Papa Bento 16 e papa Francisco: o simbolismo do poder mostra os objetivos de cada um.| Foto:
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Sem que ninguém esperasse, a fumacinha branca saiu do Palácio 29 de Março, sede da Prefeitura de Curitiba, onde um conclave definiu uma troca no comando da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran). Tal qual o ex-papa Bento 16, que pediu para sair do Vaticano, Joel Krüger abriu mão de seu posto alegando motivos pessoais — vai se dedicar ao Crea-PR, entidade que preside paralelamente. Foi ungida para assumir o comando do trânsito da capital mais motorizada do país, a partir de 1º de agosto, a atual superintendente da Setran, Luiza Simonelli, advogada por formação e especialista na área.

A troca tem lá o seu simbolismo. Em seis meses à frente do órgão, Krüger não mostrou a que veio. Em um breve resumo dos serviços prestados por ele à frente da pasta — em tom elogioso, como é sempre comum nestes casos de troca de comando –, a prefeitura lista apenas planos futuros e questões burocráticas realizadas pela Setran desde o início da atual gestão municipal. Nenhum índice de redução de mortes e acidentes. Nenhuma grande meta cumprida, até porque, nenhum objetivo estrutural foi traçado. O grande feito do secretário demissionário foi encaminhar à Câmara Municipal o projeto de cria a carreira de agente de trânsito da Setran. Algo burocrático, que precisaria ser feito de qualquer jeito por força das circunstâncias. Não chega a ser um legado.

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Na Setran, Krüeger foi Ratzinger. Inacessível em seu gabinete, jamais respondeu às demandas dos ciclistas. Se escondeu na biombo dos protocolos burocráticos: não dava entrevistas, apenas respondia por meio de notas, via assessoria de imprensa. Sobre as diversas demandas encaminhadas pela Associação de Ciclistas do Alto-Iguaçu (CicloIguaçu), pedia para que fossem registradas via protocolo. Mesmo seladas, registradas, carimbadas, rotuladas, jamais foram avaliadas, nem sequer respondidas.

Justiça seja feita, o secretário demissionário teve um discurso “favorável” à causa das bicicletas. Assim como, muito provavelmente, também é favorável ao combate à fome, ao fim da corrupção e ao direito de ir e vir. Longe dos holofotes, entretanto, a simples instalação de um semáforo voltado para os ciclistas, para testes, gerou um Tribunal da Inquisição dentro da Setran e o responsável pela implantação do equipamento, apesar de toda a repercussão positiva, foi tratado como herege.

Luiza Simonelli assume já com uma grande responsabilidade: humanizar o trânsito de Curitiba. Deverá se inspirar em Jorge Bergoglio, que em seu primeiro ato — a escolha do nome papal — deixou claro logo de cara que faria de seu pontificado uma imagem de sua fé e de suas convicções. Francisco recusou o ouro, as pompas e firulas papais e não precisou de 100 dias — ou mesmo um semestre — sob a alegação de que precisaria reorganizar a Igreja deixada pela gestão anterior — que também tinha lá os seus pecados escondidos dentro do armário.  Deu um tom de renovação, simpatia e simplicidade a uma instituição pesada, arcaica e cada vez mais distante de seus fiéis. Soube estender a mão e ouvir seus fiéis.

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A nova secretária será cobrada para dar efetividade às campanhas educativas, tanto quanto para efetivar a fiscalização dos motoristas curitibanos. Deverá levar a frente o plano de expansão da Ciclopatrulha e precisará dar respostas ao compromisso do prefeito Gustavo Fruet (PDT) de implantar uma diretoria de transporte não-motorizado na Setran. Proteger os mais frágeis e ser intolerante com as injustiças é o seu dever.

Tenho fé que tudo vai dar certo…e que Nossa Senhora da Bicicletinha nos proteja!

*Do latim: Temos um secretário de trânsito?