Não foi só promessa de candidato: cumprindo um
O gesto — inédito no cenário político nacional — é carregado de simbolismos e coloca definitivamente o tema da ciclomobilidade na agenda pública da capital paranaense, consolidando a bicicleta como ferramenta de transformação da cidade.
Mesmo assim, certamente, haverá quem prefira apontar que a bicicleta do prefeito estava sem espelho retrovisor do lado esquerdo, ou ainda, quem diga que tudo não passa de demagogia e jogada de marketing de Fruet. Mas, se fosse apenas pelo modismo ou para ficar bem na foto, bastaria o registro de uma pedalada no Parque Barigui em uma coluna social.
Entretanto, ao colocar a bicicleta em destaque naquele que provavelmente é um dos momentos mais importantes de sua vida, Fruet passa um sinal de que está disposto a imprimir uma administração mais voltada às pessoas do que preocupada em construir binários e viadutos estaiados, como aquela que acaba de se encerrar.
“Ao final deste ciclo de quatro anos, quero ser lembrado como um prefeito democrata (…), que resgatou o conceito de cidade sustentável, que no momento está em risco por conta do acelerado crescimento que a cidade enfrenta. A vinda hoje para a posse de bicicleta simboliza essa transição”, disse o novo prefeito durante o discurso de posse.
No mesmo discurso, ele também fez questão de frisar que uma de suas metas é fazer com que o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) volte a ser referência na sua área de atuação.
Após ser empossado na Câmara Municipal, Fruet seguiu pedalando até o Palácio 29 de Março, no Centro Cívico, escoltado por dezenas de ciclistas e cicloativistas.
Ainda antes de ser eleito, em entrevista ao Ir e Vir de Bike, Fruet justificou a importância de ir à posse pedalando dizendo que o prefeito deve saber exercer seu papel de liderança. “É preciso mostrar que aquilo é pra valer. Eu sei que isso dá margens para todos os tipos de reação, mas é importante, é necessário, é um gesto estimular transportes alternativos”, disse.
É preciso reconhecer que este é um gesto importante que enche de esperanças quem compartilha o sonho de uma cidade mais amiga das bicicletas.
Mas todo esse simbolismo deverá ser transformado em ações efetivas durante o mandato, que garantam um sistema cicloviário seguro e integrado e a retomada da Curitiba que já foi exemplo para o Brasil e para o mundo nas áreas de mobilidade urbana e sustentabilidade e motivo de orgulho para os curitibanos.
Transformar essa ação simbólica em rotina – nem que seja uma vez por mês – e exigir que os responsáveis pelas áreas de planejamento urbano, trânsito e mobilidade façam o mesmo terá grandes efeitos na forma como a administração pública pensa e planeja a cidade.
Planos e projetos
Durante a corrida eleitoral de 2012, Fruet assinou a “Carta Compromisso – 10 Pontos para uma Cidade Ciclável”, formulada pela Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (CicloIguaçu). Dentre os principais pontos do documento, estão a implantação de um sistema cicloviário nas vias estruturais da cidade (paralelo às canaletas do ônibus expresso); a criação de campanhas educativas permanentes, acompanhadas de efetiva fiscalização da Secretaria de Trânsito (Setran) em casos de descumprimento do Código de Trânsito Brasileio; e, a criação de um departamento de mobilidade não-motorizada na Setran, para servir de eixo de formulação e implantação de políticas públicas de mobilidade.
O plano de governo de Fruet prevê a implantação de 300 quilômetros de infraestrutura cicloviária na capital paranaense, além da criação de rotas para pequenos deslocamentos dentro dos bairros.
Se cumprida a meta, somada à recuperação dos atuais 118 quilômetros – também compromisso firmado pelo candidato –, Curitiba pode chegar em 2016 com cerca de 420 quilômetros de infraestrutura cicloviária; índice comparável ao da cidade de Bogotá, capital da Colômbia, que se tornou referência na área de mobilidade urbana.
Ainda durante a campanha, ao comentar seu plano para a ciclomobilidade, Fruet disse acreditar que “a bicicleta é um caminho sem volta”. A meta do novo prefeito para a área é o de criar condições para que entre 5% e 10% dos deslocamentos diários na capital paranaense sejam feitos por bicicletas.
O número tem como base o índice de uso de bicicletas em cidades que investiram e criaram condições seguras para o uso desse modal. Isso significa de 62 mil a 125 mil carros a menos em circulação nas ruas da cidade. Em linha reta, essa frota ocupa diariamente mais de 360 quilômetros das vias de Curitiba.