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Curitiba ganhará um novo cartão postal: um viaduto estaiado! Os benefícios são incontáveis: a população poderá tirar fotos da nova atração, poderá passar pelo viaduto de carro e, ainda por cima, postar no Facebook, com orgulho, que a cidade finalmente está no mesmo patamar de desenvolvimento de São Paulo, Brasília e Manaus.

Particularmente, entretanto, não acredito que a capital paranaense careça de cartões postais. Já temos vários. Tantos que, por não dar conta de todos, a Prefeitura está repassando alguns para o controle da iniciativa privada, como a Pedreira Paulo Leminski, a Ópera de Arame e o Parque Náutico do Iguaçu.

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Voltando à ponte: há poucos dias, o prefeito Luciano Ducci (PSB) autorizou a construção do viaduto estaiado na Avenida Comendador Franco (das Torres). A previsão inicial é que a “obra de arte a céu aberto” custará R$ 84,5 milhões, oriundos das burras públicas, o que equivale ao gasto de aproximadamente R$ 50 por habitante na obra.

Qualquer municipalidade minimamente democrática consultaria todos os seus cidadãos antes de tungar R$ 50 do bolso de cada um deles. Consultas públicas ou mesmo plebiscitos são experiências interessantes para ensinar a população a participar de decisões importantes sobre o futuro da cidade que, no fim das contas, pertence a todos – ainda que partes dela estejam em vias de ser privatizadas.

Mas, certamente, os defensores do viaduto teriam poucos argumentos para defender a obra em um ambiente aberto de debates. Ainda que a beleza paisagística seja evocada (o que também é questionável), a ponte não será tão bonita assim a ponto de justificar o custo equivalente a 20 viadutos comuns. Na prática, pagaremos por um “Minhocão” suspenso por cabos de aços que, muito provavelmente, até mesmo Paulo Maluf teria pudores de propor hoje em dia.

Além disso, não é preciso ser nenhum gênio da engenharia de trânsito para reconhecer que investimentos em transporte público coletivo e ciclovias geram um efeito sistêmico muito mais positivo para o trânsito do que obras viárias para a circulação de carros – que tendem a saturar em um curtíssimo espaço de tempo.

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No artigo “Os Dividendos da Bicicleta”, publicado recentemente no jornal The New York Times, a professora de economia da Universidade de Massachusetts Nancy Folbre comemora o fato dos investimentos em infraestrutura para ciclistas ter dobrado nos Estados Unidos entre 2006 e 2010, atingindo a média de US$ 4 (cerca de R$ 8) por cidadão. Mas ela acredita que ainda é pouco.

Apenas para efeito de comparação, em 2011, o investimento de recursos do orçamento municipal de Curitiba na melhoria da rede cicloviária da cidade foi de apenas R$ 174,4 mil, o que equivale ao investimento de US$ 0,05 (R$ 0,10) por habitante, ritmo equivalente ao aplicado nos EUA no ano na penúltima década do século passado.

Para que a capital paranaense atinja o mesmo nível de investimento das cidades norte-americanas, seria um incremento de 8.000% no atual ritmo de investimentos. Mas esse abismo não se justifica pela escassez de recursos, já que sobra dinheiro para construção de obras faraônicas.

Segundo a Prefeitura de Curitiba, o viaduto terá a implantação de “ciclovia compartilhada” nas duas laterais para o trânsito seguro de ciclistas e pedestres. A Avenida Francisco H. dos Santos, entretanto, não tem vias para circulação de ciclistas. Nem mesmo as chamadas “ciclovias compartilhadas”. Os engenheiros do Ippuc já deveriam ter aprendido que infraestrutura cicloviária só faz sentido se e quando conectadas em rede.

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Se optasse pela eficiência do gasto público, um viaduto comum poderia ser construído no local por apenas R$ 4,22 milhões. Sobraria assim dinheiro suficiente para elevar os investimentos na construção de ciclovias, elevando, em pouco tempo, Curitiba ao mesmo patamar de cidades norte-americanas em termos cicloviários.

Ainda assim, sobrariam R$ 66,2 milhões para compra de mais de 60 novos ônibus biarticulados do tipo “azulão”, frota capaz de transportar 15 mil pessoas de uma só vez, para ficar só na pauta da mobilidade –, ou ainda para investimentos em escolas, creches, postos de saúde e saneamento básico.

Isso prova que nosso subdesenvolvimento tem muito mais a ver com a ineficiência na formulação das políticas públicas de nossos governantes do que necessariamente com a falta de recursos.

Ainda que “moderno e futurista”, como quer nos fazer crer a propaganda oficial, o viaduto, na verdade, não nos conecta ao futuro. Ele é sim uma ponte sem retorno, que nos leva obrigatoriamente a um presente em que fazer política significa entregar obras grandes e caras para agradar empreiteiras financiadoras de campanha.