![Pedaladas no deserto egípcio Pedaladas no deserto egípcio](https://media.gazetadopovo.com.br/vozes/2013/01/br1120156-9714759a.jpg)
![Alexandre Costa Nascimento/Ir e Vir de Bike](https://media.gazetadopovo.com.br/vozes/2013/01/br1120156-9714759a.jpg)
Pela primeira vez, a bandeira verde e amarela tem um representante no Tour d´Afrique
A aventura de cruzar a África sobre duas rodas começou. Na última sexta-feira (11), o Tour d’Afrique deu a largada para sua 11ª edição aos pés das Grandes Pirâmides, no Egito.
Depois de quatro dias de pedaladas por estradas e três noites acampando no deserto, chegamos à Safaga, balneário egípcio no Mar Vermelho, distante 530 quilômetros do Cairo. É o nosso primeiro contato com a civilização — e com um chuveiro! — desde a largada no Cairo.
A rotina no Tour d’Afrique é mais ou menos a seguinte: acordamos cedo (pouco antes da 6 horas) com a buzina do caminhão de apoio ou uma sirene. Temos cerca de 15 minutos para desarmar as barracas e arrumar os equipamentos. Depois de um café da manhã, caímos todos na estrada.
No primeiro dia, saímos dos pés das pirâmides, atravessando o Cairo e pedalando 143 quilômetros rumo ao Sul. Nosso primeiro acampamento foi ao Norte de Hugarda – balneário de luxo e importante porto egípcio. Mesmo no deserto, o inverno é bastante frio durante o dia e congelante durante a noite.
O grande atrativo do primeiro dia — além de toda a emoção da largada e de conhecer as pirâmides — sem dúvidas, foi o carinho da população egípcia, que saudava e acenava quando nos via passar. Alguns, ao verem a bandeira brasileira no meu braço esquerdo, gritavam “Brissil”, “Ronaldinho” e “Ronaldo”!
Nesse primeiro momento, o grande desafio tem sido essencialmente a parte física. Dói as pernas, dói as costas, dói a bunda (principalmente por ter iniciado a viagem com o banco de couro Brooks praticamente zero quilômetro). Na primeira noite já tive de apelar para um relaxante muscular e um Cataflan nos joelhos.
![Alexandre Costa Nascimento/Ir e Vir de Bike](https://media.gazetadopovo.com.br/vozes/2013/01/tda-team-9714759a.jpg)
Todos os ciclistas do TDA 2013
No segundo dia, pedalamos 166 quilômetros – creio que tenha sido, até hoje, a maior distância que eu já pedalei em um único dia. Pedalamos às margens do Mar Vermelho – uma área com dezenas e dezenas de resortes de luxo – e outros sendo construídos – mas todos vazios e sem movimento nessa época do ano, por conta do frio. A área é extremamente vigiada pelo exército e pela polícia egípicia – por ser uma zona industrial, porto e área de fronteira marítima – tem um importância estratégica.
Tanto que, quando parei para tirar umas fotos do Mar Vermelho, uma viatura da polícia egípcia que vazia patrulha no local parou, ligou a sirene e ordenou que eu desligasse a câmera e continuasse pedalando.
Depois de pedalar os 166 quilômetros, passei pelo primeiro teste psicológico. Uma tarefa banal, como montar a barraca no acampamento, se tornou a tarefa mais difícil e estressante até agora.
Imagine sentir-se com o corpo todo dolorido, como se tivesse tomado um surra do Anderson Silva, e encontrar forças para armar a barraca. Agora imagine que está frio (não sei exatamente o quanto, mas o suficiente para você sentir as pontas dos seus dedos congelando e bater o queixo, mesmo vestindo suas roupas mais quentes).
![Alexandre Costa Nascimento/Ir e Vir de Bike](https://media.gazetadopovo.com.br/vozes/2013/01/safaga2-624x413-9714759a.jpg)
Tente montar a barraca no deserto com esse vento, depois de pedalar 166 km…
Agora imagine um vento forte e montar a barraca no solo duro e pedregoso do deserto, em que não é possível fincar uma estaca no chão.
Não sei se pelo cansaço ou se pela conjuntura toda, aproveitei que ninguém sabe uma palavra em português e gastei todo o meu repertório de palavrões.
Foram quase duas horas para montar um barraca – que o fabricante diz que demora apenas 10 minutos. Depois de quase surtar de estafa física e mental, quando finalmente terminei – prendendo a barraca com pedras grandes – eis que chega uma alemã, loira de olhos azuis, enfrentando o mesmo problema – só que com ela, prontamente, apareceram três marmanjos para socorrê-la! FDPs!!!
![Alexandre Costa Nascimento/Ir e Vir de Bike](https://media.gazetadopovo.com.br/vozes/2013/01/safaga3-624x413-9714759a.jpg)
O deserto é um grande banheiro a céu aberto
Apesar do grupo ser grande – 52 ciclistas –, cada um vai pedalado no seu ritmo. Há dois casais no grupo – que pedalam juntos, óbvio – e mais um grupo de amigos canadenses. De resto, o mais comum, pelo menos por enquanto, é que cada um pedale sozinho, no seu próprio ritmo – geralmente há uma pequena conversa ou cumprimento quando se é ultrapassado ou vai se ultrapassar algum colega.
No terceiro chegamos ao acampamento antes da 1h30 – a distância de 136 quilômetros foi vencida com facilidade, com o vento empurrando forte nas costas.
O terreno também ajudou – poucas subidas ou descidas acentuadas – partindo de um ponto, sem fazer frça no pedal, apenas com a inércia, atingi 18 km/h – em um trecho em declive, com o vento, atingi mais de 60km/h – mas só fui perceber que não havia virado um monstro do ciclismo quando parei para o almoço e mal pude ficar em pé ao lado da bicicleta, tamanha a força do vento. A média do dia passou dos 32km/h!
***
Nesses três primeiros dias, nada de civilização – o que significa que não temos acesso a “mordomias” como banho ou banheiro. A primeira questão se resolve com um pacto de cumplicidade: se um fede, todos fedem e ninguém se importa!
No máximo um lencinho umedecido garante um pouco de higiene. Já a segunda questão – no meio do deserto, faz-se como os gatos: cava-se um buraco e depois tapa-se, para não deixar vestígios. No começo é meio constrangedor – mas, quem já foi escoteiro, tira de letra! É só pegar a pá e vagar sozinho pelo deserto em busca de um pouco de privacidade…
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Safaga: acampamento à beira do Mar Vermelho
Ainda no segundo dia, a abateria do meu GPS – que grava todos os dados como velocidade, tempo de pedal, altimetria, etc, acabou. A navegação é feita através das intruções que são passadas logo cedo pelo líder do Tour: um quadro branco, com as referências geográficas, coordenadas, direções e pontos de referência.
Em geral, há uma parada para o almoço – onde é feia a conferência de todos os ciclistas – quando o trecho é longo, há um ponto para se reabastecer as garrafas com água e comer um fruta fresca – e o próprio acampamento, onde é servida uma sopa, logo na chegada e, em seguida, o jantar.
A comida é boa e farta – um chefe e um assistente fazem parte da equipe e preparam as refeições: no café da manhã, uma espécie de mingau de aveia, granola, leite, pão árabe (nutella, creme de amendoim, geleias e mel) — café, leite e chá. No almoço, um sanduíche rápido – também no pão árabe (o recheio pode ser atum, maionese com ovo, tomate, etc. )
Na janta, macarrão com molho bolonhesa, arroz com picadinho – o cardápio é bom e há, entre alguns até o temor de se ganhar peso durante o Tour.
Nossa terceira noite de acampamento também foi no deserto – com vista para o mar vermelho – também ventando muito!
Depois de mais 100 km de pedal, chegamos a Safaga. Daqui seguimos novamente pelo deserto até chegarmos em Luxos, onde será nosso primeiro dia de descanso.
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