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Nesta quarta-feira (9), a Prefeitura de Curitiba deu início a chamada “Operação Canaleta”, para fiscalizar o trâfego irregular de viaturas policiais, ambulâncias, skatistas e ciclistas nas canaletas exclusivas do transporte coletivo.

A ação é muito mais um factóide, para responder às pressões do sindicato dos motoristas e gerar mídia para a prefeitura do que uma tentativa real de resolver o problema.

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Já escrevi diversas vezes neste espaço (aqui, aqui e aqui) e reitero: pessoalmente, sou absolutamente contra o uso da canaleta por ciclistas. Não pedalo nelas e não indico que ninguém o faça, já que defendo, por princípio, o direito de todo ciclista compartilhar as ruas em segurança.

Mas pergunto: qual a alternativa que a Prefeitura oferece para quem faz das canaletas sua ciclovia gigante na falta de manutenção ou ausência destas?

Quem pedala na canaleta o faz por se sentir mais seguro ali do que compartilhando as ruas com motoristas que, em geral, se acham donos do espaço e não raro usam suas armas para ameaçar e intimidar quem se dispõe a provar o contrário.

Como me escreveu um amigo cicloativista, “a decisão, tomada por pessoas que não pedalam a partir da solicitação de pessoas que não pedalam”, apenas aumenta os riscos. A estratégia é burra: querem tirar ciclistas acostumados a pedalar na canaleta e jogá-los em um trânsito caótico e sem leis?

A própria Setran, em seu site oficial alerta: não arrisque sua vida confiando que o motorista tem que respeitá-lo; (item 13)
Genial, mas, desculpe a sinceridade: vai dar merda!

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No dia em que a prefeitura iniciou a operação, a leitora Suiane Cardoso escreveu ao blog: “Hoje (9) de manhã vi um motorista da empresa de ônibus Reunidas tirar uma fina de uma ciclista na frente da rodoferroviária só pra dar ‘um sustinho’. O babaca se acabou de rir quando viu que a menina se apavorou. Ela estava tentando pedalar na rua e não na canaleta”.

Se é para mobilizar, para fazer “cumprir as leis”, que se instrua os agentes de trânsito, que se crie ciclorrotas, implante sinalização vertical, faixas educativas, ciclovias e campanhas de educação focadas exclusivamente na relação ciclistas-motoristas. Além, claro, de multar motoristas que desrespeitam ou ameaçam ciclistas. Acha que isso só daria certo na Holanda? Pois saiba que todas essas ações já estão sendo implantadas na cidade de São Paulo.

Por aqui, a tal campanha educativa, que já foi prometida e reiterada pelo prefeito e pelos órgãos responsáveis ainda não saiu do papel. As iniciativas neste sentido, digamos, não saíram como o esperado e se tornaram motivo de chacota (aqui e aqui).

O uso da canaleta é, antes de mais nada, um sintoma da falta de vias seguras e cicláveis ligando diferentes pontos da cidade. Mesmo onde existem ciclovias, os ciclistas preferem usar as canaletas. isso porque as primeiras estão abandonadas, sem sinalização adequada, com buracos e obstáculos como postes, pontos de ônibus e raízes de árvores.

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Se quer que os ciclistas saiam delas, que se ofereçam alternativas seguras, sinalização adequada, campanhas educativas, ciclorrotas, ciclovias, ciclofaixas.

A fiscalização, claro, também deve existir. Preferêncialmente para fazer valer o artigo que prevê que os ciclistas têm preferência sobre os veículos automotores e que os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados.

Discutindo alternativas

Se é para resolver de fato o problema, então que a prefeitura se comprometa a discutir, com seriedade, a alternativa do uso compartilhado das canaletas, como fazem cidades com um grau mínimo de civilidade no trânsito e de seriedade no planejamento urbano. Ou então, que se implante ciclofaixas nas vias lentas dos eixos estruturantes, ao lado de todas as canaletas.

Agora, se for para manter a política de ações espetaculosas, que se deflagre então, de forma permanente, a “Operação Ruas Seguras”; a “Operação Sinalização Adequada”; a “Operação Educativa”; e a “Operação Ciclorrotas, Ciclovias e Ciclofaixas”.

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