos?

No começo, nós tínhamos uma revista underground chamada Processed World (Mundo Processado). Era uma revista cheia de sátira, de humor e de critica, feita por jovens dispostos a mudar as coisas. E a bicicleta era um dos temas abordados nesses nossos textos.

A Massa Crítica tem em essência um espírito anárquico, de contestação e que tem como regra não ter lideranças ou representantes. Qual a origem desses ideais?

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Desde o início definimos que ninguém deveria estar no comando da massa. Deveria ser um movimento sem líderes porque o estado ou a polícia poderia apontar alguém e prendê-lo dizendo: você é o culpado, você é o responsável. Todos são responsáveis por todos e ninguém é responsável por nada. Logo no início surgiu a ideia de bloquear o trânsito, exibir placas dizendo “obrigado por esperar” e “buzine se você gosta de bicicletas” como resposta às condições encontradas no trânsito. Posteriormente fizemos um livro chamado “Como os fazemos isso”.

Naquela época já se tinha uma ideia da proporção que o movimento tomaria?

De maneira alguma. Não tínhamos a menor ideia. Mas no decorrer percebemos que a coisa encontrou ressonância na sociedade. Mais pessoas participando, começamos a trocar informações com pessoas de Nova York, da Polônia, recebendo telefonemas de pessoas querendo saber como organizar suas Massas Críticas. É um bom exemplo da globalização. As condições nas cidades são muito semelhantes ao redor do mundo. Congestionamentos, falta de espaços para as pessoas, desrespeito aos ciclistas. Reagimos. Essa ideia de andar em grupo, todos juntos, já estava presente na cabeça de todos. Fizemos as pessoas perceberem:
“Mas é claro!”

Como você vê o movimento daqui a 20 anos? Como ele pode contribuir para a melhoria da vida nas cidades?

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O tempo é um problema para movimentos sociais. Em São Francisco já não temos a mesma energia política que tínhamos há 20 anos atrás. Isso já está institucionalizado, já faz parte da sociedade. O desafio é manter-se atualizado. Talvez, no nosso caso, a solução esteja em outros movimentos, como o “Ocuppy”.

E como você vê a situação do movimento cicloativista no Brasil?

O Brasil vive justamente o momento mais excitante, o início, em que todos estão engajados nessa luta contra uma sociedade baseada no uso do automóvel. Essa energia nova é muito importante. É lindo ver acontecendo aqui um movimento como o Fórum Mundial da Bicicleta. Chicago passou por isso em 1997, a Itállia em 2002. Em todo lugar, o início é sempre marcante.

Todos conhecem o Chris Carlsson como o precursor da Massa Crítica. Mas quando a bicicleta entrou na sua vida?

Como quase toda criança, ganhei minha primeira entre 5 ou 6 anos, uma bicicleta vermelha de criança. Mas a que mais me marcou foi quanto eu tinha 13 anos e ganhei minha primeira bicicleta com 10 marchas, uma Gitan, branca com adesivos vermelhos. Usava a bicicleta para andar em Oakland (na Califórnia). Usava a bicicleta para ir e voltar da escola. Pedalo desde então. Como minha mão é dinamarquesa, me levou algumas vezes para Copenhagen, considerada a “Meca da Bicicleta”. Acho que deve ser algo que está no DNA.

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