Dois meses após a definição das eleições no Paraná, chegou ao fim o luto dos derrotados e a celebração dos vitoriosos. No clichê dos políticos, o momento é de avaliar o recado das urnas para, a partir daí, agir. Nas últimas semanas, parece não haver discurso, entrevista, postagem de Facebook ou mensagem de WhatsApp de políticos que não fale sobre esta entidade: o recado das urnas.
Particularmente, acho curioso imaginar que algo tão solitário e silencioso como o voto possa passar aos políticos recados que são sopesados e que impelem mudanças reais no arranjo das forças políticas. É claro que o recado das urnas não tem uma única possibilidade de leitura nem enseja mudanças que têm sempre mesmo sentido, mas, de diversas maneiras, essa força está reorientando a política paranaense.
Para os vencedores, obviamente, a tarefa é mais fácil. O governador eleito Ratinho Junior (PSD), por exemplo, age de acordo com o recado das urnas ao nomear um general para o comando da Secretaria da Segurança Pública; defender um estado menor, mais próximo da iniciativa privada; e insistir na tese de ser a nova política.
Para os políticos conservadores e ligados às bancadas evangélicas – que também foram vitoriosos nesta eleição – o recado das urnas pode ser pretexto para, como fez o deputado estadual Missionário Ricardo Arruda (PSL), bater o pé e exigir que seus projetos sejam aprovados. Na última semana, o parlamentar ameaçou entrar na Justiça para garantir que a proposta do Escola sem Partido seja analisada no Plenário da Assembleia Legislativa do Paraná ainda neste ano, mesmo que isso passe por cima do processo legislativo previamente estabelecido. Das urnas, afinal, sustenta o deputado, saiu o grito de que esse tipo de proposta é urgente e tem respaldo do eleitorado.
A situação dos derrotados é mais complicada. A derrota começa quando termina a contagem de votos, mas demora para acabar. Aqui no Paraná, há dois exemplos que mostram claramente o poder que a eleição de 2018 teve para derrubar políticos tradicionais do estado e abrir caminho para novas lideranças.
Após perder a disputa pela reeleição ao Senado Federal, o senador Roberto Requião não deve se reeleger presidente do MDB no Paraná. Isso se deve, em boa medida, ao fato de o MDB ter saído menor das eleições deste ano. Bem menor. Em 2014, o partido elegeu quatro deputados federais e oito estaduais. Em 2018, foram somente dois representantes para a Câmara Federal e outros dois para a Assembleia Legislativa. A consequência disso foi que os emedebistas começaram a questionar as escolhas e estratégias do partido. No caso específico de Requião, a principal crítica foi ao alinhamento do MDB paranaense ao Partido dos Trabalhadores e ao ex-presidente Lula.
A expectativa é que nas eleições internas convocadas para o próximo dia 15, Requião seja substituído por João Arruda, seu sobrinho. A renovação certamente não é uma ruptura, mas Arruda não pode ser visto como simples continuidade de Requião. Há diferenças, especialmente em relação à proximidade com o PT. Como deputado federal, Arruda esteve mais próximo ao MDB nacional, que sustentou o governo Temer, que ao MDB do Paraná, que na figura de Requião fez ferrenha oposição ao governo.
A situação do ex-governador Beto Richa (PSDB) é ainda mais complicada que a de Requião. Se no MDB os descontentes ainda falam em oxigenação sem perder a tradição do partido, no PSDB os tucanos mais jovens articulam um grupo para derrotar nas eleições internas os aliados de Richa, atual presidente do partido.
Um dos membros desse grupo que envolve jovens parlamentares e lideranças internas do partido recorre justamente ao recado das urnas para explicar as pretensões do movimento que se insurge.
“O recado foi muito claro. O PSDB encolheu por ter posicionamentos errados e por estar envolvido em corrupção. Queremos mostrar que dentro do partido no Paraná tem pessoas novas, com boas intenções”, explica.
Após as derrotas de Richa e Requião nas urnas percebemos que o Paraná passaria pelo incomum momento de não ter nenhum dos dois em cargos eletivos. Com os efeitos retardados dessa derrota, pode ser que também não tenhamos nenhuma das duas principais lideranças políticas do estado nos últimos em postos relevantes dentro de seus próprios partidos.
As urnas podem ter enfraquecido dois dos caciquismos partidários mais fortes do estado: o de Richa no PSDB e o de Requião no MDB.
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