Pedalar as margens do rio Sena, cruzar a Ponte de Neuf e seguir até a Catedral de Notre Dame. Passar pela Place de la Concord – palco da linha de chegada do lendário Tour de France – e depois estacionar a bicicleta no Louvre, cujo prédio, por si só, já é uma obra de arte digna de contemplação. Paris é uma cidade charmosa e encantadora que fica ainda mais interessante quando explorada sobre duas rodas.
Pedalar na capital francesa é uma experiência marcante e, sobretudo, reveladora. Com uma extensa rede de ciclovias e ciclofaixas, um sistema público de aluguel de bicicletas eficiente e uma invejável cultura de respeito no trânsito, torna-se praticamente impossível não se apaixonar pela cidade.
Se o trânsito reflete a alma de uma sociedade, Paris prova que o caminho para tornar-se uma urbe bem resolvida passa, necessariamente pela integração da bicicleta no cotidiano da cidade. Homens de negócios pedalam de terno e gravata. Mulheres parisienses saem das boutiques da Champs Elysees e voltam pedalando com as sacolas na cestinha. Idosos vão ao supermercado de bicicleta e crianças vão e voltam da escola pedalando.
Sim, como em qualquer outra grande cidade ao redor do mundo, em Paris também há carros, trânsito e até mesmo engarrafamentos. Mas isso não é um impeditivo para que as pessoas que optam pela bicicleta como meio de transporte possam pedalar em segurança. Há uma cultura enraizada do respeito ao próximo e, principalmente, da proteção ao mais frágil.
Atravessar a rotatória do Arco do Triunfo de bicicleta, por exemplo, pode parecer em um primeiro momento uma missão quase suicida, dado o volume de tráfego e entradas e saídas de veículos. Mas, uma vez que você está ali, basta sinalizar com o braço a intenção de mudar de faixa que os motoristas cedem a vez, respeitando o direito do ciclista de também trafegar pelas ruas.
O mesmo ocorre em qualquer cruzamento da cidade. Não há a disputa por espaço ou uma tentativa de motoristas de se impor no trânsito, na base da velocidade ou da força das cilindradas. As ciclofaixas, na maioria das vezes, são compartilhadas com os ônibus e, o que se vê é simplesmente ônibus e bicicletas trafegando juntos, provando que nada é impossível quando há um mínimo de cultura de respeito e civilidade.
Os boulevards, com amplas calçadas, dão prioridade aos pedestres. Ciclovias e ciclofaixas permitem o deslocamento seguro sobre duas rodas para qualquer ponto da cidade. Soma-se a isso a bem-sucedida experiência do Vélib’, a rede de bike-sharing parisiense. O sistema conta com 23 mil bicicletas espalhadas em 1.751 estações – incluindo as 300 estações do metrô da cidade. O serviço custa cerca de 20 euros por ano e permite o uso gratuito das bicicletas por até 30 minutos, de forma integrada com os outros modais.
Em ruas secundárias e áreas de comércio, foram implantadas as chamadas Zonas 30, em que a velocidade máxima para os veículos motorizados é de 30 quilômetros por hora. Nas chamadas “zonas de encontro”, esse limite cai para 20 km/h e as ruas são ocupadas, ao mesmo tempo, por carros, bicicletas e pedestres. Há claramente a visão de que a cidade é feita para as pessoas. É isso o que faz de Paris um lugar tão especial.
*O jornalista viajou a convite do Ministère des Affaires Étrangères do governo da França.