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Chegamos, enfim, ao novo governo do Paraná. Acabou o momento em que uns seguram a caneta sem tinta enquanto outros têm a tinta, mas não podem usá-la. Inaugurados os novos mandatos, anuncia-se um novo período, o do “veja bem”. O “veja bem” me parece ser a expressão oficial para introduzir uma contemporização. Ele abre portas para novos pontos de vista e chama sempre à ponderação.

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Esse é o momento em que os recém-empossados buscam modular o discurso eleitoral à realidade. É um processo um tanto incompreendido que acaba por decepcionar os que embarcaram nos arroubos eleitorais. Como tudo na política, entretanto, essa modulação não é exclusivamente ruim.

No governo do Paraná, o “veja bem” começou ainda antes da posse, com o anúncio da nova composição do secretariado.

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Após prometer um secretariado técnico e entregar os deputados Sandro Alex (PSD) na Infraestrutura; Ney Leprevost (PSD) na Justiça, Trabalho e Família; e Marcio Nunes (PSD) no Meio Ambiente, Ratinho achou um novo discurso. O importante, segundo a versão pós-eleitoral do governador, é que os secretários tenham boa capacidade de articular politicamente.

Quando a equipe de Ratinho dizia, por exemplo, estar tendo dificuldades para encontrar um secretário de Meio Ambiente que fosse capaz de articular a compreensão da importância da conservação ambiental com as necessidades de desenvolvimento do estado, imaginava-se a equipe de transição em busca de um notável; um nome que pudesse indicar uma mudança de paradigma na pasta. O escolhido, entretanto, foi Marcio Nunes, deputado estadual reeleito e produtor rural. O contexto da escolha foi a necessidade de o governador abrir espaço na Assembleia Legislativa para que Hussein Bakri (PSD), segundo suplente, assumisse uma cadeira e pudesse ser o líder do governo no Legislativo.

Outro ponto em que o discurso de Ratinho Junior está se adequando às exigências da realidade é em relação à estrutura administrativa de governo. Desde que foi eleito, ele tem falado em um estado que tenha o tamanho necessário: nem máximo; nem mínimo. O discurso é certamente mais leve que o da campanha, quando absolutamente tudo parecia alvo de cortes, reduções e enxugamentos.

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Não é só da boca de ocupantes de cargos no Executivo que escutaremos “veja bem” no começo de 2019. Os deputados eleitos também terão muita contemporização a fazer.

Comecemos com a novata bancada do PSL, eleita na esteira dos quase 428 mil votos recebidos pelo delegado Fernando Francischini. Com um discurso cujo objetivo era desmoralizar a política tradicional, os novos deputados deverão ter um bom poder de convencimento para explicar algumas decisões que provavelmente tomarão dentro da Assembleia Legislativa.

Já é possível ver chegando um desses momentos. Francischini quer o comando da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia. O deputado sabe que ao presidir esse colegiado terá posição privilegiada para fazer prosperar os projetos sustentados pela bancada e para dificultar a tramitação daqueles que não têm o apoio do grupo. Por ser tão estratégico, o comando da CCJ não cai do céu; alcançá-lo exige muita negociação e, naturalmente, negociar pressupõe diálogo, flexibilidade e contrapartidas. Nesse eventual acordo pode entrar, por exemplo, o apoio a políticos ditos tradicionais na eleição da Mesa Diretora da Assembleia. Como um porta-voz do discurso de desvalorização da política vai convencer o eleitorado acostumado aos discursos no Facebook que para mudar o sistema às vezes é preciso votar em Ademar Traiano (PSDB)?

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Na Câmara Federal a situação não será diferente. Se o presidente Jair Bolsonaro (PSL) fechar um acordo com o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), não será fácil para os deputados governistas explicarem que pretendem desarticular o viciado sistema político tradicional apoiando o filho de César Maia.

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É raro encontrar um político que, eleito, não tenha tropeçado em promessas feitas enquanto candidato. Isso revela muito sobre a irresponsabilidade com que são conduzidas as disputas eleitorais no país. Negociar, ceder e dialogar estão na essência da política e isso é bom na medida em que garante freios aos radicalismos e a representação dos diferentes interesses da sociedade. Não há como se tocar uma democracia de dimensões continentais batendo o pé.