Sindicato dos motoristas pede blitz para tirar ciclistas das canaletas

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Ciclistas pedalam nas canaletas do ônibus em Curitiba.

O uso (irregular) das canaletas do ônibus expresso por ciclistas, skatistas e motoristas em geral pode estar com os dias contados. Em reunião do Conselho Municipal de Transporte de Curitiba, na última quarta-feira (17), o presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus (Sindimoc), Anderson Teixeira, solicitou à Secretaria de Segurança Pública do Paraná a proibição da circulação de viaturas policiais nas vias expressas e pediu à Urbs e Setran ações de fiscalização para coibir o uso do espaço por ciclista e skatistas.

O argumento é simples: as canaletas são exclusivas dos ônibus, portanto, para evitar acidentes e mortes só os ônibus podem usá-las. Faz sentido, mas ignora o fato de que os ciclistas usam as canaletas pela necessidade de se deslocar. E, na ausência de ciclovias e rotas seguras nas ruas da cidade, apesar da restrição legal, as canaletas servem, na prática, como “ciclovias gigantes”.

Ciclistas, em geral, não são como os Lemmings, aqueles bichinhos que não dispõem do instinto de autopreservação e que inspiraram um famoso jogo de computador no início dos anos 1990. Basta perguntar para quem pedala nas canaletas: 99,9999% vai responder que está ali porque é mais seguro. Pode, eventualmente, acontecer de você encontrar alguém pedalando deliberadamente na tentativa de cometer suicídio, mas, estatisticamente, a probabilidade de isso ocorrer é de 0,0001%.

Ciclistas não são Lemmings.

O uso da canaleta é, antes de mais nada, um sintoma da falta de vias seguras e cicláveis ligando diferentes pontos da cidade. Mesmo onde existem ciclovias, os ciclistas preferem usar as canaletas. isso porque as primeiras estão abandonadas, sem sinalização adequada, com buracos e obstáculos como postes, pontos de ônibus e raízes de árvores. Já as canaletas são lisinhas, largas e, não fossem os ônibus, seriam perfeitas!

A possibilidade de “legalização” do compartilhamento das vias — como ocorre em cidades como Berlim, Londres e Salt Lake City — foi levantada pelos ciclistas durante o 2º Fórum Curitiba de Trânsito, mas os técnicos da Urbs se colocaram contrários a qualquer estudo com tal finalidade.

Mas, se já é proibido pedalar por lá, então, o que poderia ser feito? Blitze, com apreensão de bicicletas? Certamente faltaria um embasamento legal para esse tipo de ação. O que soa absurdo é a manutenção da situação atual, em que o poder público municipal solenemente ignora a situação de que as canaletas já são compartilhadas, ainda que de forma “extra-oficial”.

Se for para fiscalizar e coibir efetivamente o uso das canaletas pelos ciclistas, que seja através da educação e da aplicação da lei. Que se fiscalize e se faça cumprir a lei que garante o direito das bicicletas compartilharem as ruas — com os carros, motos, ônibus e taxis –, aplicando a lei para os que desrespeitarem o artigo 201 do Código de Trânsito Brasileiro.

Na capital do estado americano de Utah, bicicletas e ônibus circulam na mesma via exclusiva.

Particularmente, sou contra o uso das canaletas pelos ciclistas. Pedalo nas ruas e faço disso um ato político. A lei me dá esse direito e acredito que, quanto mais ciclistas ocupando as ruas, mais os motoristas terão que aprender a conviver e a compartilhar o espaço. Mas não tenho vocação para mártir da causa.

Enquanto o poder público municipal se omitir, não investindo o orçamento destinado a revitalização e ampliação da rede cicloviária e o órgão de trânsito não multar motoristas que colocam ciclistas em perigo, o que teremos é ciclistas usando as canaletas. E as estatísticas de acidentes e mortes crescendo. E, nestes casos, sempre aparecerá um imbecil apontando o dedo para colocar a culpa nos ciclistas, esse Lemmings incorrigíveis.

Para refletir

Se a prefeitura não tem capacidade técnica e/ou operacional para restringir o tráfego pesado de caminhões na Linha Verde, será que vão conseguir tirar os ciclistas das canaletas?