Busto em homenagem ao ex-deputado Rubens Paiva, na Câmara dos Deputados. | Foto:

Para saírem de seus gabinetes e chegarem ao plenário da Câmara, os deputados federais paranaenses Filipe Barros (PSL), Paulo Martins (PSC) e Sargento Fahur (PSD) passam pelo Espaço Deputado Rubens Paiva, uma homenagem do Legislativo ao parlamentar assassinado pela ditadura militar em 1971. Mas o busto de Rubens Paiva, erigido sobre uma base de mármore onde se lê “defensor da liberdade e da democracia” não foi suficiente para sensibilizar os deputados paranaenses sobre os riscos de se defender uma ditadura. Especialmente para aqueles que detêm mandato parlamentar em um regime democrático.

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No domingo (31), data que marcou os 55 anos do golpe militar de 1964, Martins, Fahur e Barros usaram suas redes sociais para defender a ditadura. Encampando o revisionismo proposto pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), os deputados agiram contra a própria representação parlamentar.

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Foi o governo militar defendido por esses três deputados que impôs o Ato Institucional 5 (AI-5), que autorizava o presidente da República a dissolver o Congresso Nacional, assumindo as funções legislativas, e a cassar mandatos eletivos, suspender os direitos políticos de qualquer cidadão por 10 anos e decretar confisco de bens.

Além da grave consequência do AI-5 para o exercício da atividade parlamentar, foi a própria ação livre do Congresso que o motivou. Como bem resumiu um editorial publicado por esta Gazeta do Povo no fim de 2018, a história do AI-5 “mostra que seu estopim não veio de nenhum ato terrorista, mas de um discurso na Câmara dos Deputados e da resistência do Congresso a uma tentativa de punir um deputado por um ‘crime de opinião’”.

“Às vésperas do Sete de Setembro, após uma ação do Dops na Universidade de Brasília, o deputado Márcio Moreira Alves usou a tribuna para pedir a pais e mães que não mandassem seus filhos à rua para desfilar com as unidades militares, e ainda sugeriu um boicote inspirado na peça grega Lisístrata: que as garotas não dançassem com os cadetes. O procurador-geral da República acionou o Supremo Tribunal Federal, que pediu ao Congresso a permissão para processar Moreira Alves. Em 12 de dezembro, por 216 votos a 141, com apoio inclusive de partes da Arena, o partido governista, a Câmara negou o pedido do STF. No dia seguinte, o governo mandaria “às favas todos os escrúpulos de consciência”, nas palavras do ministro Jarbas Passarinho’”, relata o editorial.

Um deputado que defende o direito do Executivo de se sobrepor sobre o Legislativo cai na profunda contradição de atentar contra o próprio mandato. Um parlamentar que diz admirar um regime autoritário relega seu próprio cargo à insignificância. É um desrespeito, em última análise, com os representados.

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