Curitiba sediou a 3ª edição do Fórum Mundial da Bicicleta (FMB3). Ponto — no sentido figurado e no sentido gramatical. O encontro, que recebeu aproximadamente 1,5 mil inscritos de 20 estados e do Distrito Federal e outros 12 países, colocou a capital paranaense no centro do debate sobre o cicloativismo e a mobilidade urbana sustentável. Mas, passada a euforia do evento, é hora de fazer um balanço, na tentativa de avaliar o “legado” do Fórum para a cidade.
Se o termo — tão em voga quando se fala da realização de grandes eventos – for usado na esperança de descrever uma eventual herança na infraestrutura cicloviária da cidade, o tombo será feio. Na prática, com exceção dos tapetes vermelhos nos cruzamentos, pouca coisa mudou para quem pedala em Curitiba depois do Fórum. Mas uma valiosa semente foi plantada e isso deve fazer toda a diferença.
Com convidados internacionais de altíssimo nível, o FMB3 promoveu discussões, debates e palestras nas mais diversas abordagens: da economia ao ativismo, do cicloturismo ao planejamento urbano. Quem participou do Fórum certamente se enriqueceu culturalmente e se tornou mais apto para entender a importância da bicicleta como ferramenta de desenvolvimento de pessoas e cidades.
Em suma, o FMB3 foi capaz de construir um patrimônio imaterial de valor inestimável: a formação de cidadãos participativos e conscientes. E cidades como Amsterdam, Copenhagen, Nova York e Cidade do México já provaram que apenas a mobilização cidadã é capaz de transformar as cidades em espaços mais amigos da bicicleta – e, consequentemente, mais humanos.
Veja o vídeo da Bicicletada do FMB3
Também vale destaque a organização do evento, que durante um ano ajudou a talhar um grupo de escol. Trabalhando incansavelmente de forma voluntária, investindo tempo e dedicando amor à causa das duas rodas, a equipe foi capaz de realizar um evento praticamente impecável. Toda essa gana, certamente, será a amalgama para manter o movimento cicloativista vivo, criativo e cada vez mais forte em Curitiba.
Outro patrimônio imaterial é o estímulo à integração de mais ciclistas ao dia a dia da cidade. Esse tipo de evento serve como catalizador, estimulando e encorajando mais pessoas a usarem a bicicleta como meio de transporte. E esse tipo de decisão tem efeitos mais do que benéficos no tecido social. Como explicou o arquiteto alemão Lars Gemzøe, está mais do que provado que há uma relação direta entre o número de ciclistas e a percepção de segurança no trânsito das cidades. E esses efeitos são exponenciais quando mais mulheres e crianças estão sobre duas rodas.
M de Medellín, M de Mundial
Onde estará o FMB em 2024? Qual será a contribuição deste avento para o planejamento das nossas cidades? Para alguns, pode até parecer pretensão, mas, certamente, uma parte da história do movimento cicloativista foi escrita em Curitiba entre os dias 13 e 16 de fevereiro de 2014.
Criado em 2011 em Porto Alegre para marcar um ano do atropelamento coletivo dos ciclistas da Massa Crítica, o Fórum Mundial da Bicicleta foi crescendo e ganhando corpo a cada edição. Em Curitiba, o FMB atingiu a maturidade para dar o próximo passo e se tornar, definitivamente, um evento global — não apenas no nome.
A cidade de Medellín, na Colômbia, levou o direito de sediar o evento na assembleia final do Fórum, em uma disputa acirrada com Manaus, que foi vencida com uma diferença de apenas oito votos. Esta foi a primeira vez na história do evento em que houve disputa entre cidades para ser a próxima sede. Joinville (SC), Florianópolis, João Pessoa, Manaus e Medellín apresentam suas candidaturas.
“É imprescindível que o evento jamais perca sua característica mais importante, que é a de ser um evento horizontal, colaborativo e feito de pessoas para pessoas”, disse o colombiano Carlos Cadena Gaitán, que advogou pela realização do evento em Medellín e se comprometeu a manter esses princípios.
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