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Mudança de cultura agregou 1 milhão de novos ciclistas na capital chilena
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Reprodução/Bicicultura.cl

Há cerca de seis anos, a bicicleta carregava o estigma de “símbolo do fracasso” no Chile. Em uma sociedade extremamente apegada às aparências e aos valores materiais, o carro representava o “status do sucesso” enquanto as magrelas eram relagadas aos trabalhadores menos qualificados, coisa de quem “não deu certo na vida”.

Hoje, a bicicleta ganha espaço nas ruas de Santiago e no coração dos chilenos. Em 6 anos, o número de ciclistas cresceu em 1 milhão na capital. E não foi o número de “fracassados” que aumentou; foi a mentalidade da sociedade chilena que evoluiu.

“A cultura da bicicleta tem um papel muito importante para transformar uma sociedade individualista e promover o associativismo. O que mudou foi a percepção social da sociedade em relação a bicicleta. É preciso mudar as ideias para mudar o mundo”, diz Amarilis Horta Tricallotis, diretora do Centro de Bicicultura, organização cidadã que promove a cultura da bicicleta na capital chilena.

A cicloativista esteve em Curitiba nesta quarta-feira (18) para participar do debate “Construindo uma nova cultura de Mobilidade Urbana”, parte da programação do III Congresso de Cultura e Educação para Integração da América Latina (Cepial). O evento reuniu cerca de 200 pessoas no auditório da Reitoria da UFPR.

Esse aumento exponencial no número de usuários da bicicleta como meio de transporte tem forçado o governo chileno a buscar alternativas para o trânsito da capital.

O aumento das tarifas de transporte público, a redução no tempo de viagem, assim como a maior consciência ecológica dos cidadãos, são as principais causas da invasão de ciclistas pelas ruas mais transitadas da Santiago.

Com uma área de aproximadamente 15,5 mil km2 e uma população de mais de 7 milhões de habitantes, a região metropolitana de Santiago possui cerca de 550 km de pistas reservados aos ciclistas, segundo dados do governo.

Danilo Herek/Cicloativismo.com
Amarilis: “O importante não é a bicicleta, é o ser humano. E a bicicleta representa o uso da energia humana”

Porém, de acordo com associações de ciclistas e usuários, esse número é enganoso, já que muitas dessas vias não cumprem os padrões de segurança, não se conectam entre si e, em muitos casos, têm enfoque unicamente recreativo.

“Andar de bici hoje é uma atitude militante. As ciclovias são interrompidas por entradas e saídas de veículos, árvores e pontos de ônibus. Não há tratamento específico nas intersecções, as guias não são rebaixadas, falta sinalização. Temos que disputar espaço com motoristas e pedestres o tempo todo”, diz, referindo-se à capital chilena (embora pareça estar relatando fielmente a experiência de pedalar por Curitiba).

Para Amarillis, a principal vantagem do uso da bicicleta, entretanto, está na transformação da relação do indivíduo com o espaço em que vive.

“A bicicleta nos faz pensar na cidade em que vivemos e em sonhar com a cidade queremos viver. O ciclista, para se manter equilibrado, não pode simplesmente ligar o ‘piloto automático’ o que o força a se relacionar com o mundo e com as pessoas a sua volta”, considera.

Segundo Amarillis, o crescimento no número de usuários da bicicleta tem forçado o governo chileno a apresentar soluções. “Os políticos tem usado o tema da bicicleta para mediatização, o que não é negativo. Somos uma força eleitoral”, reconhece. “Mas temos o direito de circular com energia humana. Deve haver um tipo de solução segura para todas as vias. Precisamos de ‘cicloruas’, onde as bicicletas tenham a preferência absoluta”, defende.

A UyT, uma empresa de consultoria chilena especializada em projetos de desenvolvimento urbano recentemente publicou estudo no qual contabiliza o número de bicicletas que passam por uma das ciclovias mais transitadas, entre às 8h e 9h. O resultado foi um fluxo de 180 ciclistas por hora, o que equivale a uma bicicleta a cada 20 segundos, 19% mais que em 2005.

http://www.flickr.com/photos/bilobicles
Mãe e filho no bairro Bellas Artes, em Santiago: nos últimos anos, Santiago foi invadida por usuários de bicicletas

“Isso significa que as ciclovias estão chegando ao limite de sua capacidade, podendo deduzir assim, que em um ano, estarão saturadas”, afirma Hernán Silva, responsável pela empresa.

O governo chileno se defende dizendo que a explosão de bicicletas como meio de transporte foi repentina e, de acordo com o crescimento, há planos de ciclovias que a médio prazo facilitará o trânsito dos usuários.

“Achamos que a adaptação da cidade respeita o aumento do uso da bicicleta. Não iremos só construir ciclovias, mas precisamos de planos de segurança, normas e programas de educação”, diz Rodrigo Henríquez, funcionário do Ministério de Transportes e Telecomunicações chileno.

Para Amarillis, entretanto, a maior revolução já aconteceu. “O importante não é a bicicleta, é o ser humano. E a bicicleta representa o uso da energia humana. Ter muita gente pedalando é ter gente transformando ideias, para que pessoas seja testemunhas presenciais de seus próprios mundos”, finaliza.

Bate-papo com Amarillis

Nesta quinta-feira (19) a Amarilis estará na Bicicletaria Cultural, a partir das 19 horas, para uma conversa sobre o trabalho do Bicicultura no Chile.

A Bicicletaria Cultural fica na Rua Presidente Faria, 226 (Subsolo) – Centro. (Clique aqui para ver o mapa)

Informações: (41) 3153 0022

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