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O Tour d´Afrique (TDA) chegou ao Quênia justamente na semana em que o país vai às urnas para as primeiras eleições gerais sob a nova Constituição, após o pleito que culminou no sangrento episódio de 2007, quando mais de 1,2 mil pessoas morreram e centenas de milhares tiveram suas casas incendiadas e ficaram na condição de refugiadas em seu próprio país.

A votação transcorre em aparente clima de tranquilidade no país nessa segunda-feira (4), mas o risco de uma nova onda de violência fez com que a organização do TDA cancelasse cinco dias de pedal (estágios) desta etapa da viagem.

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Com isso, foi adotado um plano de contingência e percorremos de ônibus um trecho de mais de 360 quilômetros entre Moyale, na fronteira com a Etiópia, e Nanyuki, a cinco quilômetros ao Norte da Linha do Equador.

Perder cinco dias de pedal deixou muita gente chateada, mas o quadro poderia (e ainda pode!) ser muito pior. Em 2007, no auge da onda de violência, o Quênia foi simplesmente riscado do mapa e os ciclistas tiveram de sobrevoar o país.

Desta vez, apenas o trecho considerado mais crítico foi abortado. A decisão foi para evitar que estivéssemos literalmente no meio do nada, sem acesso a comunicação e suprimentos, caso a situação se agrave.

A cidade de Nanyuki foi escolhida por abrigar uma base militar norte-americana e outra britânica que podem prestar apoio diante de qualquer necessidade. Além disso, há um aeroporto local que pode ser usado para deixar o país rumo à Tanzânia caso a situação se deteriore.

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Embora as autoridades locais jurem de pé juntos que não há perigo de distúrbios políticos, observadores internacionais e fontes diplomáticas veem a situação com um pouco mais de cautela. Um suíço que participa do TDA e ocupa um cargo diplomático em Washington recebeu a recomendação pessoal do chefe do setor de segurança de seu país para não entrar no Quênia durante esse período. Outra fonte das Nações Unidas (ONU) consultada pela organização do Tour recomendou “cautela máxima” e disse que há risco de distúrbios violentos por conta do resultado das eleições.

Já o Itamaraty espera que as eleições transcorram de modo pacífico, mas recomenda cautela a viajantes brasileiros que visitam o país no período eleitoral. Para a comunidade brasileira residente no país, a representação brasileira em Nairóbi preparou um documento com recomendações de medidas de precaução. Por via das dúvidas, notifiquei à embaixada brasileira sobre minha presença no país e informei o número do celular via satélite da organização do TDA caso haja qualquer emergência.

A avaliação geral é de que em seis anos as feridas podem não ter cicatrizado o suficiente e o resultado das urnas pode ser o estopim para eclodir uma nova onda de violência intertribal.

Em 2007, Kibaki – representante da tribo Kikuyu, a maior das mais de 40 etnias que habitam o país — foi declarado vencedor das eleições, mas seu rival Odinga – da tribo Luo – contestou o resultado, alegando fraude.

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Cada lado foi às ruas defender seu líder, dando início a uma escalada de violência, que ganhou força com a histórica rivalidade entre as tribos, resultando em “alianças” com outras etnias que transformou a disputa política em uma verdadeira guerra, com pessoas mortas a golpes de facão e lanças e vilas inteiras incendiadas.

A violência só teve fim em fevereiro de 2008, após um acordo intermediado pelo ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que resultou na formação de um governo de coalizão com a criação de um gabinete de primeiro ministro para Odinga e impedindo Kibaki de concorrer a um segundo mandato.

Nestas eleições são oito candidatos disputando a presidência. Os dois principais são Raiala Odinga e Uhuru Kenyatta, que são filhos do primeiro vice e do primeiro presidente do país, respectivamente. Além deles, disputam a eleição Martha Karua – a única mulher –, Musalia Mudavadi, Peter Kenneth, Mohammed Dida, Paul Muite e James Ole Kiyiapi.

Todos se comprometeram publicamente em aceitar o resultado das urnas e não insuflar rivalidades étnicas. Espera-se que assim seja, para o bem de todos e principalmente para o bem do próprio Quênia.