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Taxista atropela agente de trânsito e sindicato pede fim da ciclopatrulha
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Maurilio Cheli/SMCS
Ciclopatrulha durante ronda no centro da cidade. Sindicato contesta legitimidade da bicicleta como ferramenta de trabalho dos agentes.

Um agente da ciclopatrulha da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) foi atropelado por um taxista na manhã da última quinta-feira (8), em frente à sede do órgão, na Rodoferroviária de Curitiba. De acordo com testemunhas, o agente Carmo estava sem a bicicleta, sobre uma faixa elevada de pedestres, quando foi atingido pelo veículo.

Ele foi atendido no local pelo Siate, mas não sofreu nenhuma lesão grave. Mesmo assim, o agente tirou três dias de licença por conta de um entorse provocado pelo impacto.

Diante do episódio, o Sindicato dos Trabalhadores em Urbanização do Estado do Paraná (SindiUrbano-PR), que representa a categoria dos agentes da Setran, publicou uma nota em que se diz contrário ao trabalho realizado pela ciclopatrulha.

A entidade contesta o uso da bicicleta como meio de transporte na execução das atividades dos agentes argumentando que o veículo não oferece nenhuma condição de segurança para o trabalhador.

“Além disso, o agente que trabalha de bicicleta precisa disputar espaço com outros veículos de maior porte nas ruas de Curitiba, que, ainda, não oferecem a estrutura adequada para os ciclistas, além do trânsito estar cada vez mais intenso e caótico”, segue a nota.

Segundo o presidente do sindicato, Valdir Mestriner, o acordo coletivo de trabalho da categoria não prevê a figura do agente de trânsito ciclista. “A bicicleta, como instrumento de trabalho, não oferece nenhuma segurança, além de exigir esforço físico para que a pessoa possa desenvolver sua atividade. Nós estamos entrando em uma negociação do acordo coletivo e até agora não houve ninguém que trouxesse a defesa da ciclopatrulha como trabalhador”, afirma.

O sindicalista defende que a ciclopatrulha atue apenas de forma auxiliar em eventos de grande porte e diz que o sindicato é contra o uso das bicicletas no patrulhamento do trânsito da cidade. “Estamos sempre dispostos a negociar mas não há, da nossa parte, nenhum intenção de deixar passar problemas de segurança”, completa.

Alexandre Costa Nascimento/Ir e Vir de Bike
Prefeito Luciano Ducci ao lado da ciclopatrulha: “Agentes terão o poder de autuar de forma legal”.

A argumento do sindicato, no entanto, não encontra respaldo nas estatísticas. De acordo com dados do Sis­tema de Informações sobre Mor­talidade (SIM/DataSUS), do Mi­­nistério da Saúde, o número absoluto de acidentes fatais envolvendo bicicletas é menor na comparação com o uso de outros modais. Do total de 2.539 mortes no trânsito do Paraná em 2010, 147 foram de ciclistas, o equivalente a 6%; 889, de motoristas de carro (35%); e 772, de motociclistas (30%). As outras vítimas foram pedestres (28%) e usuários de ônibus (1%).

A opinião do órgão também não é compatível com a de alguns dos trabalhadores que ele representa. O agente Stark, que se ofereceu como voluntário no trabalho da ciclopatrulha, considera que os riscos envolvidos no trabalho de bicicleta é mesmo para o agente que está a pé, de motocicleta ou na viatura. “Não vejo problemas. A questão da segurança está relacionada ao trânsito de maneira geral. Os maiores conflitos com os agentes são muito mais ligados ao trabalho que eles exercem do que necessariamente ao veículo que eles utilizam para realizá-lo”, avalia.

O agente, que pedala desde a implantação da ciclopatrulha em meados de janeiro, disse que não enfrentou nenhum episódio que pusesse em risco sua integridade como agente ou como ciclista. Ele garante que essa é a percepção geral dentre os colegas de pedal. “No caso do colega de ciclopatrulha, ao que tudo indica, ele foi atropelado na condição de pedestre, pois estava sobre a faixa e desmontado”, aponta.

Ciclopatrulha

A criação da ciclopatrulha foi a grande novidade na reestruturação do órgão de trânsito curitibano. A unidade, formada por quatro agentes, é responsável pelas rondas e fiscalização do região central da cidade com o uso de bicicletas.

Inicialmente, a Setran instituiu a ciclopatrulha com 4 bicicletas, que são usadas por duas duplas de agentes. A meta é, até o fim deste ano, incorporar outras 16 bicicletas à frota, destinado 10 viaturas – cinco equipes – para a fiscalização do Estacionamento Regulamentado (EstaR) e outras 10 para a ronda ostensiva.

“A bicicleta humaniza o trânsito. Sem contar que, do ponto de vista prático, ela aumenta a mobilidade dos agentes, garantindo melhora na eficiência da fiscalização”, argumenta o secretário de Trânsito, Marcelo Araújo, idealizador do projeto.

Maurilio Cheli/SMCS
Para o secretário da Setran, bicicleta garante mobilidade e agilidade na fiscalização.

Segundo ele, a segurança do trânsito é uma responsabilidade do próprio órgão. “Extinguir a ciclopatrulha seria reconhecer a inviabilidade do uso da bicicleta no trânsito, quando queremos é justamente o contrário, é estimular a convivência pacífica”, aponta. “O clima está bom, os agentes têm preparo e muitos são ciclistas experientes. São os agentes que estão fazendo fila para fazer parte da ciclopatrulha”, completa.

Araújo avalia que a posição do sindicato dificulta a implantação de um programa que visa inserir a cultura da bicicleta nas ruas da cidade. “Como eu posso defender que bicicleta é boa para o trânsito se o sindicato está dizendo que vai contestar? É melhor aumentar o número de viaturas na rua?”, questiona.

Agressões

No início de março, dois agentes da Setran — um homem e uma mulher –, foram agredidos com socos e pontapés por um motorista após aplicarem uma multa em uma camionete F-250 estacionada irregularmente. O caso foi parar na delegacia. Na ocasião, o Sindiurbano-PR não se pronunciou sobre o episódio.

Investigação

Sobre o atropelamento do agente Carmo, o SindiUrbano-PR cobrou uma investigação rigorosa do caso. “Há indícios de que o atropelamento tenha sido deliberado. Segundo testemunhas, o agente estava a poucos passos de terminar a travessia. Havia espaço para o motorista desviar. Entretanto, ele não o fez e também não houve a tentativa de desviar ou frear”, afirma Mestriner.
O sindicato pede ainda a suspensão da placa do taxi e a licença do motorista até que a situação seja esclarecida. “Para nós é preocupante que um motorista, qualquer que seja, tenha uma atitude que ameace a vida de alguém. neste acaso, é ainda mais grave já que o taxista tem a concessão do poder público. Não estamos condenando, mas pedimos a investigação”, finaliza.

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