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Cansada do elevado número de acidentes, uma moradora do bairro Alto da XV, em Curitiba, resolveu agir por conta própria: comprou uma lata de tinta, um pincel e pintou faixas de pedestre e um aviso de “PARE” no cruzamento da Rua Amintas de Barros com a Rua 21 de Abril. “Depois disso, não teve mais acidentes”, revela dona Lúcia.

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Mas, ao invés de ser homenageada oficialmente como cidadã exemplar, dona Lúcia corre o risco de ser multada e processada pela Prefeitura por pichação e crime ambiental, tal como um grupo de ciclistas que, em 2007, pintou uma ciclofaixa autônoma na Rua Augusto Stresser.

Embora exemplares, os dois casos, muito semelhantes entre si, revelam que há sim um crime que não pode deixar de ser punido: o crime de omissão do Poder Público, que já deveria ter pintado faixas de pedestres e implantado ciclofaixas e placas de sinalização por toda a cidade.

Por mais estranho que isso possa parecer para alguns, é importante lembrar que a cidade pertence única e exclusivamente aos seus cidadãos. Embora as decisões importantes ainda sejam tomadas dentro de gabinetes, sem participação popular e sem atender ao interesse da maioria, isso não muda essa realidade.

Se mobilizasse a máquina burocrática para atender aos anseios legítimos da população da mesma forma como mobiliza para punir quem ousa exercer a crítica e a cidadania, a cidade poderia economizar tempo e recursos da Procuradoria do município em questões realmente importantes.

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O surreal é pensar que vivemos em uma cidade que prefere ter suas ruas manchadas de sangue para economizar tinta e que mobiliza a Justiça para punir quem, em última análise, está trabalhando de graça para o bem do município.

Um pequena dose de bom senso já ajuda a distinguir uma atitude de vandalismo de um protesto legítimo e democrático. A própria Justiça foi justa e reconheceu isso ao anular a multa imposta pela Prefeitura no caso dos ciclistas.

A cidade e a sociedade só têm a ganhar com atitudes como as da dona Lúcia e dos ciclistas curitibanos. Se achar ruim, a Prefeitura que busque seus direitos. Porque os cidadãos também estão buscando os seus: com tinta, pincéis e uma boa dose de cidadania.