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Alcançamos a zona tropical africana, onde a chuva se faz presente dia sim, dia também. Na Tanzânia, quinto país do Tour d´Afrique, aprendemos, na marra, o que é pedalar no molhado, rezando pela impermeabilidade das nossas barracas e por um pouco de piedade por parte de São Pedro.

O calor forte e a alta humidade por aqui dão a impressão de que estamos pedalando em uma imensa sauna. A sensação de desconforto, entretanto, é aplacada pela experiência de percorrer, sobre duas rodas, as incríveis paisagens do país, com estradas recortando pequenas vilas, plantações e trechos de mata tropical fechada, onde também é possível avistar famílias de babuínos e outras espécies de macacos.

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Nas terras altas, ao Sul do país, as plantações de chá – um dos principais produtos da economia local – ganham um tom de verde-dourado com o sol da manhã, exalando um perfume único e envolvente, que dá energia para seguir pedalando mesmo nos trechos de escalada mais rigorosos.

No total foram oito dias consecutivos na estrada, incluindo cinco etapas de off-road, entre Arusha e Mbea. Com as chuvas torrenciais no fim de cada tarde, o trecho de terra se tornou um verdadeiro atoleiro, que desafiou até mesmo os ciclistas mais experientes do Tour d´Afrique.

Para alguns, colocar as rodas da bicicleta na lama foi um verdadeiro martírio. Para mim, ao contrário, foi pura diversão! Com uma mountain bike 29”, atravessei com prazer cada poça pelo caminho, espirrando água e lama por todos os lados.

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Alguns ciclistas, que tentavam manter a roupa branca e as rodas limpas, me olhavam com um certo ar de desconfiança e incredulidade, como que pensando: “Que diabos este brasileiro pensa que está fazendo?”. Para estes, tentei transmitir, em inglês, o conceito de expressões como “If you are on the hell, hug the devil” (Se está no inferno, abrace o capeta) ou “Who is rain, is to get wet” (Quem está na chuva é para se molhar).

No segundo dia de off-road, a organizações do TDA deu o alerta: “Be ready for the mud drama” (Estejam preparados para o drama da lama). Como prefiro ver a poça d´água meio-cheia (ao invés de meio-vazia), acabei batizando a experiência de “lamoterapia”, que funciona mais ou menos assim: a lama suja a bicicleta, as roupas e o corpo; ao mesmo tempo em que limpa a cabeça e lava a alma. E deu certo e consegui compartilhar a experiência com alguns amigos, que perderam o trauma da lama e aprenderam que, sobre uma bicicleta, se sujar faz bem.

No fim do dia, no acampamento, a lamoterapia foi coroada por um lindo arco-íris e complementada com um delicioso banho de chuva, com direito a xampu e sabonete. A experiência na Tanzânia foi, realmente, de lavar a alma.