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Holanda: o paraíso (não apenas) para os ciclistas

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Estação de trem de Maastrich! Bem-vindo a Holanda.

Se a primeira impressão é a que fica, logo que desci na estação de trem de Maastrich, colocando os pés pela primeira vez em território holandês, tive a nítida sensação de que encontrei meu lugar no mundo. A Holanda é definitivamente o país das bicicletas: a frota de magrelas por aqui é de cerca de 16 milhões – 2,5% maior que a própria população do país.

Ver o estacionamento de bicicletas da estação lotado foi apenas um cartão de boas vindas. Os primeiros passos pelas ruas da cidade até a praça Vrijthof, no centro, me tocaram profundamente. Poucos ou quase nenhum carro nas ruas. No lugar de máquinas velozes e furiosas, muitas pessoas caminhando: famílias com crianças, idosos com cachorros, casais apaixonados. Outros tantos pedalando.

Observando tudo isso, senti aquela sensação de uma criança diante da magia de um circo ou de uma noite de Natal. Com a diferença de que aqui, tudo é real. Pode-se sentir na pele o que é viver em uma sociedade bem resolvida com o simples fato de andar pelas ruas sem medo de ser assaltado ou de ser atropelado ao atravessar sobre a faixa.

DSC_9572As soluções urbanísticas estão por todos os lados, sempre priorizando as pessoas e as bicicletas. Sinalização, semáforos com temporizador, rotatórias com preferência para os pedestres e veículos não motorizados.

A mobilidade sobre duas rodas estão tão fortemente arraigada na cultura e no DNA do povo holandês, a ponto de qualquer morador local se sentir incomodado diante de tantas perguntas e interesse envolvendo a questão da bicicleta.

Pedalar é algo tão natural por aqui quanto respirar ou comer. Não é algo relacionado a um grupo específico ou um extrato social. Da família real ao trabalhador, dos políticos aos estudantes, todos, de alguma forma, tiveram a bicicleta presente em algum momento de suas vidas.

O reitor da Universidade das Nações Unidas/Maastricht, por exemplo, vai trabalhar de bicicleta. E não é para salvar o meio ambiente, nem porque está na moda ou para entrar em forma. É simplesmente porque ele – e a sociedade holandesa como um todo — se deram conta de que essa é a maneira mais eficiente de se locomover dentro de uma cidade – ou até mesmo entre uma cidade e outra, já que boa parte do país possui uma ampla rede de “ciclorrodovias”.

Paisagem em Maastricht

Paisagem em Maastricht

A harmonia no trânsito existe não apenas pelo medo de receber pesadas multas por descumprir a lei de trânsito – já que aqui há fiscalização e punição. É simplesmente a magnífica compreensão que cada um por aqui tem de que a sua pressa não pode colocar em risco a integridade do outro.

Quem dirige hoje para ir a uma reunião, amanhã estará pedalando para ir ao teatro. Colocar-se no lugar do outro, portanto, não é apenas figura de linguagem. Isso ocorre na prática e dai nasce a cultura do respeito.

E não é apenas as bicicletas que tornam este um lugar especial. É a cultura do respeito, da tolerância e a cabeça aberta dos holandeses. A impressão que fica é de que a Holanda é definitivamente uma sociedade bem resolvida, que está meio século a frente da nossa em termos de desenvolvimento humano e social e anos-luz na frente quando o assunto é religião, drogas, aborto, eutanásia e homossexualidade. Temas espinhosos e polêmicos como esses são debatidos à luz das liberdades individuais e não sob o espectro obscuro de dogmas e preconceitos.

Aqui, cada um é livre para acreditar no que quiser e fazer o que bem entender, contanto que isso não prejudique o outro. Esse é o jeitinho holandês…

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