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O mundo do marketing e da publicidade descobriu que associar a bicicleta a uma marca é um bom negócio. Recentemente empresas como O Boticário, Caixa Econômica Federal, Mapfre e até mesmo a Renault colocaram no ar campanhas em que a bicicleta aparece como ferramenta para associar suas marcas a valores como liberdade, independência, juventude, qualidade de vida e preocupação socioambiental.

Mas qualquer estagiário da área da propaganda sabe que dizer uma coisa e entregar (ou praticar) outra não é uma estratégia das mais honestas ou inteligentes. Este é o caso do Grupo Educacional Opet, instituição privada de ensino que mantém um colégio e uma faculdade em Curitiba. A Opet também lançou mão do veículo de duas rodas em uma campanha recente, na qual afirma que, até mesmo coisas simples, como pedalar, exigem prática.

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Mas faltou fazer a lição de casa. Na última sexta-feira (24), a faculdade — – que oferece em sua grade cursos de Publicidade e Propaganda e de Marketing – brindou seu público interno com uma nova campanha, desta vez, proibindo os alunos de estacionarem suas bicicletas nas dependências do colégio e da faculdade na sede da Avenida Getúlio Vargas.

A situação criou transtornos para alunos que vão para as aulas pedalando. O aluno Murillo Lopes usou as redes sociais para denunciar a situação. “Estou com um problema. Fui proibido de estacionar a minha bike na faculdade Opet. Que posso fazer para mudar este quadro, pois a bike ainda é o meu único meio de transporte?“, questionou.

Do ponto de vista do Direito, a faculdade tem legitimidade de regular o uso de seu espaço interno, que é privado. Mas a opção por dificultar o uso da bicicleta por seus alunos, ao invés de estimulá-lo, vai na contramão do discurso de uma instituição de ensino que se diz “conectada com a realidade do mercado”. Muitas empresas, inclusive multinacionais, descobriram que a bicicleta é uma forma de manter seus funcionários motivados e saudáveis e criaram campanhas de incentivo ao uso deste meio de transporte.

Além do mais, é preciso encarar que vivemos uma transformação, em que, cada vez mais, a bicicleta aparece como opção viável de transporte. Para uma empresa, estar atenta e se antecipar a esses desafios pode ter muito mais efeito que qualquer campanha de marketing bem bolada; já ir contra, pode ser um verdadeiro tiro no pé.

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Retirando a vaga de estacionamento de um único carro, a faculdade pode oferecer de 10 a 12 vagas de estacionamento para bicicletas em suas dependências. Lembrando que a bicicleta não polui. Isso sim é ser sustentável.

Mas, além de negar vagas para as bicicletas, parece que a faculdade também não abre espaço para o diálogo e para as práticas democráticas. A melhor via para solucionar o impasse seria o encaminhamento da demanda à direção através dos órgãos de representação estudantil, como Centros Acadêmicos (CAs) ou Diretório Central dos Estudantes (DCE). Mas, segundo o estudante da Opet, o regimento interno da instituição veda a livre associação dos estudantes. “Já foi tentado uma vez [a criação de um DCE] e não foi aceito pela instituição”, alega.

Se de fato existe tal previsão no regimento ou mesmo um veto informal da administração, eles violam o direito à livre associação, garantia fundamental assegurada pela Constituição Federal.

De fato, até as coisas mais simples exigem prática. O setor administrativo da Opet provavelmente já aprendeu a trocar lâmpadas, amarrar cadarços e a martelar. Falta agora aprender a respeitar direitos, abrindo espaço tanto para as bicicletas quanto para as entidades estudantis.

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Atualização – 27/8 (17h30)

Procurado pelo blog, o Grupo Educacional Opet informou que oferece estacionamento próprio gratuito para veículos, motos e bicicletas em sua sede do Centro Cívico.

Já na sede do Rebouças, onde placas de proibição foram colocadas na última sexta-feira (24), a instituição informa que firmou um convênio com um estacionamento privado (Estacionamento Pakim), que fica localizado na Avenida Presidente Getúlio Vargas nº 984, bem ao lado da Opet.

“Com o propósito de garantir mais segurança ao aluno e ao seu patrimônio, firmamos o convênio. Com essa parceria, o estudante Opet pagará um valor reduzido pelo serviço de estacionamento de bicicleta, ou seja, apenas R$ 15 por mês”, diz nota enviada pela assessoria de imprensa da instituição.

Ainda de acordo com a nota, a Opet “está reforçando a comunicação interna para que o convênio seja do conhecimento de todos os alunos e incentive a prática saudável do uso de transporte alternativo”.

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Segundo a assessoria, houve a proibição porque alguns estudantes estavam guardando suas bicicletas em local inadequado.

Sobre a questão das entidades estudantis, a assessoria garante que desde as séries iniciais da Educação Básica, até o Ensino Superior, estimula e apoia o exercício pleno da cidadania e o respeito aos princípios democráticos.

“Cumprimos rigorosamente a legislação que ampara a criação e funcionamento de Centros Acadêmicos (CAs), procedimento que faz parte do Regimento das Faculdades Opet [artigo 74]. Temos, por exemplo, o Centro Acadêmico de Direito Opet. Além disso, em nossos cursos superiores existem os Representantes de Turma, que encaminham para professores, coordenação de curso e para os gestores de diferentes áreas suas demandas, sugestões e pedidos de esclarecimentos necessários ao bom andamento do curso. Uma série de programas internos facilita o acesso dos alunos às direções e demais órgãos da instituição. E, regularmente, realizamos avaliação institucional com a totalidade dos nossos alunos”, encerra o texto.

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