O governo da cidade de Calcutá proibiu a circulação de bicicletas em seus 174 distritos — pasme! — para melhorar o trânsito.
Calcutá é a quinta cidade mais populosa da Índia, com 4,5 milhões de habitantes — a grande maioria usa a bicicleta como meio de transporte.
“Decidimos evitar que o tráfego nas vias fosse perturbado pelas bicicletas e outros veículos não-motorizados que se movem lentamente”, afirmou o chefe da polícia local, Hari Rajan, citado pelo jornal italiano Corriere dela Sera. “Além disso existe a questão da segurança: bicicletas foram usadas no passado para instalar bombas na cidade”, acrescentou.
A medida foi duramente contestada e levou o prêmio Nobel da biologia Venkatraman Ramakrishnan a escrever um artigo de opinião no jornal da cidade Telegraph Kolkata, onde classifica o ato de “uma vitória das “elites sobre as massas” e lembra que “grandes cidades em todo o mundo encorajam o uso da bicicleta”, que contribui também para reduzir a poluição e a importação de combustíveis, dois problemas que afetam a Índia.
A medida também foi criticada por organizações de defesa dos Direitos Humanos que acusam o governo de prejudicar essencialmente a parte mais pobre da população, que tem na bicicleta ser único meio de transporte. A restrição também atinge também triciclos e riquexás, pequenas carroças puxadas por pessoas e usadas como táxis.
A Índia é aqui
Na década de 1970, o economista brasileiro Edmar Bacha criou o termo Belíndia, para falar de um país desigual, que tem, ao mesmo tempo, aspectos de desenvolvimento da Bélgica e de subdesenvolvimento da Índia.
Mais impressionante que a “brilhante ideia” do governo de Calcutá, é constatar que, passadas 4 décadas, o Brasil continua mais Belíndia do que nunca. Só esperamos que os ideólogos do atraso por aqui não encontrem eco ao defender a “solução” indiana para melhorar o trânsito. É preciso ter o modelo de desenvolvimento belga como Norte. E só chegaremos lá pedalando.
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