Gerir as duas principais empresas estatais do Paraná, Copel e Sanepar, é um difícil equilíbrio de interesses muitas vezes conflitantes: a sociedade quer tarifas de água e luz a preços módicos e serviços eficientes; o governo utiliza as companhias para engordar o caixa com o repasse de dividendos, fazer investimentos que o Executivo não dá conta e, claro, empregar aliados; e o mercado exige previsibilidade nos reajustes e respeito aos contratos e à regulação.
O período eleitoral é um bom momento para debater esses interesses, sopesá-los publicamente e apontar qual o rumo que cada candidato dará às valiosas estatais paranaenses. O problema é que com o esvaziamento ideológico das campanhas e a ausência de um projeto maior de estado, os candidatos têm apresentado ações que de tão pontuais ou de tão genéricas não dão clareza sobre qual o plano maior para as empresas e qual papel elas terão no desenvolvimento do Paraná.
Com essa “ideologia flex”, como definiu nesta Gazeta o jornalista Rogério Galindo, as propostas vagam ao sabor dos ventos soprados pela opinião pública e dificultam ao eleitor saber quais as consequências do voto em cada candidato ao governo.
O plano de governo de Ratinho Junior (PSD), líder disparado nas pesquisas* de intenção de votos, tem tópicos específicos para as empresas. Sobre a Copel, as promessas são de manter o estado do Paraná como principal acionista da Copel; concentrar investimentos no setor elétrico, preferencialmente no Paraná; investir na distribuição rural de energia e fomentar startups na área de energia.
Para a Sanepar, a única proposta com substância é priorizar investimentos nas regiões com os menores índices de qualidade de vida; o resto são generalidades em jargões empresariais.
No caso de Ratinho, que tem um sólido programa de governo na comparação com os adversários, as incongruências estão muito mais nas ações recentes como parlamentar que nas promessas registradas no Tribunal Regional Eleitoral. Em junho deste ano, ao mesmo tempo em que conduzia conversas com investidores garantindo respeitar a política de reajustes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Ratinho Junior apresentou um requerimento na Assembleia Legislativa pedindo a suspensão do reajuste médio de 16% na tarifa da Copel.
A ação de Ratinho preocupou agentes do mercado, que há tempos se queixam de excesso de intervenção do estado na gestão das empresas.
Um exemplo disso foi quando em abril de 2017 o governo, sob o comando de Beto Richa (PSDB), bancou o aumento do repasse de dividendos da companhia de 25% para 50% do lucro obtido no exercício anterior. O aumento havia sido proposto pelo governo e barrado pelo Conselho de Administração da empresa, que queria manter a distribuição em 25%, para honrar o cronograma de investimentos. No entanto, na Assembleia Geral da empresa, o governo contrariou a recomendação da diretoria e mobilizou seus conselheiros para aprovar o aumento dos repasses. A medida engordou o caixa do estado em época de vacas magras. A divergência da diretoria da estatal com o governo culminou com a saída de Luiz Eduardo Sebastiani, então diretor de Finanças e de Relações com Investidores da Copel.
DESEJOS PARA O PARANÁ: Planejamento de longo prazo
Há, além disso, a vergonhosa tradição dos nossos governadores de insistirem em nomear aliados políticos com qualificação duvidosa para os principais cargos das grandes estatais do estado. No governo Richa, a CVM, que regula as empresas de capital aberto no Brasil, precisou impedir que essas nomeações acontecessem. Na gestão de Cida Borghetti (PP) a prática continuou: a gerência geral da região Noroeste da Sanepar ficou para o presidente do MDB de Maringá e a campanha da governadora está sendo acusada de pressionar comissionados da Sanepar em Ponta Grossa a participar de eventos de campanha.
Nas propostas de Cida para as estatais estão investir na disponibilidade energética para que a Copel possa investir com segurança e utilizar os serviços da Copel Telecom para fornecer acesso à internet em áreas mais pobres. Para a Sanepar, a genérica meta de ampliar as parcerias da com os municípios paranaenses.
Dar sinais confusos, que variam de acordo com as circunstâncias, interfere não só na visão do mercado financeiro, mas também dos cidadãos e do setor produtivo, que não sabem exatamente o que esperar das estatais. Se em determinado momento podem não pagar um reajuste por interferência do governo, alguns anos depois pagarão de uma vez todos os aumentos acumulados, rompendo qualquer possibilidade de previsibilidade.
*Pesquisa realizada pelo Ibope de 1º a 4/set/2018 com 1204 entrevistados (Paraná). Contratada por: REDE PARANAENSE DE COMUNICAÇÃO. Registro no TRE: PR-04985/2018. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Confiança: 95%. Pelos dados da pesquisa, Ratinho Junior (PSD) tem 42% das intenções de voto, Cida Borghetti (Progressista) 13%, João Arruda (MDB) 6%,Doutor Rosinha (PT) 4%, Ogier Buchi (PSL) 1%, Professor Piva (PSOL) 1%, Professor Ivan Bernardo (PSTU) 1%, Priscila Ebara (PCO) 1%, Jorge Bernardi (Rede) 1%, Geonísio Marinho (PRTB) 0%. Brancos/nulos 16% e Não sabe 14%.
A primeira pesquisa do Ibope foi realizada de 16/ago a 22/ago/2018 com 1008 entrevistados (Paraná). Contratada por: REDE PARANAENSE DE COMUNICAÇÃO. Registro no TSE: PR-04869/2018. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Confiança: 95%.
OBS: A pesquisa está sendo impugnada por duas representações eleitorais, ajuizadas por interessados diversos, segundo os quais a pesquisa não atendeu aos requisitos previstos na Resolução n. 23.459/TSE, especialmente quanto à insuficiente estratificação para o nível econômico dos eleitores respondentes. *Não sabe / Não respondeu
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