O governo do Paraná promete fazer da bicicleta um assunto de estado. A Secretaria do Meio Ambientee Recursos Hídricos dará início à elaboração de uma política estadual para incentivo ao uso da bicicleta, o “Ciclo Paraná”. O programa será desenvolvido em parceria com cicloativistas, universidades e órgãos de governo com o objetivo de nortear os municípios paranaenses que tiverem interesse em aderir à iniciativa.
O secretário do Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida, explica que para colocar o Programa em prática a ideia é somar esforços com a Sanepar, que já desenvolve uma ação em Maringá neste sentido, com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano – responsável por projetos de mobilidade – Departamento de Trânsito o Paraná (Detran/PR), Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e outros órgãos de governo. “É uma proposta que agrega as pessoas e beneficia o meio ambiente, as cidades, a saúde da população e ainda pode gerar economia para os municípios”, define.
Nesta semana, o diretor-geral da secretaria, Caetano de Paula Júnior, recebeu representantes da Federação Paranaense de Ciclismo (FPC) e da Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (CicloIguaçu), do Programa CicloVida da UFPR e do ArteBiciMob. Durante o encontro foram discutidos eixos de ação do programa, que prevê a criação de rotas municipais de cicloturismo no Paraná – com sinalização específica para os ciclistas, a instalação de paraciclos nas Secretarias de Estado, campanhas educativas de trânsito e meio ambiente, debates sobre o Plano Municipal de Apoio à Bicicleta, campanhas de incentivo à carona solidária e, ainda, a criação de um departamento de apoio à mobilidade não-motorizada.
Para multiplicar as discussões em diferentes regiões, o Programa Ciclo Paraná prevê a criação de núcleos de mobilidade urbana, com ênfase no uso da bicicleta, nas universidades estaduais.
O coordenador do Programa Ciclovida da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e vice-presidente da Federação Paranaense de Ciclismo, José Carlos Belotto, conta que cerca de 40 mil alunos, professores e colaboradores aderiram ao programa na instituição.
“O objetivo principal é tornar a bicicleta um vetor da transformação social e urbana”, avalia o coordenador-geral da CicloIguaçu, Jorge Brand.
Mês da Bicicleta
Setembro é oficialmente o “Mês da Bicicleta no Paraná”. A lei, sancionada pelo governador Beto Richa (PSDB), oficializa a data e cria em setembro um calendário com atividades educativas promovidas pelo poder público, iniciativa privada e a sociedade em geral. Com a criação da Lei foram programadas diversas atividades como o ciclocine, passeios ciclísticos, arte e bicicleta, palestras, peças teatrais e o Musicletada – festival que reúne música, cultura, gastronomia e mobilidade.
Análise
Vale lembrar que, extraoficialmente, setembro já é o mês da bicicleta desde 2007 em Curitiba, com a realização do festival Arte, Bicicleta e Mobilidade (ArteBiciMob), que inclui atividades regulares ao longo de todo o mês como debates, bicicletadas, poesias, festival de cinema, música, exposições de artes visuais, oficinas, aulas para ciclistas iniciantes, oficinas de mecânica, entre outros. A criação da data por força de lei pode parecer apenas oportunismo político.
Mas um olhar mais analítico mostra que a oficialização da data pelo governo estadual representa o reconhecimento da acumulação de força política do movimento cicloativista paranaense. O passo determinante na implantação das políticas públicas de ciclomobilidade, em qualquer lugar do mundo, ocorre apenas e tão somente quando as estruturas formais de poder — nos âmbitos municipal, estadual e federal –, rompem o limite das ações meramente simbólicas e passam a formular ações adequadas focadas no estímulo ao uso seguro das bicicletas como meio de transporte.
E, no Paraná, aos poucos, alguns políticos passaram a perceber que a bicicleta é hoje uma das bandeiras políticas mais modernas em todo o mundo. Em torno dela estão questões como o aquecimento global, a segurança no trânsito e compartilhamento das ruas. A bicicleta também promove a cidadania, com a ocupação das ruas, um bem público de todos, contra uma sociedade individualista, poluidora e motorizada. A bike pode ser encarada como veículo de promoção da saúde, do esporte e do lazer. Um político que pedala – independentemente de seu partido político –, tem, na pior das hipóteses, a intenção de passar a imagem de que tem a consciência de tudo isso (nem que seja para ganhar mais alguns votos, o que não deixa de ser legítimo).
Ainda que paire uma boa dose de desconfiança sobre a classe política, é importante, para o fortalecimento da Democracia, ter representantes que ecoem o clamor das ruas e a voz dos ciclistas. Ao inserir o tema da mobilidade na agenda estadual, a sociedade se sente mais representada e consequentemente se torna mais democrática, independentemente de siglas e partidos políticos. Além disso, em uma democracia representativa, é legítimo que grupos de pressão utilizem os canais institucionais para promover os avanços que defendem.