Ratinho Junior (PSD) passou os últimos 15 anos no exercício de mandatos de deputado estadual e federal e em uma parte desse período esteve à frente da Secretaria do Desenvolvimento Urbano do Paraná (Sedu). Em 2018, durante os 45 dias de campanha, o agora governador eleito esteve sob constante análise da imprensa, ataques dos adversários, e exposição de sua equipe de marketing. Em tese, tivemos tempo o bastante e pontos de vista suficientemente diferentes para compreendê-lo, mas, confesso, ainda não decifrei politicamente Ratinho Junior.
Talvez aqui no Paraná estejamos mal acostumados à facilidade de analisar sempre as mesmas dinastias. Sabemos quem são os Khoury, os Richa, os Lupion, os Melo e Silva, os Dias e tantos outros, mas sobre os Massa talvez saibamos apenas que ali tem café no bule.
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À trajetória recente da família Massa na política soma-se o fato de Ratinho Junior, apesar das expressivas votações recebidas, não ter consolidado sua carreira como legislador. Quando foi deputado federal parecia querer voltar ao Paraná e teve dificuldades em desvendar os corredores da política federal. De volta ao legislativo paranaense, logo assumiu o posto de secretário de Beto Richa (PSDB). No comando da Sedu, a visão política de Ratinho ficou subordinada à do ex-governador. Mais uma vez, portanto, ainda que estivesse exercendo um relevante cargo público, era difícil identificar seus ideais e características políticas.
Outro ingrediente dessa personalidade política difícil de ser decifrada é a superficialidade como apelo retórico. Sem se aprofundar em suas propostas de gestão e concepções políticas fica mais fácil para Ratinho conciliar interesses inconciliáveis. Falando por alto, tratando de intenções, é possível prometer ao mesmo tempo solução para os problemas fiscais do estado e o atendimento aos interesses corporativistas do funcionalismo público.
Por fim, o último elemento dessa incógnita talvez tenha mais relação com o espírito do tempo que com a personalidade do governador eleito. O político pós-ideológico é o que está na moda. Quanto menos política houver nos políticos, mais aceitação popular a imagem pública tende a ter. É um contrassenso, mas na campanha eleitoral deste ano parece ter funcionado muito bem.
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Entretanto, há um limite para esse enigma. Afinal, só é possível tergiversar no discurso. Assim que Ratinho começar a agir como gestor, as consequências de suas decisões indicarão com clareza quais são suas orientações. Na verdade, antes mesmo do início de seu mandato essas indicações já começam a pulular. Ao revelar nomes de seu secretariado e assuntos que estão sendo debatidos entre a equipe de transição ele tem revelado mais sobre sua visão política que nos últimos 15 anos de vida pública.
Com o que foi revelado até agora parece haver muita similaridade entre Ratinho Junior e o que se anuncia para o futuro governo de Jair Bolsonaro (PSL): uma condução privatista das empresas estatais, um discurso linha dura na segurança pública e a inspiração na iniciativa privada para conduzir assuntos ligados à educação. As principais diferenças talvez sejam o fato de Ratinho ter uma articulação política mais ligada ao establishment e não se deter tanto em pautas de costumes.
Aos exemplos.
Em sua viagem a Nova York na última semana, Ratinho Junior deu sinais de que o governo pretende privatizar algumas estatais do estado. A princípio estão cotadas para venda a Copel Telecom e a Compagás. Sanepar e Copel Energia seguem tendo o estado como sócio controlador.
Para a Secretaria da Educação, o governador eleito indicou Renato Feder, que ocupava o cargo de CEO em uma empresa de tecnologia. O nome rompe com a tradição paranaense de indicar professores da rede ou burocratas com ligações partidárias para o comando da pasta. A escolha indica uma gestão mais propensa a aceitar a participação da iniciativa privada na educação estadual, algo que costuma ser rechaçado por segmentos mais à esquerda no espectro político.
A expectativa de uma atuação mais linha dura na segurança pública vem da indicação do General Luiz Felipe Carbonell para o comando da pasta. Segundo deputados ligados a Ratinho Junior, o nome foi uma indicação pessoal do presidente eleito Jair Bolsonaro.
Por fim, a Casa Civil sob o comando do deputado Guto Silva (PSD) indica a predisposição do governo em manter azeitado o relacionamento com a Assembleia Legislativa. Deputado estadual com bom trânsito entre os pares, ele deve manter aberto o diálogo para conseguir o apoio necessário do legislativo.
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