Em julho de 2018, durante a convenção do Podemos que confirmou o nome de Alvaro Dias na disputa pela presidência da República, o senador anunciou que, caso eleito, seu ministro da Justiça seria o então juiz da Lava Jato, Sergio Moro, um homem que dizia não ter pretensões políticas. Eu estava lá na sede do Paraná Clube naquela manhã de sábado e vi a reação incrédula de jornalistas e correligionários. Todo mundo saiu dali pensando que Alvaro estava blefando ou sonhando alto demais.
Alguns meses depois, confirmada a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), Moro virou ministro da Justiça e queimou a língua de quem achou que Alvaro estava trucando. Diante dos novos fatos, é improvável que o senador tenha citado o nome de Moro sem ao menos ter a anuência do agora ministro.
Aquela convenção não marcou apenas o início da malsucedida campanha de Alvaro Dias à presidência da República; de certa forma, o evento foi um ato público de lançamento da Lava Jato como uma força político-partidária.
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A derrota eleitoral não esmoreceu Alvaro Dias nem o tirou de seu rumo. Retomadas as atividades no Senado, ele encontrou na liderança do Podemos um novo caminho para a institucionalização política do lavajatismo. E tem sido bem-sucedido na empreitada.
No começo do ano, o Podemos tinha apenas cinco senadores e era a sexta maior bancada da Casa. Atualmente a legenda tem 11 senadores e é a segunda maior, atrás somente do tradicional MDB. Como bem registrou o repórter Olavo Soares, o partido elegeu apenas um senador em toda sua história: o paranaense Oriovisto Guimarães. Todos os outros – inclusive Alvaro Dias, ex-tucano – mudaram de legenda após chegarem ao Senado.
Com o Podemos na mão e o discurso afinado com a Lava Jato justamente no momento em que o Senado teve a maior renovação de sua história – 85% das vagas em disputa – Alvaro Dias encontrou terreno fértil para sua articulação política. As disputas internas no governo que levaram à cisão entre o bolsonarismo e o lavajatismo ampliaram ainda mais as possibilidades de trabalho de Alvaro.
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As principais bandeiras empunhadas pelo movimento no Senado são também os principais clamores do lavajatismo das ruas e das redes sociais: a instalação da CPI da Lava Toga, para investigar a atuação de tribunais superiores; a tramitação do pedido de impeachment do ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal; e, mais recentemente, o combate ao aumento do valor destinado ao Fundo Eleitoral e a flexibilização do uso desses recursos. Além disso, o grupo assume com vigor a defesa do ministro Sergio Moro. Foi assim, por exemplo, na sessão que o ouviu a respeito da série de reportagens Vaza Jato, feita pelo The Intercept Brasil, e também na tentativa de Moro de manter o então Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) sob o guarda-chuva do Ministério da Justiça.
Se o Podemos mantiver seu ritmo de crescimento pode chegar à próxima eleição para a presidência do Senado com a maior bancada da Casa, o que o credenciaria a indicar um candidato. Pelo cenário atual, o nome mais provável seria o de Alvaro Dias.
Com isso, todo o terreno estaria pronto para o ponto alto da institucionalização partidária do lavajatismo: uma eventual filiação de Sergio Moro ao Podemos com o objetivo de lançá-lo candidato à Presidência da República. É claro que no cenário político brasileiro as especulações sobre o futuro são arriscadíssimas, mas a hipótese dessa filiação tem sido aventada pela própria presidente nacional do Podemos, Renata Abreu.
“Moro representa muito para o Brasil. Se ele viesse para o Podemos, seria uma honra”, disse Abreu à Folha de S. Paulo.
Para que no momento de um eventual casamento ninguém se levante apontando motivos que possam impedir a união, tanto Alvaro Dias como a Lava Jato precisam apresentar explicações mais sólidas para o fato de o senador ter sido poupado das investigações da operação mesmo tendo sido citado duas vezes. Levantamento feito por reportagem do UOL aponta que Alvaro foi citado por duas vezes como beneficiário de propina que teria o objetivo de aliviar a atuação do senador em duas Comissões Parlamentar de Inquérito no Congresso Nacional: a da Petrobrás, em 2009, e a do caso Cachoeira, em 2012.
Ao UOL, o senador afirmou que não é investigado na Lava Jato pois não é suspeito de cometer nenhum ilícito e disse que citações de seu nome não passam de boatos com fins políticos.