O candidato do PSC à prefeitura de Curitiba, Ratinho Junior, prefere não se comprometer com uma meta para implantação de ciclovias na cidade. Para ele, mais importante que a quilometragem é o planejamento de um sistema de mobilidade que se conecte, favorecendo o uso da bicicleta como meio de transporte. “Eu não posso lhe dizer se são 200, 300 ou 400 quilômetros de ciclovias é que são necessários. Talvez 100 quilômetros resolvam. O que nós precisamos fazer é um modelo que se feche”, avalia.
Ratinho Jr, que é deputado federal, considera a integração da bicicleta com o sistema de ônibus da cidade e propõe a criação de paraciclos a criação de oficinas para realizar reparos dentro das áreas dos terminais de ônibus. “Quando falamos em promover a bicicleta como um sistema de mobilidade, temos que fechar um ciclo para que o usuário se sinta confortável e faça, de fato, da bicicleta um meio de vida”, propõe.
O candidato também destaca o papel da educação e acredita que o fator econômico pode impulsionar o uso do modal. “A pessoa tem que sentir no bolso dela que, ao andar de bicicleta, ela terá um ganho financeiro”. Para incentivar esse uso, Ratinho Jr também prevê um pacote de estímulo fiscal para as grandes empresas que oferecerem infraestrutura para que seus funcionários troquem o carro pela magrela.
Ratinho Jr é o terceiro entrevistado na série do blog Ir e Vir de Bike com os candidatos à prefeitura de Curitiba. Confira a entrevista na íntegra:
Pessoalmente, você acredita no uso da bicicleta como meio de transporte? Qual o papel que terá a bicicleta na sua administração, caso seja eleito prefeito de Curitiba?
Ratinho Jr.: Acredito sim que a bicicleta é um meio de transporte. E pode ser feito um trabalho para que mais pessoas possam vê-la como uma opção de mobilidade. Eu acho que isso tem que ser um trabalho de educação de massa, de mudança de hábitos e mudança cultural. Acredito que, a partir do momento que nós conseguirmos construir um sistema de mobilidade onde a bicicleta seja extremamente fundamental nesse projeto, com um ambiente onde o usuário da bicicleta possa usá-la de forma confortável, acredito sim, que ela pode ser uma grande ferramenta de mobilidade.
Quando e onde foi a última vez que você pedalou?
Não faz muito tempo, acho que faz uns 40 dias. Pedalo muito no Parque Barigui. Às vezes, eu vou comprar pão perto de casa de bicicleta e pedalo muito no parque quando eu vou com as minhas filhas. Eu tenho duas filhas, uma de 8 anos e outra de 4 anos. A mais velha já anda de bicicleta sozinha, sem rodinha e vai comigo. A mais nova eu levo em um carrinho, uma espécie de charretezinha, que engato na bicicleta e vou puxando.
Qual a sua avaliação sobre a atual condição da ciclomobilidade em Curitiba?
Ela existe apenas para quem usa a bicicleta como um instrumento de lazer, para passear, para descontração nos finais de semana. Hoje Curitiba ainda não tem uma visão das ciclovias e da bicicleta como mobilidade, como meio de transporte.
Hoje, você deixaria suas filhas irem pedalando para o colégio? Como homem público, estimularia a família curitibana a fazer o mesmo?
Eu deixaria. Acho que esse é um instrumento que nós temos de motivar. Isso também vai de cada pessoa, de praticar ou não ou de querer usar. Mas deixaria, incentivaria. Claro que nós temos hoje uma grande preocupação que é a questão da segurança. Muito mais do que a segurança de andar de bicicleta é a segurança de um modo geral.
Seu plano de governo, registrado no TRE, fala em “modelo de mobilidade urbana multimodal que priorize o pedestre e as bicicletas” e em “ampliar a malha de ciclovias, criando condições para o uso da bicicleta como meio de transporte, e não somente de lazer”. Quais são suas estratégias, planos e metas para tornar o trânsito de Curitiba mais amigável ao uso da bicicleta?
Eu não posso lhe dizer se são 200, 300 ou 400 quilômetros de ciclovias é que são necessários. Talvez 100 quilômetros resolvam. O que nós precisamos fazer é um modelo que se feche. Esse ciclo tem que fazer, em primeiro, com que as ciclovias se integrem, fazer com que as ciclovias sejam o mais planas possível, porque ninguém quer sair de casa enfrentando subidas, apesar de Curitiba ser, em sua grande parte uma cidade plana.
Você tem que fazer um trabalho educacional de incentivo e a pessoa tem que sentir no bolso dela que, ao andar de bicicleta, ela terá um ganho financeiro. E você tem que incentivar que as grandes empresas, que tem um grande fluxo de pessoas que podem a vir usar a bicicleta como meio de transporte, criem ambientes para que esse trabalhador chegue lá e troque de roupa, tome um banho. De que forma podemos fazer isso? Talvez criando incentivos fiscais, onde a empresa que criar condições para que seus funcionários pedalem, tenham um desconto no ISS.
Além disso, é preciso criar bicicletários em vários pontos da cidade, em especial nos terminais de ônibus para que a pessoa saia de casa, pedale dois ou três quilômetros e deixe sua bicicleta lá, com a garantia e com segurança, pegue o ônibus e vá até onde precisa. Penso em construir bicicletários dentro dos terminais, com oficinas através de concessão pública para pequenos reparos, criando um ambiente todo projetado para que a pessoa possa guardar e consertar sua bicicleta. Quando falamos em promover a bicicleta como um sistema de mobilidade, temos que fechar um ciclo para que o usuário se sinta confortável e faça, de fato, da bicicleta um meio de vida.
O ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, ao ser questionado sobre a retirada das áreas de estacionamento na capital colombiana para implantação de ciclofaixas, fez o seguinte comentário: “Estacionamento não é responsabilidade minha, é um problema privado. Eu também não digo onde você guarda sua roupa. O estacionamento não é um direito adquirido em nenhuma Constituição do mundo, ao contrário do direito de ir e vir”. Você concorda com essa interpretação?
No nosso plano de governo, queremos usar as margens das linhas férreas e fazer, nas margens dos rios, respeitando as áreas de mata ciliar, utilizar como lugares para se implantar ciclovias. As margens dos rios e as margens das linhas férreas, obrigatoriamente, são planas. Eu não sei se tirando estacionamento vai se resolver o problema. Pode ser que sim, mas antes de você tirar as áreas de estacionamento tem que se fazer um estudo econômico disso.
Daqui a pouco você soluciona o problema para quem anda de bicicleta mas você cria outro para o comerciante daquela região. Eu não posso simplesmente tirar o estacionamento de uma rua, privilegiando os ciclistas, e prejudicando os comerciantes. Eu acho que temos alternativas antes de se tirar as áreas de estacionamentos. Mas tudo isso depende de um estudo urbanístico para ver qual é a melhor solução, sem prejudicar aqueles que já têm sua vida econômica nessas áreas.
Se eleito, você iria pedalando a posse no dia 1º de janeiro de 2013 para simbolizar o compromisso da sua gestão com a ciclomobilidade? Também iria pedalando ao Palácio 29 de Março pelo menos uma vez por semana e estimularia os servidores públicos municipais a fazerem o mesmo?
Poderia pensar nisso. Não diria que iria, mas poderia pensar. Quanto a ir pedalando, eu acho que isso não estimula. O que muda é você dar comodidade para a pessoa e ela entender que aquilo vai melhorar a vida dela financeiramente, em termos de saúde. Não sou eu pedalando que vou fazer as pessoas pedalarem. Isso é demagogia.
Desde 2009, cerca de 80 ciclistas morreram em acidentes nas ruas da capital. O que pretende fazer para reduzir essas estatísticas?
Quando falo em fechar o ciclo, falo em criar um ambiente para o ciclista. Isso inclui sinalização própria para o ciclista, conscientização no nosso motorista. Hoje o nosso motorista – em especial o motorista de carro – ele não tem a consciência de que o pedestre e o ciclista são mais frágeis do que ele. É uma questão nossa, de hábito do nosso trânsito. Temos o trânsito mais violento do planeta. Temos que mudar isso com campanhas educacionais, desde a base, nas escolas, e campanhas agressivas na televisão e no rádio para conscientização.
Você se comprometeria em exigir da Setran uma fiscalização efetiva, com autuação de motoristas que colocam ciclistas em situações de risco, a exemplo da CET de São Paulo?
Eu acho que isso é um dos mecanismos para se fazer com que os ciclistas sejam respeitados pelos motoristas.
Pretende implantar um sistema público de aluguel de bicicletas, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro ou mesmo Toledo, no interior do Paraná?
Eu acho que isso é uma necessidade. Aí sim eu vejo um instrumento de motivação, de incentivo às pessoas utilizarem a bicicleta. Hoje é possível fazer PPPs [parcerias público-privadas], como no caso do Rio de Janeiro, que faz com o Banco Itaú. Eu faria e nós vamos trabalhar para fazer.
Enquanto vereador e deputado federal, você apresentou algum projeto de lei ou emenda parlamentar voltada à questão da ciclomobilidade e ao estímulo do uso da bicicleta como meio de transporte?
Não. Na questão da mobilidade eu apresentei a emenda do metrô no plano plurianual, pois entendo que é preciso um sistema multimodal em Curitiba, com melhores calçadas para que se valorize o pedestre, ciclovias, motos, carros, taxis, ônibus e temos também que investir em metrô e VLT.
Quando eu estava agendando essa entrevista com seu assessor, ele recomendou: “quando chegar ao comitê, buzine na frente do portão que você pode para estacionar seu acarro aqui dentro”. Quando disse que iria de bicicleta, ele riu. Isso, de certa forma, não demonstra uma falta de cultura e preparo de sua equipe para lidar com a questão da ciclomobilidade?
(Surpreso) Você veio de bicicleta ??? A nossa cidade toda está com deficiência, não é uma casa, não é um prédio. É a cidade e isso tem que ser consertado com um planejamento, de médio e longo prazo, criando-se uma cultura que se mantenha ao longo dos governos. Na área da mobilidade, Curitiba precisa, acima de tudo, de calçadas que é a base da pirâmide do sistema de mobilidade. Podemos fazer as duas coisas juntas: pedestres e ciclistas, temos que dar a prioridade.
Na sua visão, há alguma cidade na qual Curitiba poderia se espelhar para implantar seu sistema de ciclomobilidade?
A referência para a questão da bicicleta é Amsterdã, na Holanda. Eu estive lá e aquilo é uma loucura. Existem estacionamentos para mais de 20 mil bicicletas. Acho que isso demoraria muito para a gente chegar. Paris é uma boa referência, é uma cidade que está conseguindo fazer bem a integração dos modais.
Porque quem anda de bicicleta ou quem sonha em fazer isso com segurança, sem ter que com isso arriscar a própria vida, deve depositar seu voto em você?
Nós temos um projeto com uma nova visão para Curitiba. Uma visão justamente pensando em longo prazo. Não estou interessado em saber se são 100 ou 200 quilômetros [de ciclovias] para se resolver o problema de Curitiba. Estou preocupado em criar um ciclo que se feche, que se fale, que se entenda e que possa propiciar ao usuário da bicicleta tranquilidade, frequência na utilização desse veículo. Nosso projeto tem começo, meio e fim. Não é um remendo. O sistema tem que ser integrador, tem que se falar com a calçada, com o sistema de terminais de ônibus.
Imagine que estamos em 31 de dezembro de 2016. Como você imagina que seria o título da matéria do Ir e Vir de Bike como o balanço da sua administração na área da ciclomobilidade?
“Curitiba: a capital da bike do Brasil”.
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