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Não existe uma fórmula mágica. Mas a cidade que quiser fazer da bicicleta um modal de transporte deverá necessariamente estabelecer políticas de infraestrutura com a criação de uma rede de ciclovias integrada e segura, além da implantação de locais adequados para estacionamento. É o que aponta a engenheira alemã Dra. Susanne Böhler-Badecker, pesquisadora no grupo de trabalho “Políticas energéticas, climáticas e de transporte” no Wuppertal Institut.

Responsável pela implantação de políticas de mobilidade urbana sustentável em seis cidades alemãs — entre elas Stuttgart, Nuremberg e Mainz — a pesquisadora defende ainda a adoção de políticas que dificultem o uso do carro — como a limitação da circulação no centro das cidades com a cobrança de pedágio e a retirada de vagas de estacionamento –, para incentivar o uso de meios de transporte alternativos. “Outro ponto é a necessidade de campanhas publicitárias massivas de promoção e inventivo ao uso da bike. Não há outro caminho. Em Munique o prefeito foi o garoto propaganda que promoveu o uso da bicicleta”, explica.

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A pesquisadora, que tem trabalhos científicos nas áreas de planejamento de políticas de trânsito, políticas climáticas urbanas e políticas de eficiência energética está no Brasil a convite do Goethe Institut Curitiba para participar da série de debates Im Brennpunkt (No Foco).

Em sua passagem pela cidade, a especialista falou com exclusividade ao blog Ir e Vir de Bike. Confira:

Como a bicicleta ajuda a melhorar a vida das cidades?

A bicicleta é o modal perfeito para trajetos mais curtos: não polui, não causa ruídos e é econômico tanto para o usuário – que não gasta com combustível, manutenção e impostos do veículo – quanto para a cidade. Geralmente a crítica é de que a bicicleta é um veículo lento, mas em muitas cidades com tráfego pesado a velocidade de deslocamento dos carros é menor e a bicicleta é mais eficiente. Além disso, a bike também ajuda a descongestionar o trânsito. Também está comprovado que as cidades com um alto porcentual de ciclistas e pedestres tem menores índices de acidentes e, consequentemente, de mortes no trânsito.

Do ponto de vista do planejamento urbano, é caro projetar e tornar uma cidade adequada para o uso das bicicletas?

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Sim. É caro planejar e fazer a infraestrutura. Para que seja eficiente a rede de ciclovias deve ser contínua, segura e integrada e tudo isso custa. Mas a questão que interessa é: se a cidade não fizer, os custos sociais e econômicos subseqüentes serão maiores. Não gosto desse tipo de comparação. Mas, definitivamente, para uma cidade sempre vale a pena investir no que é melhor para os seus cidadãos.

Como uma cidade pode ajudar a reverter o culto ao automóvel e promover o uso da bicicleta?

Não há uma resposta padrão, uma panacéia. Deve-se adotar medidas em várias frentes. O ponto central é tentar reduzir o número de pessoas que usam o carro e incentivar o uso de transporte público e meios alternativos. Na verdade é preciso ter bem claro que o incentivo é para a bicicleta, para o pedestre, para o transporte público e também para o carro. A cidade deve ser pensada para o usos de todos os meios de forma integrada e segura.

Qual a importância política e o papel dos movimentos cicloativistas na execução desse processo de transformação?

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Acho que os movimentos organizados de ciclistas é um elemento fundamental, mas é uma das peças em um mosaico. Quanto mais pessoas entram em contato e se agregam com essa bandeira, vai se formando uma rede que também envolve a academia, os políticos, a prefeitura. Também seria importante criar redes com outras cidades. Mas é preciso lembrar que, no plano da execução, a implementação dessas políticas depende da estrutura profissional. Isso não tira a importância dos movimentos, porque esse é um processo que não tem fim, é uma construção permanente.
Essa transformação nas estruturas é demorada, mas para que isso ocorra o engajamento da sociedade civil é importantíssimo. Essa mobilização deve continuar e se fortalecer, para que andar de bicicleta em Curitiba se torne mais seguro para todos e não apenas para um grupo que defende a bicicleta.

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