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Prefeito: cai na real e vai pedalar
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Não tenho vocação para profeta, mas ouso fazer um exercício de futurologia. Nesta quarta-feira (27) o prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB), receberá militantes do movimento cicloativista paranaense, representados pela Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (CicloIguaçu). Gostaria de estar errado, mas eis um resumo do que vai acontecer: os ciclistas vão cobrar ações do poder público que estimulem o uso da bicicleta como meio de transporte, com a formulação de um plano diretor cicloviário para a cidade.

O prefeito, por sua vez, vai ouvir respeitosamente e garantir que o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) está trabalhando nisso e que “em breve”, os ciclistas “vão se surpreender”. Sem compromissos concretos, terminada a reunião, tudo ficará como está, com viés de piora, até, quem sabe, o assunto voltar à pauta na campanha eleitoral de 2012.

Reprodução/ namedidadohumano.blogspot.com
Símbolo do planejamento urbano de Curitiba: ciclovia é interrompida por placa de publicidade.

Ducci não assume compromissos com os ciclistas e vem procrastinando uma resposta ou ação concreta há quase um ano. Em outubro do ano passado contatei o prefeito através de sua conta no Twitter, cobrando, no papel de cidadão, um posicionamento sobre as ciclovias da cidade, após o acidente que matou a ciclista Ivanete dos Santos Kravichenko.

O prefeito afirmou que o Ippuc estava estudando uma solução e afirmou: “Garanto que todos vão ficar surpresos com as mudanças que vamos fazer no transporte”, disse @LucianoDucci.

Aliás, promessas nesse sentido não são novidades para os ocupantes do Palácio 29 de Março. O antecessor de Ducci, o então prefeito Beto Richa (PSDB), também já recebeu os ciclistas na prefeitura, fez promessas e, meses depois, quebrando outro compromisso, mudou de endereço para o Palácio Iguaçu.

Ontem, o repórter fotográfico Daniel Caron voltou a questionar o prefeito pelo microblog. A resposta do mandatário foi surpreendentemente a mesma de dez meses atrás: “Temos projeto de ciclovia que está sendo elaborado pelo Ippuc”. Mais adiante, fez suspense: “Não posso adiantar o que será feito, mas pode ter certeza que vai melhorar muito”.

Diante do pedido para implantação de mais ciclofaixas, Ducci teve a pachorra de afirmar que “pintar ciclofaixas no meio dos carros não resolve”. No meio dos carros é claro que não resolve, senhor Prefeito! Se não forem lusitanos, os técnicos do Ipucc devem saber que as ciclofaixas devem ser pintadas nas ruas, para compartilhar o espaço público entre carros e bicicletas, garantindo a segurança dos ciclistas, que são mais frágeis.

Reprodução/ vadebike.org
Ora pois: no meio da ciclovia tinha um poste, tinha um poste no meio da ciclovia.

A propósito: perdoe-me pela infame piada com os portugueses! Em Lisboa, a linha que demarca a ciclofaixa à beira do Tejo é formada pela grafia de poesias de Fernando Pessoa!
Exemplos como esse, assim como os de Amsterdam, Copenhagen, Berlim, Nova York, Bogotá e Buenos Aires só provam que o prefeito tem razão: burros são eles. Nós somos inteligentes, principalmente na hora de votar!

Blitz educativa

Prova da genialidade e eficiência da prefeitura da Capital Ecológica foi dada ontem, com a realização de uma “blitz educativa”, que mobilizou agentes de trânsito da Urbs, policiais do BPTran e Polícia Civil para abordar ciclistas que trafegavam nas canaletas exclusivas do ônibus expresso.

Divulgação/Prefeitura de Curitiba
Fiscalização da extinta Diretran em junho de 2011: “lugar de bicicleta não é na canaleta”.

Em oito horas de operação distribuída em cinco pontos do centro da capital, os agentes abordaram 438 ciclistas que pedalavam pela canaleta.

O objetivo da operação, de acordo com o coordenador de fiscalização de trânsito da Urbs, Alceu Portella, foi coibir o tráfego de veículos nas canaletas.

O risco existe, é fato. Eu particularmente não trafego nas canaletas e prefiro dividir espaço nas ruas com os carros – direito assegurado pelo Código Brasileiro de Trânsito. Mas, já ouvi de ciclistas a justificativa de que eles se sentem mais seguros na canaleta do que nas ruas, sendo espremidos por motoristas. É um ponto de vista.

A questão, entretanto, é: se centenas se arriscam nas canaletas, quantos milhares não deixariam o carro em casa se a cidade oferecesse uma rede de ciclovias adequada? Em Bogotá – cidade que já foi considerada a mais violenta do mundo – são 350 mil pessoas que, diariamente, usam a rede cicloviária, que lá foi construída de forma inteligente e funcional.

Não é difícil fazer a conta: 438 ciclistas são 438 carros a menos nas ruas. Em linha reta, isso representa cerca de 2 km a menos de congestionamento nas ruas da cidade.

Para acomodar esses mesmos 438 ciclistas no transporte público, a Prefeitura precisaria de um ônibus biarticulado Azulão e um Ligeirinho, o que demandaria alguns milhões de reais em investimentos.

Se a questão é mesmo a segurança do ciclista, a solução não é tão difícil quanto parece: em maio tive a experiência de pedalar em Berlim, onde as “vias exclusivas” dos ônibus são compartilhadas com as bicicletas e – PASMEM! – a preferência é DO CICLISTA!

Faço um convite ao excelentíssimo prefeito Luciano Ducci: saia pelo menos um dia do seu gabinete e experimente dar uma voltinha de bicicleta pelas ruas e ciclovias da cidade para conhecer a realidade de quem, de fato, quer fazer algo pelo bem da cidade.

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