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“A gente está no ano de eleições municipais. O candidato a prefeito que não tiver uma proposta concreta e viável para tornar o uso da bicicleta inteligente e seguro nas cidades – não sei se vou exagerar aqui, é uma opinião minha – não merece o voto do eleitor, esse cara está desconectado da realidade”.

A frase acima é parte de um comentário do jornalista André Trigueiro, especialista em sustentabilidade e repórter da Rede Globo, Globonews e da Rádio CBN.

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Sem medo de exagerar aqui – é uma opinião minha – a avaliação é absolutamente precisa e esse deve ser o mote das eleições municipais nas grandes metrópoles brasileiras em 2012; ao menos nos grandes centros onde há uma massa crítica suficientemente organizada, politizada e que pedala (ou, pelo menos, que sonha em fazê-lo sem que, para isso, tenha de arriscar a própria vida!).

São Paulo, Aracajú, Belém, Belo Horizonte e Goiânia já realizaram (ou estão realizando) consultas públicas com o objetivo de levantar as prioridades para estimular o uso da bicicleta como meio de transporte. Na maioria dessas capitais, os resultados da pesquisa estão ajudando a criar uma Carta de Compromissos, que começa agora a ser recebida pelos candidatos à prefeitura.

Em Curitiba, a Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (CicloIguaçu) está se preparando para também organizar uma consulta pública, que deve ser anunciada formalmente nos próximos dias.

Na capital paulista, essa mobilização já trouxe a bicicleta para o centro do debate sobre o futuro da cidade e colocou os candidatos para correr – ou melhor, pedalar. Afinal, qualquer marqueteiro minimamente funcional já se deu conta de que, sem propostas concretas e viáveis para as bicicletas, a candidatura pode perder votos importantes.

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Neste sábado (15) o candidato do PMDB à prefeitura paulistana, Gabriel Chalita, foi o primeiro postulante ao Palácio do Anhangabaú a assinar a carta de compromisso com os ciclistas, que lista 10 pontos para promover e garantir a mobilidade por bicicletas na cidade. Chalita também pedalou com membros da Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo (CicloCidade).

Já o candidato José Serra (PSDB), que pedalou por uma ciclovia pela Zona Leste, apresentou como sua meta principal para a área expandir o total de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas da cidade dos atuais 183 quilômetros para 400 quilômetros.

Prometeu ainda triplicar o número de pontos de empréstimo de bicicletas do programa São Paulo Bike, dos atuais 100 para 300 em 2014. Por fim, o tucano disse que buscará desenvolver uma campanha educacional específica de respeito e conscientização dos ciclistas, semelhante à desenvolvida atualmente voltada para a segurança dos pedestres.

O candidato Fernando Haddad (PT), também pedalou neste domingo com representantes da CicloCidade e aproveitou para também assinar a carta de compromissos da entidade. Como proposta, o petista disse que pretende integrar o empréstimo de bicicletas ao Bilhete Único do sistema de transporte paulistano.

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A ideia é oferecer empréstimo gratuito por até três horas de uso integrado com trens, ônibus ou metrô e R$ 0,20 para quem usar apenas a bicicleta nos deslocamentos pela cidade.

Já o candidato do PDT, Paulinho da Força, ao falar sobre o tema em uma entrevista à rádio Bandnews, disse que não fará ciclovias para ligar a periferia ao centro da cidade, por considerá-las “um convite para a morte”. De acordo ele, “ciclovia significa mais complicação” e deveria ser limitada aos bairros periféricos, tendo no máximo “de três ou cinco quilômetros, mas dentro dos bairros”.

Após a repercussão negativa da “proposta”, ele voltou atrás e, por meio de nota, disse considerar importante e saudável construir ciclovias na região central.

“O que defendo é que isso seja feito de maneira organizada, dentro de um plano mais amplo de transportes, construído com a participação da sociedade. Fazer com que a bicicleta dispute o espaço com pedestres e carros, como tem acontecido em nossa cidade, isso sim é um erro e um perigo de morte para os ciclistas”, justificou o candidato. “Aumentar o uso da bicicleta na cidade é positivo e poderá melhorar o trânsito, diminuir a emissão de poluentes, dar mais qualidade de vida às pessoas e reforçar as relações dos cidadãos com a cidade”, encerra a nota.

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Curitiba

Na capital paranaense, quem saiu na frente, pelo menos para não perder o timing político, foi o candidato do PDT, Gustavo Fruet que, à exemplo dos candidatos paulistanos, promoverá sua “pedalada” no próximo sábado (21).

Mas pedalar só para ficar bem na foto pode não ser a estratégia mais inteligente. O que Curiba precisa são propostas concretas e ideias inovadoras para integrar a bicicleta no plano de mobilidade urbana.

E, nesse sentido, todos os candidatos curitibanos ainda estão deixando a desejar. Não sei se vou exagerar aqui, é uma opinião minha – mas, por enquanto, nenhum merece o voto do eleitor curitibano. Esses caras estão todos desconectados da realidade…

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Minoria democrática

Nós cicloativistas não somos maioria nem temos a menor pretensão de ser. Mas a Democracia pressupõe essencialmente proteger os direitos das minorias contra a “tirania da maioria”. Isso se aplica também na questão da mobilidade e do trânsito das nossas cidades.

Essa minoria se faz presente em Curitiba, São Paulo, Aracajú, Belém, Belo Horizonte, Goiânia, João Pessoa, Porto Alegre, Manaus, Rio de Janeiro, Recife e está assumindo o protagonismo cidadão e ajudando a discutir o futuro das cidades que queremos, com a apresentação de propostas, ao invés de ficar apenas reclamando “que políticos são todos iguais” em espaços de comentários de blogs ou no Facebook.

Ainda que nem todos queiram deixar o carro e pedalar, 2% da frota de Curitiba significa 25 mil carros a menos circulando nas ruas. Em linha reta, esses carros ocupariam 72,5 km de espaço nas ruas da cidade, causando lentidão e congestionamentos.

Os mesmos 25 mil carros consumiriam cerca de 40 mil litros de combustíveis para percorrer 20 km por dia, em média, durante uma semana. Nesse período, os 2% que preferem a bicicleta deixam de emitir quase 1 mil toneladas de CO2 na atmosfera.

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No fim das contas, os 98% que andam de carro também saem ganhando com essa minoria que insiste em pedalar, apesar de todas as adversidades.

Na capital da Dinamarca, apesar do frio e da neve, 50% dos deslocamentos diários são feitos de bicicleta. Não é por acaso que o país é apontado como líder no ranking de qualidade de vida no planeta.

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