As eleições de 2018 não foram uma arena muito adequada para o debate de assuntos complexos. As discussões movidas pelo fígado e a predominância de pacotes ideológicos que se apresentavam como a panaceia dos males sociais simplificaram perigosamente o embate eleitoral.
No terreno infértil de 2018, ganhou força a tese de que o gigantismo do estado brasileiro era o grande obstáculo entre a sociedade e seu bem-estar. A solução apresentada por muitos candidatos era vender tudo que fosse possível: imóveis, empresas estatais, participações acionárias; tudo deveria ser liquidado para que as coisas melhorassem. O diagnóstico do problema em boa medida faz sentido, mas sua generalização e a adoção de um discurso simplista, incapaz de entender as consequências do que era proposto, criaram uma falsa solução.
A opção pela abordagem rasa aos grandes temas nacionais começa agora a cobrar seu preço. Um exemplo é o que acontece com unidades da Petrobras e suas subsidiárias. Depois de ser carcomida por desvios bilionários, a estatal passou a ser um dos alvos preferenciais do discurso privatista. No calor da campanha eleitoral era difícil encontrar fora da esquerda quem não defendesse uma drástica redução da participação estatal na Petrobras.
Passadas as eleições, a almejada desestatização está sendo posta em prática. No Paraná, a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), subsidiária da Petrobras, está sendo fechada; a venda da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) deve acontecer neste ano e o futuro da Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), em São Mateus do Sul, é incerto.
Diante desse cenário era de se esperar que os políticos que se elegeram com o discurso privatista estivessem celebrando; mas não é isso o que está acontecendo.
Na segunda-feira (27), o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) – ele mesmo um entusiasta das privatizações – se reuniu com parte da bancada federal paranaense e o principal assunto da reunião foram os impactos que as mudanças nas unidades da Petrobras trarão ao estado. Deputados e o governo estão preocupados com a queda da arrecadação e com o desemprego decorrente do fechamento de unidades – especialmente no município de Araucária, onde estão a Repar e a Fafen.
Conforme informou na Gazeta do Povo o repórter Carlos Coelho, estima-se que Araucária deixará de receber anualmente R$ 75 milhões com impostos e com a redução da renda dos cerca de mil funcionários diretos e terceirizados que serão demitidos. O estado, que arrecada ICMS com a fábrica, pode deixar de recolher R$ 50 milhões por ano.
Afetar a produção industrial de Araucária é um golpe em um dos pontos mais sensíveis da gestão de Ratinho Junior: o desenvolvimento industrial do estado. O município hoje tem o maior parque industrial do Paraná, o segundo maior PIB per capita do estado e o maior salário médio dos trabalhadores formais entre as 399 cidades paranaenses.
Da reunião com a bancada, Ratinho saiu com a missão de se reunir com o presidente da Petrobras. Aliado fiel do Palácio do Planalto, o governador não chega a criticar as ações da Petrobras, mas, dentro das possibilidades de seus compromissos políticos, busca minimizar os impactos no Paraná.
“Entendemos que privatizar é algo do mercado, mas vamos buscar o maior número de informação possível para que a população não seja prejudicada. O governo do Estado está em busca de uma alternativa”. Foi essa a frase dita cuidadosamente pelo governador ao sair da reunião com a bancada.
Ratinho parece tentar equilibrar interesses conflitantes sem romper seus compromissos com o governo e nem ser insensível às pressões que recebe no estado.
Movidos pelo combustível ideológico, muitos candidatos adotaram a privatização como mantra e solução universal dos problemas de Estado. Agora, eleitos, com a obrigação de sopesar as consequências de seus atos e posições, ponderam, refletem e buscam alternativas. A atitude de agora é louvável, mas poderia ser menos embaraçosa e mais eficiente se os discursos feitos em 2018 tivessem passado pelo mesmo crivo de racionalidade que agora impera.
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