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Somos frágeis (sobre a morte do ciclista Edimar Nascimento)
| Foto:
Reprodução/Bruno Henrique
Ciclista Edimar Nascimento morre atropelado por ônibus biarticulado.

Ciclista morre atropelado. A tragédia se repete; no Paraná, uma vez a cada dois dias, para ser mais preciso. Foram mais de 1,8 mil baixas no estado nos últimos 11 anos. É como se, a cada um ano, caísse um Airbus lotado sem deixar nenhum sobrevivente. Histórias interrompidas pela brutalidade de um trânsito que mata mais do que guerras. Vidas transformadas em números e estatísticas.

Na última sexta-feira (20), mais um ciclista perdeu a vida nas ruas de Curitiba. Edimar do Nascimento, de 24 anos, foi atropelado por um ônibus biarticulado da linha Circular Sul nas proximidades do viaduto da Linha Verde, no bairro Pinheirinho. Segundo testemunhas, ele andava na canaleta e na contramão.

Ainda assim, não parece justo culpar a vítima. Nascimento não foi o primeiro nem será o último ciclista a trafegar nas vias exclusivas dos ônibus. Apesar de ser proibido, a grande maioria dos ciclistas utilitários — que usam a bicicleta como meio de transporte –preferem pedalar nas canaletas por se sentirem mais seguros ali do que nas ruas.

A percepção pode ser ilusória. Mas o trânsito da cidade amedronta, intimida. Para optar pelo uso da bicicleta no dia a dia é preciso mais que disposição. É necessário ter coragem para enfrentar um trânsito feito por pessoas com uma mentalidade agressiva, competitiva e individualista que usam carros como armas.

A tragédia com Edimar Nascimento não é causa, é efeito. Ano a ano, a Prefeitura de Curitiba vem retalhando o orçamento destinado a implantação e revitalização de infraestrutura cicloviária do município.

Em 2010, o investimento em ciclovias foi igual a zero. Em 2011, de janeiro a agosto, o empenhou foi de apenas R$ 126,2 mil — de R$ 2 milhões previstos inicialmente.

Na propaganda oficial, parece que vivemos na Nova Amsterdã. Na vida real, estamos em uma situação de guerra, em que o número de mortos e feridos cresce a cada dia.

Notícias como essa me tocam profundamente, a ponto de me fazer pensar seriamente em encostar a bicicleta por uma questão de auto-preservação. Foi assim quando a ciclista Ivanete dos Santos Kravichenko morreu atropelada por um ônibus da linha Inter-Hospitais ou quando o ciclista Osmar da Cunha foi assassinado na Avenida das Torres por um playboy que dirigia bêbado seu Audi A3.

À época, questionado sobre os episódios, o prefeito Luciano Ducci (PSB) respondeu em menos de 140 caracteres. Disse que o Ippuc estava estudando uma solução e afirmou: “Garanto que todos vão ficar surpresos com as mudanças que vamos fazer no transporte”. De lá para cá, dezenas de outros companheiros de pedal tombaram e ainda não vimos mudanças substanciais, capazes de pacificar o trânsito da cidade. Que surpresa macabra…

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