| Foto:

* You! Where are you go? (Você! Para onde você vai?)

CARREGANDO :)

Nas escaladas intermináveis das montanhas, nas descidas íngremes ou mesmo nas pequenas vilas, pedalar na Etiópia tem sido uma experiência intensa e reveladora. O país, encravado no Chifre Africano, guarda surpresas a cada curva — e são muitas delas pelo caminho.

Publicidade

Deixamos para trás as áridas paisagens desérticas do Egito e Sudão para percorrer lindas paisagens recortadas por vales e montanhas. Ao longo do leito do Nilo Azul, encontramos campos férteis com diversas culturas agrícolas e criações de gado e cabras.

A parte triste surge com a constatação de que grande parte do trabalho tanto nas lavouras quanto no pastoreio do rebanho é feito por crianças, às vezes com apenas quatro ou cinco anos de idade.

Mas nem o trabalho precoce tira a alegria de viver desssas crianças. Em cada vila que passamos, somos saudados por uma sinfonia de pequenos dizendo ao mesmo tempo “Iu-iu-iu-iu-iu” (do inglês, you; você), uma forma local de se dirigir aos estrangeiros, enquanto nos acenam.

Ao contrário dos outros países, em que éramos recebidos por saudações como “hello” ou “Salam-aleikum”, aqui na Etiópia somos diretamente questionados: “You! Where are you go?” (Você! Para onde você vai?). Chega a ser engraçado e ninguém ainda conseguiu descobrir de onde vem essa curiosidade, que se repete exaustivamente praticamente a cada metro: Iu-iu-iu! Uerariugô?

Publicidade

Basta responder o nome da próxima cidade ou da capital, Addis Ababa, e recebemos de volta um sorriso e a confirmação: Yesss!!!

Outros, mais velhos (e mais espertinhos), tentam a sorte esfregando o polegar e o indicador enquanto gritam “Birr! Birr! Birr!” — birr é o nome da moeda local – ou exercitam o que aprenderam nas aulas de inglês com “Money, money!”.

A Etiópia é um país extremamente pobre, mas o etíope tem um profundo orgulho de seu país. Essa é uma das nações mais antigas do planeta, tem uma língua própria (o amárico) e é um dos únicos países do continente que escapou relativamente ileso do processo de colonização europeu – apesar da investida da Itália na década de 1930.

Mas todo esse orgulho é deixado de lado na hora de admirar outro país: o Brasil. Nas cidades ou vilas, não é difícil encontrar adultos e crianças vestindo roupas com a inscrição “Brasil” ou versões da camisa da seleção brasileira com nomes como Ronaldo, Ronaldinho ou Rivaldo.

Publicidade

Nas pausas para descanso ou paradas para um cafezinho, ostentar a bandeira brasileira no ombro é sempre um cartão de visitas que ajuda a conquistar a simpatia da população local.

E, por falar em cafezinho, na Etiópia, cafezinho (buna, em amárico) se prepara na rua, com água fervida na brasa. Enquanto prepara o café, eles colocam em um defumador a casca de uma planta local, que tem cheiro de incenso.

O café etíope, aliás, é considerado um dos melhores do mundo. Reza a lenda que foi por essas bandas que um pastor percebeu que suas cabras ficavam mais saltitantes quando comiam o fruto vermelho de um arbusto nativo da região.

Hoje o café é o principal produto de exportação do país e que mais gera emprego e renda na economia local. Uma xícara, nas vilas do interior do país, custa 3 birr (equivalente a R$ 0,32). É uma saborosa fonte de energia entre um pedal e outro!